{"title":"Redenção e deformidade - A poética do estranhamento como discurso teológico da modernidade","authors":"Teresa Bartolomei","doi":"10.23925/2236-9937.2021V23P51-116","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O processo psicológico da identificação emocional com o herói é o paradigma dominante da civilização literária ocidental desde a sua descrição na Poética de Aristóteles como mecanismo básico da receção da obra por parte do leitor/espetador, e a sua adoção como vetor primário daquela edificação moral prezada na antiguidade clássica e na tradição cristã como função antropológica essencial da literatura.Gesto fundador da modernidade literária a partir, pelo menos, do fim do século XIX, numa inovação que seria teorizada sistematicamente na dramaturgia do estranhamento de Bertolt Brecht, a rutura com este paradigma implica uma mudança radical não apenas do discurso antropológico veiculado pela literatura e da interpretação do seu papel como agente moral, mas também do discurso teológico por ela implícita ou explicitamente desenvolvido.Com referência final à obra de duas escritoras símbolo desta evolução como Flannery O Connor e Clarice Lispector, focalizar-se-á o núcleo teológico da poética do estranhamento, de desativação da identificação empática com o protagonista: é através da intolerável, repugnante, deformidade (moral e estética) do ser humano que a redenção se manifesta como ocorrência, imprevisível e humanamente impossível, da Graça, como abismo incompreensível em que a transcendência se abre caminho, derrubando todo o raciocínio, toda a expetativa, toda a lógica. Porque a redenção é Graça, não Lei","PeriodicalId":56164,"journal":{"name":"Teoliteraria-Revista Brasileira de Literaturas e Teologias","volume":"1 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2021-04-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Teoliteraria-Revista Brasileira de Literaturas e Teologias","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.23925/2236-9937.2021V23P51-116","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"RELIGION","Score":null,"Total":0}
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Abstract
O processo psicológico da identificação emocional com o herói é o paradigma dominante da civilização literária ocidental desde a sua descrição na Poética de Aristóteles como mecanismo básico da receção da obra por parte do leitor/espetador, e a sua adoção como vetor primário daquela edificação moral prezada na antiguidade clássica e na tradição cristã como função antropológica essencial da literatura.Gesto fundador da modernidade literária a partir, pelo menos, do fim do século XIX, numa inovação que seria teorizada sistematicamente na dramaturgia do estranhamento de Bertolt Brecht, a rutura com este paradigma implica uma mudança radical não apenas do discurso antropológico veiculado pela literatura e da interpretação do seu papel como agente moral, mas também do discurso teológico por ela implícita ou explicitamente desenvolvido.Com referência final à obra de duas escritoras símbolo desta evolução como Flannery O Connor e Clarice Lispector, focalizar-se-á o núcleo teológico da poética do estranhamento, de desativação da identificação empática com o protagonista: é através da intolerável, repugnante, deformidade (moral e estética) do ser humano que a redenção se manifesta como ocorrência, imprevisível e humanamente impossível, da Graça, como abismo incompreensível em que a transcendência se abre caminho, derrubando todo o raciocínio, toda a expetativa, toda a lógica. Porque a redenção é Graça, não Lei