Bioarqueologia dos Primeiros Habitantes do Brasil Central: saúde e estilo de vida na região de Lagoa Santa, Minas Gerais

Resumo: A região arqueológica de Lagoa Santa é conhecida internacionalmente pela grande quantidade de esqueletos humanos antigos escavados em grutas e abrigos sob rocha desde o século XIX. Todavia, até recentemente uma integração sólida entre dados arqueológicos e biologia esqueletal não tinham sido realizados na região. Neste trabalho, analisamos 195 esqueletos humanos de Lagoa Santa datados entre 10.000 e 7.000 anos AP, discutindo: i) saúde bucal e subsistência; ii) atividade física e tecnologia; iii) infecções, mobilidade e ocupação do território; e iv) estresse durante o crescimento e desenvolvimento, violência interpessoal e conflitos sociais. Os resultados mostraram uma população caçadora-coletora com subsistência fortemente baseada em vegetais, alta atividade física, pouca mobilidade e estresse fisiológico, infeccioso e social, a aproximando de padrões de saúde observados em populações agricultoras. Neste texto, enfatizamos o enorme potencial informativo da bioarqueologia na reconstrução de aspectos bioculturais de populações antigas.Abstract: The archaeological region of Lagoa Santa is internationally known for its large collection of ancient human skeletons excavated from caves and rock shelters since the 19th century. However, a solid integration between archaeological data and skeletal biology had not been carried out in the region to date. In this article, we analyze 195 human skeletons from Lagoa Santa dated between 10,000 and 7,000 years BP, discussing: i) oral health and subsistence; ii) physical activity and technology; iii) infections, mobility and occupational patters; and iv) stress during growth and development, interpersonal violence and social conflicts. The results showed a hunter-gatherer population with subsistence strongly based on plants, high physical activity, low mobility, and physiological, infectious, and social stress, approaching health patterns observed in agricultural populations. We emphasize here the enormous contribution of bioarchaeology in reconstructing biocultural aspects of ancient populations.  ‌