{"title":"新民主拓扑:导论与谱系","authors":"Breno Fernandes, Elizabeth Cardoso","doi":"10.1590/2596-304x20232549bfec","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Resumo Este artigo introduz, no campo dos estudos literários, o tópos da neocracia. Com base na definição de tópos de Carl Meiner se busca, em primeiro lugar, definir o que é uma neocracia: construção ficcional de sociedades ou comunidades de crianças que se ordenam, se mantêm e se preservam sem a tutela de adultos, às vezes sem a colaboração dos adultos e outras vezes à revelia dos adultos. Em seguida, é proposta uma genealogia que aponta o contexto no qual o tópos parece ter surgido, e são comentados alguns romances que tanto servem de marcos iniciais de sua manifestação, já na passagem do século XIX para o século XX, quanto demonstram a presença do tópos no campo literário do século XXI. Ademais, são feitas reflexões acerca de como ocorreu o processo histórico que construiu as ideias ou as idealizações de adulto e de criança que prevalecem em nosso tempo - ambos os conceitos entendidos como identidades, mais do que como condições psicobiológicas do corpo. Argumenta-se que uma das funções ou intenções do tópos da neocracia é criticar tais idealizações, sobretudo no que diz respeito à representação da criança como ser humano marcado por faltas e por incapacidades que fariam dela inapta para viver em meio aos adultos e para tomar parte nas decisões que dizem respeito ao bem-estar coletivo. Portanto o tópos da neocracia se manifesta em textos fictícios, mas seus efeitos ultrapassariam a ficção, pois, ao gerar novas representações da criança, poderiam ajudar a deslocar as crianças da vida real, do isolamento físico e da marginalidade política em que se encontram contemporaneamente.","PeriodicalId":33855,"journal":{"name":"Revista Brasileira de Literatura Comparada","volume":"96 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-08-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"O tópos da neocracia: introdução & genealogia\",\"authors\":\"Breno Fernandes, Elizabeth Cardoso\",\"doi\":\"10.1590/2596-304x20232549bfec\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Resumo Este artigo introduz, no campo dos estudos literários, o tópos da neocracia. Com base na definição de tópos de Carl Meiner se busca, em primeiro lugar, definir o que é uma neocracia: construção ficcional de sociedades ou comunidades de crianças que se ordenam, se mantêm e se preservam sem a tutela de adultos, às vezes sem a colaboração dos adultos e outras vezes à revelia dos adultos. Em seguida, é proposta uma genealogia que aponta o contexto no qual o tópos parece ter surgido, e são comentados alguns romances que tanto servem de marcos iniciais de sua manifestação, já na passagem do século XIX para o século XX, quanto demonstram a presença do tópos no campo literário do século XXI. Ademais, são feitas reflexões acerca de como ocorreu o processo histórico que construiu as ideias ou as idealizações de adulto e de criança que prevalecem em nosso tempo - ambos os conceitos entendidos como identidades, mais do que como condições psicobiológicas do corpo. Argumenta-se que uma das funções ou intenções do tópos da neocracia é criticar tais idealizações, sobretudo no que diz respeito à representação da criança como ser humano marcado por faltas e por incapacidades que fariam dela inapta para viver em meio aos adultos e para tomar parte nas decisões que dizem respeito ao bem-estar coletivo. Portanto o tópos da neocracia se manifesta em textos fictícios, mas seus efeitos ultrapassariam a ficção, pois, ao gerar novas representações da criança, poderiam ajudar a deslocar as crianças da vida real, do isolamento físico e da marginalidade política em que se encontram contemporaneamente.\",\"PeriodicalId\":33855,\"journal\":{\"name\":\"Revista Brasileira de Literatura Comparada\",\"volume\":\"96 1\",\"pages\":\"\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2023-08-01\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"Revista Brasileira de Literatura Comparada\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.1590/2596-304x20232549bfec\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Brasileira de Literatura Comparada","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.1590/2596-304x20232549bfec","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
Resumo Este artigo introduz, no campo dos estudos literários, o tópos da neocracia. Com base na definição de tópos de Carl Meiner se busca, em primeiro lugar, definir o que é uma neocracia: construção ficcional de sociedades ou comunidades de crianças que se ordenam, se mantêm e se preservam sem a tutela de adultos, às vezes sem a colaboração dos adultos e outras vezes à revelia dos adultos. Em seguida, é proposta uma genealogia que aponta o contexto no qual o tópos parece ter surgido, e são comentados alguns romances que tanto servem de marcos iniciais de sua manifestação, já na passagem do século XIX para o século XX, quanto demonstram a presença do tópos no campo literário do século XXI. Ademais, são feitas reflexões acerca de como ocorreu o processo histórico que construiu as ideias ou as idealizações de adulto e de criança que prevalecem em nosso tempo - ambos os conceitos entendidos como identidades, mais do que como condições psicobiológicas do corpo. Argumenta-se que uma das funções ou intenções do tópos da neocracia é criticar tais idealizações, sobretudo no que diz respeito à representação da criança como ser humano marcado por faltas e por incapacidades que fariam dela inapta para viver em meio aos adultos e para tomar parte nas decisões que dizem respeito ao bem-estar coletivo. Portanto o tópos da neocracia se manifesta em textos fictícios, mas seus efeitos ultrapassariam a ficção, pois, ao gerar novas representações da criança, poderiam ajudar a deslocar as crianças da vida real, do isolamento físico e da marginalidade política em que se encontram contemporaneamente.