Regiane Augusto de Mattos, Luis Gustavo Costa Araújo, Aiúba Ali Aiúba
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Destacamos os aspectos comuns que dizem respeito à ocupação desses espaços desde o início do século XIX por escravizados fugidos ou libertos, conhecidas como quilombos (Serra dos Pretos Forros) ou mussitos (Ilha de Moçambique), e que são fruto do processo de territorialização, percebido também em outras partes da América Latina, como os cumbes, na Venezuela e os palanques, na Colômbia; bem como a arquitetura das moradias que remontam às técnicas africanas com o uso da terra, madeira e cobertura com fibras vegetais. Quanto às representações sobre as populações e suas manifestações culturais analisamos alguns casos de perseguição e depreciação das práticas religiosas e culturais, como os cultos de matriz africana e os chamados batuques, resultado da produção de imaginários culturais ligados também ao processo de territorialização colonial. O segundo eixo apresenta uma reflexão sobre um processo marcado por ações sanitaristas e por discursos higienistas diante das epidemias que assolaram esses espaços entre meados do século XIX e o início do XX, e que foram atrelados a projetos “modernizadores” das cidades. Analisamos nessa seção como a febre amarela no Rio de Janeiro e a peste bubônica na Ilha de Moçambique, bem como as políticas de saúde pública atreladas a uma ideologia racial, impactaram as populações da Boca do Mato e da Cidade Macuti. Quanto ao restante da América Latina, uma conexão possível é feita com alastramento da chamada \"febre do temperamento\", do Brasil em direção a Montevidéu e Buenos Aires, em meados da década de 1850. 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Conexões entre a Boca do Mato e a Cidade Macuti: territorialização, discurso higienista e marginalização
Partindo de um passado conectado por experiências sociais compartilhadas de colonização e escravização na América Latina e em Moçambique, o artigo tem por objetivo refletir sobre processos históricos enfrentados por duas comunidades especificamente – a Boca do Mato no Rio de Janeiro e a Cidade Macuti, na Ilha de Moçambique. Destacamos os aspectos comuns que dizem respeito à ocupação desses espaços desde o início do século XIX por escravizados fugidos ou libertos, conhecidas como quilombos (Serra dos Pretos Forros) ou mussitos (Ilha de Moçambique), e que são fruto do processo de territorialização, percebido também em outras partes da América Latina, como os cumbes, na Venezuela e os palanques, na Colômbia; bem como a arquitetura das moradias que remontam às técnicas africanas com o uso da terra, madeira e cobertura com fibras vegetais. Quanto às representações sobre as populações e suas manifestações culturais analisamos alguns casos de perseguição e depreciação das práticas religiosas e culturais, como os cultos de matriz africana e os chamados batuques, resultado da produção de imaginários culturais ligados também ao processo de territorialização colonial. O segundo eixo apresenta uma reflexão sobre um processo marcado por ações sanitaristas e por discursos higienistas diante das epidemias que assolaram esses espaços entre meados do século XIX e o início do XX, e que foram atrelados a projetos “modernizadores” das cidades. Analisamos nessa seção como a febre amarela no Rio de Janeiro e a peste bubônica na Ilha de Moçambique, bem como as políticas de saúde pública atreladas a uma ideologia racial, impactaram as populações da Boca do Mato e da Cidade Macuti. Quanto ao restante da América Latina, uma conexão possível é feita com alastramento da chamada "febre do temperamento", do Brasil em direção a Montevidéu e Buenos Aires, em meados da década de 1850. Ambos resultaram na marginalização racial e na exclusão social de indivíduos negro-africanos habitantes dessas comunidades.