{"title":"Tempora mutantur, et nos mutamur in illis","authors":"Helmut Renders, Jonadab Domingues de Alemeida","doi":"10.23925/2236-9937.2022v28p219-248","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Os basicamente idênticos trinta e sete painéis de azulejos no claustro de São Francisco em Olinda, Pernambuco, e no convento de São Francisco em Salvador, Bahia, compostos por inscriptiones e picturae de emblemas do livro Q. Horati Flacci Emblemata (1607), do artista flamengo Otto van Veen (1556–1629), articulam uma compreensão do tempo baseado no neoestoicismo do filósofo flamengo Justus Lipsius (1547-1606). Entretanto, o lema ou moto do painel Tempora mutantur, et nos mutamur in illis (Os tempos mudam e nos mudamos com eles) cita uma visão temporal articulada pela primeira vez pelo pastor luterano Caspar Huberinus (1500-1553) e finalizado, trocando nosque por et nos, pelo latinista e médico protestante Matthias Borbonius (1566-1629). Dessa forma, os painéis documentam uma disputa sobre a temporalidade vigente, entre a temporalidade clássica (fatum stoicum) e medieval e a temporalidade moderna, lida por nós a partir do referencial teórico da aceleração do tempo de Hartmut Rosa. Concluímos que o tema da temporalidade, justamente pela sua alteração em processo, era nos séculos 16 (Lipsius), 17 (van Veen) e 18 (painéis) um assunto que dividiu as confissões pelas suas ênfases distintas na tradição (o passado orienta o presente) e na palavra que desafia o status quo (o presente se abre para um futuro distinto).","PeriodicalId":56164,"journal":{"name":"Teoliteraria-Revista Brasileira de Literaturas e Teologias","volume":"46 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2022-12-22","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Teoliteraria-Revista Brasileira de Literaturas e Teologias","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.23925/2236-9937.2022v28p219-248","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"RELIGION","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Os basicamente idênticos trinta e sete painéis de azulejos no claustro de São Francisco em Olinda, Pernambuco, e no convento de São Francisco em Salvador, Bahia, compostos por inscriptiones e picturae de emblemas do livro Q. Horati Flacci Emblemata (1607), do artista flamengo Otto van Veen (1556–1629), articulam uma compreensão do tempo baseado no neoestoicismo do filósofo flamengo Justus Lipsius (1547-1606). Entretanto, o lema ou moto do painel Tempora mutantur, et nos mutamur in illis (Os tempos mudam e nos mudamos com eles) cita uma visão temporal articulada pela primeira vez pelo pastor luterano Caspar Huberinus (1500-1553) e finalizado, trocando nosque por et nos, pelo latinista e médico protestante Matthias Borbonius (1566-1629). Dessa forma, os painéis documentam uma disputa sobre a temporalidade vigente, entre a temporalidade clássica (fatum stoicum) e medieval e a temporalidade moderna, lida por nós a partir do referencial teórico da aceleração do tempo de Hartmut Rosa. Concluímos que o tema da temporalidade, justamente pela sua alteração em processo, era nos séculos 16 (Lipsius), 17 (van Veen) e 18 (painéis) um assunto que dividiu as confissões pelas suas ênfases distintas na tradição (o passado orienta o presente) e na palavra que desafia o status quo (o presente se abre para um futuro distinto).