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Desse modo, a \"epistemologia do ponto de vista\" (HARDING, 1993) procura, portanto, revisar as bases teóricas e epistemológicas nas quais determinado pensamento científico surge e, em vista disso, promover a compreensão de que pontos antes considerados marginais também participam das normas da pesquisa. Nesse sentido, partindo do pressuposto de que a historiografia linguística \"tem como objeto a história dos processos de produção e de recepção das ideias linguísticas e das práticas delas decorrentes\" (ALTMAN, 2012), pretendemos com esta pesquisa exercitar a reflexão científica a partir de outro ponto de vista sobre um mesmo objeto. Com base numa perspectiva feminina, pretendemos não salientar somente os grandes destaques da disciplina no Brasil, mas recolocar as mulheres nesta história. Essa proposta está assentada na constatação de que a literatura disponível sobre o tema, com este recorte específico, ainda não é suficiente no Brasil e que, apesar da diversidade e do pluralismo serem fundamentais na ciência, esses mesmos valores não são frequentemente observados quando sua historiografia é desenvolvida., Nosso objetivo não é questionar a relevância das pesquisas que homens desenvolveram na Linguística brasileira, nem contrariar o trabalho historiográfico que foi desenvolvido até o momento. Nosso olhar científico está mais direcionado na constatação do \"aumento do interesse tanto em historiografia linguística, quanto nas condição das mulheres\" (FALK, 1999) e na possibilidade da construção de uma historiografia linguística feminina no Brasil, que reposicione as mulheres, pesquisadoras e professoras, que participaram, e ainda participam ativamente dos movimentos científicos e do desenvolvimento da disciplina no país.","PeriodicalId":31408,"journal":{"name":"Forum Linguistico","volume":"123 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-10-20","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Outro ponto de vista: uma historiografia linguística feminina no Brasil (1960-1990)\",\"authors\":\"Cristina Altman, Julia Lourenço\",\"doi\":\"10.5007/1984-8412.2023.e95056\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"A partir da perspectiva teórico-metodológica que considera o gênero, a concepção tradicional da neutralidade e da objetividade científicas são fortes pontos de inflexão, uma vez que estes valores têm também forte ancoragem em determinado ponto de vista. 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Outro ponto de vista: uma historiografia linguística feminina no Brasil (1960-1990)
A partir da perspectiva teórico-metodológica que considera o gênero, a concepção tradicional da neutralidade e da objetividade científicas são fortes pontos de inflexão, uma vez que estes valores têm também forte ancoragem em determinado ponto de vista. A imbricação entre feminismo e ciência promove, por exemplo, o maior interesse em construir saberes socialmente situados, isto é, aqueles que recorrem à história, as relações sociais e ao mundo para melhor compreender os fenômenos que analisam. Dessa ótica, as experiências e vivências dos sujeitos são mais fontes que obstáculos no processo científico e corroboram na promoção de uma perspectiva científica mais crítica. Desse modo, a "epistemologia do ponto de vista" (HARDING, 1993) procura, portanto, revisar as bases teóricas e epistemológicas nas quais determinado pensamento científico surge e, em vista disso, promover a compreensão de que pontos antes considerados marginais também participam das normas da pesquisa. Nesse sentido, partindo do pressuposto de que a historiografia linguística "tem como objeto a história dos processos de produção e de recepção das ideias linguísticas e das práticas delas decorrentes" (ALTMAN, 2012), pretendemos com esta pesquisa exercitar a reflexão científica a partir de outro ponto de vista sobre um mesmo objeto. Com base numa perspectiva feminina, pretendemos não salientar somente os grandes destaques da disciplina no Brasil, mas recolocar as mulheres nesta história. Essa proposta está assentada na constatação de que a literatura disponível sobre o tema, com este recorte específico, ainda não é suficiente no Brasil e que, apesar da diversidade e do pluralismo serem fundamentais na ciência, esses mesmos valores não são frequentemente observados quando sua historiografia é desenvolvida., Nosso objetivo não é questionar a relevância das pesquisas que homens desenvolveram na Linguística brasileira, nem contrariar o trabalho historiográfico que foi desenvolvido até o momento. Nosso olhar científico está mais direcionado na constatação do "aumento do interesse tanto em historiografia linguística, quanto nas condição das mulheres" (FALK, 1999) e na possibilidade da construção de uma historiografia linguística feminina no Brasil, que reposicione as mulheres, pesquisadoras e professoras, que participaram, e ainda participam ativamente dos movimentos científicos e do desenvolvimento da disciplina no país.