{"title":"阿根廷医用大麻动员的行动轨迹、知识和经验","authors":"María Cecilia Díaz","doi":"10.51359/2526-3781.2019.241943","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este ensaio apresenta um percurso realizado entre 2016 e 2017 junto a ativistas, cultivadores e usuários de cannabis na Argentina. Nesse período, a demanda pela regulamentação do acesso à cannabis para uso terapêutico ganhou visibilidade e o assunto foi objeto de discussões nos âmbitos legislativos municipais, estaduais e nacionais. Isso foi possibilitado graças à cooperação empreendidas pelas associações de ativistas canábicos e antiproibicionistas, que configuraram redes e circularam entre escritórios e locais de diferentes cidades. Nesses trânsitos, promoveram audiências, jornadas e seminários que reuniam seus próprios conhecimentos – produzidos enquanto cultivadores, especialistas, usuários e familiares de usuários – com aqueles que, mais recentemente, alguns cientistas e profissionais da saúde começavam a desenvolver. Desse modo, no início de 2017, o Congresso Nacional aprovou a lei 27.350, que regulamenta a investigação médica e científica para determinar o potencial terapêutico da planta.Como uma maneira de acompanhar esses acontecimentos, resolvemos mostrar as experiências dos ativistas que, a partir da cidade de Córdoba, abriram espaços de debate e impulsionaram ações que ecoaram em outros pontos do país. Dentre esses ativistas, centramo-nos em Brenda Chignoli e o Movimiento Nacional por la Normalización del Cannabis Manuel Belgrano – associação que ela criou em 2012 e coordenou até o seu falecimento em maio de 2019. Também consideramos o trabalho de outros grupos surgidos nessa cidade: a Asociación Edith Moreno Cogollos Córdoba, a primeira organização cannábica da Argentina, e a Comunidad Cordobesa de Intercambio de Genéticas.O conjunto de imagens apresentado aqui conta histórias diversas e convergentes que tiveram como centro a planta de cannabis e como contexto uma causa política focalizada no direito à saúde e ao próprio corpo. Isso se percebe na história de Brenda, que começou sua militância na luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV-Aids no início do século XXI e depois se centrou no uso terapêutico da cannabis. Esse caminho nos levou a aprofundar a trajetória de um dos seus companheiros de luta apelidado “Manso”, que cultivava a planta em uma localidade da serra cordobesa e a utilizava para diminuir os efeitos da terapia antirretroviral.De maneira geral, a etnografia traça o cultivo da vida dos ativistas através do cultivo de plantas, modos de falar, técnicas de assessoramento, formas de gerir, organizar(se) e comunicar conhecimentos empíricos sobre a cannabis e os seus cuidados. Como parte desses saberes, destacam-se os vinculados à realização de mobilizações na rua – como a Marcha Mundial da Maconha, um evento internacional que se celebra desde 1999 durante o mês de maio – e de reuniões para planejar e coordenar ações futuras. A descrição também considerou os processos de plantio e colheita e a produção de extratos que serviam para elaborar derivados e tratar distintas patologias. Um ponto fundamental na circulação desses objetos em Córdoba foi o momento em que a Justiça Federal devolveu os óleos de cannabis que haviam sido apreendidos pela polícia, após a irrupção do cultivo coletivo desenvolvido por Brenda e seu companheiro Sergio. Para esse momento, o Movimiento Nacional Manuel Belgrano tinha estendido o seu alcance no Norte do país. Ali, adicionou às suas fileiras as mães de usuários terapêuticos que demandavam não somente o acesso gratuito aos extratos de cannabis, mas também a possibilidade de cultivar as plantas de maneira individual e coletiva nos seus respectivos estados. Os ativismos canábicos e antiproibicionistas convergiram – não sem tensões – na luta pela cannabis medicinal. A trama de vínculos tecida por Brenda na sua mobilização apaixonada e incessante nos revela o acúmulo de desafios, esperanças e emoções envolvidos no movimento pela reforma das políticas de drogas na Argentina.","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"43 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2019-09-19","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Trajetórias de ativismo, conhecimentos e experiências de mobilização pela cannabis medicinal na Argentina\",\"authors\":\"María Cecilia Díaz\",\"doi\":\"10.51359/2526-3781.2019.241943\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Este ensaio apresenta um percurso realizado entre 2016 e 2017 junto a ativistas, cultivadores e usuários de cannabis na Argentina. Nesse período, a demanda pela regulamentação do acesso à cannabis para uso terapêutico ganhou visibilidade e o assunto foi objeto de discussões nos âmbitos legislativos municipais, estaduais e nacionais. Isso foi possibilitado graças à cooperação empreendidas pelas associações de ativistas canábicos e antiproibicionistas, que configuraram redes e circularam entre escritórios e locais de diferentes cidades. Nesses trânsitos, promoveram audiências, jornadas e seminários que reuniam seus próprios conhecimentos – produzidos enquanto cultivadores, especialistas, usuários e familiares de usuários – com aqueles que, mais recentemente, alguns cientistas e profissionais da saúde começavam a desenvolver. Desse modo, no início de 2017, o Congresso Nacional aprovou a lei 27.350, que regulamenta a investigação médica e científica para determinar o potencial terapêutico da planta.Como uma maneira de acompanhar esses acontecimentos, resolvemos mostrar as experiências dos ativistas que, a partir da cidade de Córdoba, abriram espaços de debate e impulsionaram ações que ecoaram em outros pontos do país. Dentre esses ativistas, centramo-nos em Brenda Chignoli e o Movimiento Nacional por la Normalización del Cannabis Manuel Belgrano – associação que ela criou em 2012 e coordenou até o seu falecimento em maio de 2019. Também consideramos o trabalho de outros grupos surgidos nessa cidade: a Asociación Edith Moreno Cogollos Córdoba, a primeira organização cannábica da Argentina, e a Comunidad Cordobesa de Intercambio de Genéticas.O conjunto de imagens apresentado aqui conta histórias diversas e convergentes que tiveram como centro a planta de cannabis e como contexto uma causa política focalizada no direito à saúde e ao próprio corpo. Isso se percebe na história de Brenda, que começou sua militância na luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV-Aids no início do século XXI e depois se centrou no uso terapêutico da cannabis. Esse caminho nos levou a aprofundar a trajetória de um dos seus companheiros de luta apelidado “Manso”, que cultivava a planta em uma localidade da serra cordobesa e a utilizava para diminuir os efeitos da terapia antirretroviral.De maneira geral, a etnografia traça o cultivo da vida dos ativistas através do cultivo de plantas, modos de falar, técnicas de assessoramento, formas de gerir, organizar(se) e comunicar conhecimentos empíricos sobre a cannabis e os seus cuidados. Como parte desses saberes, destacam-se os vinculados à realização de mobilizações na rua – como a Marcha Mundial da Maconha, um evento internacional que se celebra desde 1999 durante o mês de maio – e de reuniões para planejar e coordenar ações futuras. A descrição também considerou os processos de plantio e colheita e a produção de extratos que serviam para elaborar derivados e tratar distintas patologias. Um ponto fundamental na circulação desses objetos em Córdoba foi o momento em que a Justiça Federal devolveu os óleos de cannabis que haviam sido apreendidos pela polícia, após a irrupção do cultivo coletivo desenvolvido por Brenda e seu companheiro Sergio. Para esse momento, o Movimiento Nacional Manuel Belgrano tinha estendido o seu alcance no Norte do país. Ali, adicionou às suas fileiras as mães de usuários terapêuticos que demandavam não somente o acesso gratuito aos extratos de cannabis, mas também a possibilidade de cultivar as plantas de maneira individual e coletiva nos seus respectivos estados. Os ativismos canábicos e antiproibicionistas convergiram – não sem tensões – na luta pela cannabis medicinal. A trama de vínculos tecida por Brenda na sua mobilização apaixonada e incessante nos revela o acúmulo de desafios, esperanças e emoções envolvidos no movimento pela reforma das políticas de drogas na Argentina.\",\"PeriodicalId\":282576,\"journal\":{\"name\":\"AntHropológicas Visual\",\"volume\":\"43 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2019-09-19\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"AntHropológicas Visual\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2019.241943\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"AntHropológicas Visual","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2019.241943","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
引用次数: 0
摘要
本文介绍了2016年至2017年期间阿根廷大麻活动人士、种植者和使用者的旅程。在此期间,管制获得用于治疗的大麻的需求得到了关注,这一问题已成为市、州和国家立法一级讨论的主题。这多亏了大麻积极分子和反禁酒主义者协会的合作,他们建立了网络,并在不同城市的办公室和场所之间流通。在这些过渡中,他们促进了听证会、会议和研讨会,将他们自己作为种植者、专家、使用者和使用者的亲属所产生的知识与一些科学家和保健专业人员最近开始发展的知识结合起来。因此,2017年初,国会通过了第27.350号法律,规范了确定该植物治疗潜力的医学和科学研究。作为跟踪这些事件的一种方式,我们决定展示来自cordoba市的活动人士的经验,他们打开了辩论的空间,并推动了在该国其他地方产生共鸣的行动。在这些活动人士中,我们关注的是布伦达·奇格诺利(Brenda Chignoli)和曼纽尔·贝尔格拉诺(Manuel Belgrano)大麻正常化全国运动(national movement for la normalization del Cannabis Manuel Belgrano)——她于2012年创建了这个协会,并一直协调到2019年5月去世。我们还考虑了在这座城市出现的其他组织的工作:asociacion Edith Moreno Cogollos cordoba,阿根廷第一个大麻组织,以及科尔多瓦基因交换社区。这里展示的一组图像讲述了以大麻植物为中心的不同和趋同的故事,以及以健康权和身体本身为重点的政治事业的背景。这可以从布伦达的故事中看出,她在21世纪初开始为艾滋病毒/艾滋病患者的权利而斗争,然后专注于大麻的治疗使用。这条路让我们深入了解了他的一位战斗伙伴“Manso”的故事,他在科尔多瓦山脉的一个地方种植了这种植物,并用它来减少抗逆转录病毒治疗的效果。总的来说,人种学通过种植植物、说话方式、咨询技术、管理、组织和交流关于大麻及其护理的经验知识的方法来追溯积极分子的生活培养。作为这一知识的一部分,我们强调与街头动员有关的活动,如世界大麻游行,这是自1999年以来在5月份举行的一项国际活动,以及计划和协调未来行动的会议。该描述还考虑了种植和收获的过程,以及用于开发衍生物和治疗不同疾病的提取物的生产。这些物品在cordoba上流通的一个关键点是,联邦法院归还了警察没收的大麻油,这些大麻油是在布伦达和她的同伴塞尔吉奥开发的集体种植项目闯入后被没收的。到那时,曼努埃尔·贝尔格拉诺民族运动已经将其范围扩大到该国北部。在那里,她加入了治疗使用者的母亲的行列,她们不仅要求免费获得大麻提取物,而且还要求在各自的州单独和集体种植植物的可能性。在争取医用大麻的斗争中,大麻和反禁酒主义活动人士并非没有紧张关系。布伦达在充满激情和不断的动员中编织的联系网络向我们揭示了阿根廷毒品政策改革运动所涉及的挑战、希望和情感的积累。
Trajetórias de ativismo, conhecimentos e experiências de mobilização pela cannabis medicinal na Argentina
Este ensaio apresenta um percurso realizado entre 2016 e 2017 junto a ativistas, cultivadores e usuários de cannabis na Argentina. Nesse período, a demanda pela regulamentação do acesso à cannabis para uso terapêutico ganhou visibilidade e o assunto foi objeto de discussões nos âmbitos legislativos municipais, estaduais e nacionais. Isso foi possibilitado graças à cooperação empreendidas pelas associações de ativistas canábicos e antiproibicionistas, que configuraram redes e circularam entre escritórios e locais de diferentes cidades. Nesses trânsitos, promoveram audiências, jornadas e seminários que reuniam seus próprios conhecimentos – produzidos enquanto cultivadores, especialistas, usuários e familiares de usuários – com aqueles que, mais recentemente, alguns cientistas e profissionais da saúde começavam a desenvolver. Desse modo, no início de 2017, o Congresso Nacional aprovou a lei 27.350, que regulamenta a investigação médica e científica para determinar o potencial terapêutico da planta.Como uma maneira de acompanhar esses acontecimentos, resolvemos mostrar as experiências dos ativistas que, a partir da cidade de Córdoba, abriram espaços de debate e impulsionaram ações que ecoaram em outros pontos do país. Dentre esses ativistas, centramo-nos em Brenda Chignoli e o Movimiento Nacional por la Normalización del Cannabis Manuel Belgrano – associação que ela criou em 2012 e coordenou até o seu falecimento em maio de 2019. Também consideramos o trabalho de outros grupos surgidos nessa cidade: a Asociación Edith Moreno Cogollos Córdoba, a primeira organização cannábica da Argentina, e a Comunidad Cordobesa de Intercambio de Genéticas.O conjunto de imagens apresentado aqui conta histórias diversas e convergentes que tiveram como centro a planta de cannabis e como contexto uma causa política focalizada no direito à saúde e ao próprio corpo. Isso se percebe na história de Brenda, que começou sua militância na luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV-Aids no início do século XXI e depois se centrou no uso terapêutico da cannabis. Esse caminho nos levou a aprofundar a trajetória de um dos seus companheiros de luta apelidado “Manso”, que cultivava a planta em uma localidade da serra cordobesa e a utilizava para diminuir os efeitos da terapia antirretroviral.De maneira geral, a etnografia traça o cultivo da vida dos ativistas através do cultivo de plantas, modos de falar, técnicas de assessoramento, formas de gerir, organizar(se) e comunicar conhecimentos empíricos sobre a cannabis e os seus cuidados. Como parte desses saberes, destacam-se os vinculados à realização de mobilizações na rua – como a Marcha Mundial da Maconha, um evento internacional que se celebra desde 1999 durante o mês de maio – e de reuniões para planejar e coordenar ações futuras. A descrição também considerou os processos de plantio e colheita e a produção de extratos que serviam para elaborar derivados e tratar distintas patologias. Um ponto fundamental na circulação desses objetos em Córdoba foi o momento em que a Justiça Federal devolveu os óleos de cannabis que haviam sido apreendidos pela polícia, após a irrupção do cultivo coletivo desenvolvido por Brenda e seu companheiro Sergio. Para esse momento, o Movimiento Nacional Manuel Belgrano tinha estendido o seu alcance no Norte do país. Ali, adicionou às suas fileiras as mães de usuários terapêuticos que demandavam não somente o acesso gratuito aos extratos de cannabis, mas também a possibilidade de cultivar as plantas de maneira individual e coletiva nos seus respectivos estados. Os ativismos canábicos e antiproibicionistas convergiram – não sem tensões – na luta pela cannabis medicinal. A trama de vínculos tecida por Brenda na sua mobilização apaixonada e incessante nos revela o acúmulo de desafios, esperanças e emoções envolvidos no movimento pela reforma das políticas de drogas na Argentina.