José Felipe Rodriguez de Sá, Sérgio Arthuro Mota-Rolim
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Esquimós canadenses, por exemplo, atribuem a PS a feitiços de xamãs, que impedem o movimento e provocam alucinações de uma presença maligna. Na tradição japonesa, ocorre devido a um espírito vingativo que sufoca seus inimigos ao dormir. Na cultura nigeriana, uma personagem demoníaca ataca durante o sono e provoca paralisia. Uma manifestação moderna da PS é o relato de \"abduções alienígenas\", experimentadas como incapacidade de se mover durante o despertar, associadas a alucinações visuais de alienígenas. Desta forma, podemos dizer que a PS é um exemplo significativo de como um fenômeno neurobiológico específico pode ser interpretado e moldado por diferentes contextos culturais. Para explorar ainda mais a etnopsicologia da PS, nesta breve revisão apresentamos a \"Pisadeira\", uma personagem do folclore brasileiro originada no Sudeste do país, mas também encontrada em outras regiões com nomes variados. A Pisadeira é descrita como uma mulher idosa, feia, magra e com unhas compridas, que espreita nos telhados à noite e pisa no peito dos que dormem de estômago cheio. Esta lenda é mencionada em muitos trabalhos antropológicos, no entanto, não encontramos uma referência abrangente sobre a Pisadeira sob a perspectiva da ciência do sono. Nesta breve revisão pretendemos preencher essa lacuna. Primeiro, analisamos os aspectos neuropsicológicos da PS, e depois apresentamos o relato popular da Pisadeira. 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A paralisia do sono no folclore brasileiro e em outras culturas
A paralisia do sono (PS) é um estado dissociativo que ocorre principalmente durante o despertar. A PS caracteriza-se por uma alteração das funções motoras, perceptivas, emocionais e cognitivas, como a incapacidade de realizar movimentos voluntários, alucinações visuais, delírios sobre uma presença assustadora, sensação de pressão no peito, falta de ar, e, em alguns casos, medo de morte iminente. A maioria das pessoas experimenta a PS raramente, e principalmente quando está dormindo em posição supina; no entanto, a PS é considerada uma doença (parasonia) quando recorrente e/ou associada à carga emocional intensa e negativa. Curiosamente, ao longo da história da civilização humana, diferentes povos interpretaram a PS sob uma visão sobrenatural ou mística. Esquimós canadenses, por exemplo, atribuem a PS a feitiços de xamãs, que impedem o movimento e provocam alucinações de uma presença maligna. Na tradição japonesa, ocorre devido a um espírito vingativo que sufoca seus inimigos ao dormir. Na cultura nigeriana, uma personagem demoníaca ataca durante o sono e provoca paralisia. Uma manifestação moderna da PS é o relato de "abduções alienígenas", experimentadas como incapacidade de se mover durante o despertar, associadas a alucinações visuais de alienígenas. Desta forma, podemos dizer que a PS é um exemplo significativo de como um fenômeno neurobiológico específico pode ser interpretado e moldado por diferentes contextos culturais. Para explorar ainda mais a etnopsicologia da PS, nesta breve revisão apresentamos a "Pisadeira", uma personagem do folclore brasileiro originada no Sudeste do país, mas também encontrada em outras regiões com nomes variados. A Pisadeira é descrita como uma mulher idosa, feia, magra e com unhas compridas, que espreita nos telhados à noite e pisa no peito dos que dormem de estômago cheio. Esta lenda é mencionada em muitos trabalhos antropológicos, no entanto, não encontramos uma referência abrangente sobre a Pisadeira sob a perspectiva da ciência do sono. Nesta breve revisão pretendemos preencher essa lacuna. Primeiro, analisamos os aspectos neuropsicológicos da PS, e depois apresentamos o relato popular da Pisadeira. Finalmente, resumimos as muitas manifestações históricas e artísticas da PS em diferentes culturas, enfatizando as semelhanças e diferenças com a Pisadeira.