{"title":"DE PERTO E POR DENTRO DO RINGUE – BOXE, MOBILIDADE E\nOS DESAFIOS DE UMA ETNOGRAFIA ONDE “É O MOVIMENTO\nQUE CONTA”","authors":"M. D. P. Soares","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15p.104-140","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O presente artigo apoia-se em uma etnografia em duas academias de boxe na cidade\nde São Paulo, localizadas em diferentes territórios – Baixada do Glicério e Tatuapé. Para isso,\ncoloco meu próprio corpo em campo como ferramenta de investigação através da\naprendizagem do pugilismo.Acompanho e me interesso pelas trajetórias e histórias de vida de\nmeus interlocutores, em sua maioria homens negros em distintas condições de mobilidade,\ncidadania e vulnerabilidade, entre eles os angolanos Leon e Jonas.Pretendo demonstrar como,\ntransitando entre as categorias “perigoso” e “em perigo”, entre a vitimização e a moral\nmeritocrática, eles apresentam múltiplas maneirasde fazer-cidade (Agier, 2015) através de\nseus corpos-território. Além disso, é através das aulas de boxe que uma série de memórias e\nrelatos autobiográficos são expostos por meus companheiros de treino, assim como reflexões\nsobre raça, violência e desigualdade. Desta maneira, buscoapresentar minha própria trajetória\nde pesquisa, ressaltando alguns procedimentos para o estudo das migrações internacionais\nancoradas no eixo sul-sul, mais especificamente as relações de mobilidade entre Brasil e\nAngola. O mundo do boxe envolve uma emaranhada e complexa trama política-social,\njustapondo masculinidades conflitantes e contraditórias, significados sobre racismo e\nviolência, disciplina e sacrifício, espaços urbanos e fronteiras simbólicas, resultando em\ndinâmicas históricas singulares e carregadas de significação para as pessoas envolvidas. Assim,\na confluência dos sujeitos em mobilidade com o boxe, prática onde “é o movimento que\nconta” (DeeDee, em Wacquant, 2002, p.121) apresenta-se como fértil território para as\ndiscussões sobre corpo, território, mobilidade e relações raciais.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"21 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2018-06-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15p.104-140","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
O presente artigo apoia-se em uma etnografia em duas academias de boxe na cidade
de São Paulo, localizadas em diferentes territórios – Baixada do Glicério e Tatuapé. Para isso,
coloco meu próprio corpo em campo como ferramenta de investigação através da
aprendizagem do pugilismo.Acompanho e me interesso pelas trajetórias e histórias de vida de
meus interlocutores, em sua maioria homens negros em distintas condições de mobilidade,
cidadania e vulnerabilidade, entre eles os angolanos Leon e Jonas.Pretendo demonstrar como,
transitando entre as categorias “perigoso” e “em perigo”, entre a vitimização e a moral
meritocrática, eles apresentam múltiplas maneirasde fazer-cidade (Agier, 2015) através de
seus corpos-território. Além disso, é através das aulas de boxe que uma série de memórias e
relatos autobiográficos são expostos por meus companheiros de treino, assim como reflexões
sobre raça, violência e desigualdade. Desta maneira, buscoapresentar minha própria trajetória
de pesquisa, ressaltando alguns procedimentos para o estudo das migrações internacionais
ancoradas no eixo sul-sul, mais especificamente as relações de mobilidade entre Brasil e
Angola. O mundo do boxe envolve uma emaranhada e complexa trama política-social,
justapondo masculinidades conflitantes e contraditórias, significados sobre racismo e
violência, disciplina e sacrifício, espaços urbanos e fronteiras simbólicas, resultando em
dinâmicas históricas singulares e carregadas de significação para as pessoas envolvidas. Assim,
a confluência dos sujeitos em mobilidade com o boxe, prática onde “é o movimento que
conta” (DeeDee, em Wacquant, 2002, p.121) apresenta-se como fértil território para as
discussões sobre corpo, território, mobilidade e relações raciais.