“Mando dar essa terra porque pertence aos índios”

O presente artigo visa analisar as redes de aliança e de poder coloniais diretamente relacionadas aos Kiriri. Na segunda metade do século XVII, o processo de conquista e ocupação dos espaços coloniais tomava o rumo dos sertões, relacionado com a busca de minas de salitre, prata, ouro e criação de gado. Apresentado na documentação como expansão para “os caminhos de dentro”, tinha por finalidade a constituição de aldeamentos e a formação de alianças, com o intuito de garantir segurança no acesso comercial às rotas dos criadores de gado que seguiam da Bahia ao Piauí. As fontes utilizadas na escrita desse trabalho consistem em cartas ânuas, documentação administrativa publicada na coleção Documentos Históricos da Biblioteca Nacional, documentos do Arquivo Ultramarino e relatos de cronistas. Com base nesse conjunto documental é possível identificar as disputas entre os agentes coloniais na ocupação dos espaços. De um lado, encontramos religiosos encarregados da administração das aldeias e da disciplinaração das almas. Do outro lado, muitas vezes em atrito, nos deparamos com curraleiros, sesmeiros e administradores locais. Nesse jogo de querelas, evidenciam-se as estratégias de ocupação dos espaços e as próprias dinâmicas locais por meio das experiências de conquista das fronteiras.