ENTRE LÁGRIMAS E VOTOS, VITÓRIA CONTRA O “IMPÉRIO INFERNAL”

A figura e as devoções marianas são, no Catolicismo, absolutamente centrais. Da mãe judia à rainha dos céus e da terra, a Virgem Maria é um caleidoscópio simbólico. No entanto, em determinados momentos históricos, sua imagem assume contornos políticos extremados. Há uma virgem libertadora, uma virgem carismática e popular ou uma virgem politicamente reacionária. Nesse sentido, se guia a questão deste artigo: de que modo uma certa devoção mariana – Nossa Senhora das Lágrimas - foi insistentemente mobilizada pelos carismáticos católicos reacionários durante as eleições presidenciais de 2022 para legitimarem sua oposição a uma das candidaturas e se posicionarem no espectro político? Como hipótese qualitativa, argumentamos que há uma afinidade eletiva entre as afeições sociais de frustração e ressentimento vividas entre os carismáticos e a imagem da virgem lacrimosa, mas soberana, que comandaria, em sua crença, os “exércitos” a “esmagar a serpente do grande inimigo” imaginário, ou seja, o “comunismo” cujo representante seria o “petismo” ou a “esquerda”. Como metodologia, elegemos a abordagem qualitativa, com revisão bibliográfica parcial e análise de imagens e textos que circularam entre políticos e líderes carismáticos em suas redes sociais.