{"title":"“Ota bruxa?”","authors":"Andressa Toni","doi":"10.20396/cel.v64i00.8668890","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Esta pesquisa revisita a aquisição das sílabas de ataque ramificado CCV (Consoante1+Consoante2+Vogal) em Português Brasileiro, investigando como o molde silábico é categorizado ao longo do desenvolvimento fonológico infantil e por que este desenvolvimento ocorre da forma que ocorre. Para caracterizar o alvo sendo adquirido, um estudo de corpus descreve a variação CCV→CV presente na fala de adultos paulistanos (como em ‘outro’→[ʹo.tʊ]) utilizando dados do Projeto SP2010 (MENDES, 2013). Já para caracterizar o desenvolvimento infantil, conduzimos um experimento de produção e compreensão de fala (mispronunciation detection task). Como arcabouço teórico, o Princípio da Tolerância (YANG, 2016) modela a construção do contraste entre as estruturas CCV-CV, estabelecido com base no adensamento fonológico do Léxico (JUSCZYK, LUCE & LUCE, 1994). O estudo constata que, ao adquirir CCV, a criança adquire uma sílaba fonologicamente pouco densa, foneticamente variável e suscetível a processos de neutralização do contraste CCV-CV. Defendemos que tais características do input levam a uma incorreta generalização de CCV como opcional, tomando CV como uma forma alternante – tanto em contextos átonos (o que é encontrado na fala adulta) como em contextos tônicos (que não ocorre na fala adulta paulistana). A produtividade desta hipergeneralização é capturada pelo Princípio da Tolerância e decorre da alta concentração de CCVs reduzíveis no vocabulário inicial da criança, sendo superada com o crescimento lexical. A hipergeneralização da variação CCV~CV reflete-se no teste de detecção de erros apontando reconhecimento de CV→CCV (‘dente’→‘d[ɾ]ente’), mas não de CCV→CV (‘prato’→’pato’, ‘preto’→’peto’) por crianças que simplificam CCV em sua fala. 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摘要
本研究回顾了巴西葡萄牙语分支攻击音节CCV(辅音1+辅音2+元音)的习得,探讨了音节模在儿童音系发育过程中是如何分类的,以及为什么这种发展会发生。把目标作为语料库的研究描述了变化,以及水疗中心→简历在我是成年人的圣保罗(如‘其他’→〔ʹo.tʊ)使用SP2010设计数据(门德斯,2013)。为了描述儿童的发展特征,我们进行了一个语音产生和理解实验(错误发音检测任务)。作为理论框架,容忍原则(YANG, 2016)建立在词汇音位强化的基础上,模拟了CCV-CV结构之间对比的构建(JUSCZYK, LUCE & LUCE, 1994)。研究发现,当习得CCV时,儿童习得的音节音位密度较低,音位变化较大,易受CCV-CV对比中和过程的影响。我们认为,这些输入特征导致了CCV作为可选语言的错误概括,将CV作为一种交替形式——无论是在非语调语境中(在成人语言中发现),还是在音调语境中(在sao保罗的成人语言中不发生)。这种过度泛化的生产力被容忍原则所捕获,这是由于儿童最初词汇中可减少的CCVs的高度集中,随着词汇的增长而被克服。hipergeneralização改变温泉~简历反映在朝向错误的检测识别简历→svc(‘牙’→‘d(ɾ深’),但不是spa→简历(‘盘’→鸭’’,‘黑’→’’)的儿童简化svc的说。测试中CCV-CV邻居的最高检测率(“dish”→“duck”比“black”→“peto”更容易被检测到)表明对比的构建是语音发展的一个关键点。因此,我们认为CCV习得经历了一个不正确中和音节结构对比的时刻。
Esta pesquisa revisita a aquisição das sílabas de ataque ramificado CCV (Consoante1+Consoante2+Vogal) em Português Brasileiro, investigando como o molde silábico é categorizado ao longo do desenvolvimento fonológico infantil e por que este desenvolvimento ocorre da forma que ocorre. Para caracterizar o alvo sendo adquirido, um estudo de corpus descreve a variação CCV→CV presente na fala de adultos paulistanos (como em ‘outro’→[ʹo.tʊ]) utilizando dados do Projeto SP2010 (MENDES, 2013). Já para caracterizar o desenvolvimento infantil, conduzimos um experimento de produção e compreensão de fala (mispronunciation detection task). Como arcabouço teórico, o Princípio da Tolerância (YANG, 2016) modela a construção do contraste entre as estruturas CCV-CV, estabelecido com base no adensamento fonológico do Léxico (JUSCZYK, LUCE & LUCE, 1994). O estudo constata que, ao adquirir CCV, a criança adquire uma sílaba fonologicamente pouco densa, foneticamente variável e suscetível a processos de neutralização do contraste CCV-CV. Defendemos que tais características do input levam a uma incorreta generalização de CCV como opcional, tomando CV como uma forma alternante – tanto em contextos átonos (o que é encontrado na fala adulta) como em contextos tônicos (que não ocorre na fala adulta paulistana). A produtividade desta hipergeneralização é capturada pelo Princípio da Tolerância e decorre da alta concentração de CCVs reduzíveis no vocabulário inicial da criança, sendo superada com o crescimento lexical. A hipergeneralização da variação CCV~CV reflete-se no teste de detecção de erros apontando reconhecimento de CV→CCV (‘dente’→‘d[ɾ]ente’), mas não de CCV→CV (‘prato’→’pato’, ‘preto’→’peto’) por crianças que simplificam CCV em sua fala. A maior taxa de detecção de vizinhos CCV-CV no teste (‘prato’→‘pato’ é mais detectado que ‘preto’→‘peto’) aponta a construção do contraste como um ponto-chave no desenvolvimento fonológico. Com isso, argumentamos que a aquisição CCV passa por um momento de incorreta neutralização do contraste estrutural da sílaba.