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Heidegger nomeia nossa época como a “Era da Técnica” (Heidegger, 1954/2008b, p. 24) e a caracteriza como unidade de tempo em que predominam os gestos de dominação e de controle por parte do ser humano em relação às coisas e à natureza, em uma tentativa de eliminação de tudo o que é retração ou mistério. Há uma busca desenfreada por controle, bem como pela capacidade de previsão e manipulação de tudo o que está ao redor. A exploração daquilo que nos cerca – seja extraindo, transformando, estocando, distribuindo ou reprocessando – é a tônica fundamental da Era da Técnica (Heidegger, 1954/2008b). Os seres humanos, nessa tônica, passam a ser os senhores do universo. Entretanto, o que não se percebe imediatamente é que, ao se forjar como o controlador, ele passa instantaneamente a ser controlado pela mesma técnica. Assim, ele participa sem ter condições de decidir o seu início ou fim. A clínica está permeada pela atmosfera da técnica, e nosso desafio é sustentar, por meio da ação clínica, um espaço dissonante. Palavras com aura técnica, como produtividade, assertividade, performance, desempenho e comprobabilidade, deveriam estar ressalvadas ao âmbito clínico. Contudo, como podemos fazer isso, uma vez que também somos filhos e filhas da técnica e estamos imersos no mesmo horizonte histórico? 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O PERIGO DO EXCESSO DE RACIONALIZAÇÃO NA PRÁXIS CLÍNICA: UM OLHAR FENOMENOLÓGICO-HERMENÊUTICO
O objetivo deste trabalho é discutir o predomínio vigente do excesso de racionalização e debater o seu impacto na prática da psicologia clínica. Por meio de uma aproximação com o pensamento de Martin Heidegger – chamado aqui de fenomenologia hermenêutica –, pretende-se explicitar como estamos expostos, enquanto profissionais da área da psicologia, à infiltração do predomínio da racionalidade em nossa prática e, a partir desta visão, pensar em caminhos alternativos. O predomínio da racionalização, que cresce vertiginosamente em tempos técnicos, tem implicações graves para a atuação clínica. O modo predominante de dispor o mundo a partir do cálculo impacta o modo como nos compreendemos e nos colocamos frente aos acontecimentos da vida. Heidegger nomeia nossa época como a “Era da Técnica” (Heidegger, 1954/2008b, p. 24) e a caracteriza como unidade de tempo em que predominam os gestos de dominação e de controle por parte do ser humano em relação às coisas e à natureza, em uma tentativa de eliminação de tudo o que é retração ou mistério. Há uma busca desenfreada por controle, bem como pela capacidade de previsão e manipulação de tudo o que está ao redor. A exploração daquilo que nos cerca – seja extraindo, transformando, estocando, distribuindo ou reprocessando – é a tônica fundamental da Era da Técnica (Heidegger, 1954/2008b). Os seres humanos, nessa tônica, passam a ser os senhores do universo. Entretanto, o que não se percebe imediatamente é que, ao se forjar como o controlador, ele passa instantaneamente a ser controlado pela mesma técnica. Assim, ele participa sem ter condições de decidir o seu início ou fim. A clínica está permeada pela atmosfera da técnica, e nosso desafio é sustentar, por meio da ação clínica, um espaço dissonante. Palavras com aura técnica, como produtividade, assertividade, performance, desempenho e comprobabilidade, deveriam estar ressalvadas ao âmbito clínico. Contudo, como podemos fazer isso, uma vez que também somos filhos e filhas da técnica e estamos imersos no mesmo horizonte histórico? É muito comum, na clínica, os profissionais receberem pacientes que chegam montados em seus raciocínios, armados até os dentes de argumentos lógicos sobre si
期刊介绍:
Publicar textos originais sobre temáticas que privilegiem pesquisas de natureza predominantemente qualitativas, na área das Ciências Humanas e da Saúde, tendo em vista a contribuição para o desenvolvimento da Psicologia numa perspectiva crítica, transformadora e interdisciplinar, e que busquem aprofundamento teórico.