Maria João Lobato, S. Martins, P. Gouveia, L. Moreira, C. Maia
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Estimativas recentes da CDC’s Autism and Developmental Disabilities Monitoring apontam para uma prevalência de 1:44 (2,3%) de PEA em crianças em idade escolar3. A transição para a idade adulta apresenta um conjunto de desafios para qualquer jovem, especialmente para aqueles com PEA. Aspetos como empregabilidade, relações sociais, autonomia e qualidade de vida têm piores resultados comparativamente com a população geral2,4. Múltiplos estudos mostraram ainda que não é incomum a existência de outras doenças mentais comórbidas, como depressão, ansiedade, perturbações da conduta ou perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Embora os serviços de saúde, educação e sociais para crianças com PEA estejam estabelecidos, os recursos para adultos são muito menos estruturados e possuem fragilidades3. Os serviços da infância cresceram devido ao reconhecimento da importância da intervenção precoce, que deriva das teorias do neurodesenvolvimento e da neuroplasticidade. Contudo, estudos recentes mostraram que os adultos possuem também capacidade de crescimento e desenvolvimento neural, pelo que a intervenção no adolescente e no adulto jovem é também de extrema importância e tem impacto positivo nos resultados. A manutenção dos cuidados na idade de transição, com o desenvolvimento de consultas especializadas de PEA na idade de transição, com colaboração dos serviços de Pedopsiquiatria e Psiquiatria, além de oferecer uma melhor qualidade de vida ao jovem com PEA, de melhorar o bem-estar emocional, sentimento de pertença, competência e integração, reveste-se de grande importância também a nível económico e social, uma vez que possibilita que estes tenham maior apoio, prossigam os estudos, tenham maior probabilidade de ser inseridos no mercado de trabalho, de serem parte ativa e integrante da sociedade e, assim, gerar maior receita e produzir menor despesa. 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A Criança Autista é um Adulto: E Agora? – Consulta de Perturbação do Espectro do Autismo na Idade de Transição
A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento que se caracteriza por um défice na comunicação e interação social, rigidez cognitiva, assim como pela presença de comportamentos repetitivos, restritos e estereotipados, características estas que podem ter um elevado impacto ao nível do funcionamento dos indivíduos ao longo da sua vida1. Em alguns casos, especialmente nos de alto funcionamento, o diagnóstico pode ser mais tardio, na adolescência ou na vida adulta, quando as exigências do meio, tanto a nível laboral como a nível social, se vão tornando progressivamente maiores2. Num estudo de prevalência realizado em Portugal nos anos 2000/2001 estimou-se uma prevalência de 1:1000 crianças1, no entanto, nos últimos anos, foi notória a incidência crescente das PEA. Estimativas recentes da CDC’s Autism and Developmental Disabilities Monitoring apontam para uma prevalência de 1:44 (2,3%) de PEA em crianças em idade escolar3. A transição para a idade adulta apresenta um conjunto de desafios para qualquer jovem, especialmente para aqueles com PEA. Aspetos como empregabilidade, relações sociais, autonomia e qualidade de vida têm piores resultados comparativamente com a população geral2,4. Múltiplos estudos mostraram ainda que não é incomum a existência de outras doenças mentais comórbidas, como depressão, ansiedade, perturbações da conduta ou perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Embora os serviços de saúde, educação e sociais para crianças com PEA estejam estabelecidos, os recursos para adultos são muito menos estruturados e possuem fragilidades3. Os serviços da infância cresceram devido ao reconhecimento da importância da intervenção precoce, que deriva das teorias do neurodesenvolvimento e da neuroplasticidade. Contudo, estudos recentes mostraram que os adultos possuem também capacidade de crescimento e desenvolvimento neural, pelo que a intervenção no adolescente e no adulto jovem é também de extrema importância e tem impacto positivo nos resultados. A manutenção dos cuidados na idade de transição, com o desenvolvimento de consultas especializadas de PEA na idade de transição, com colaboração dos serviços de Pedopsiquiatria e Psiquiatria, além de oferecer uma melhor qualidade de vida ao jovem com PEA, de melhorar o bem-estar emocional, sentimento de pertença, competência e integração, reveste-se de grande importância também a nível económico e social, uma vez que possibilita que estes tenham maior apoio, prossigam os estudos, tenham maior probabilidade de ser inseridos no mercado de trabalho, de serem parte ativa e integrante da sociedade e, assim, gerar maior receita e produzir menor despesa. Para além da consulta médica, a nível social, seria uma mais valia a criação e implementação de equipas de transição para a vida adulta na comunidade.