{"title":"Electra Tiranicida. Gênero na recepção de uma deliberação heroica na tragédia de Sófocles","authors":"Agatha Pitombo Bacelar","doi":"10.14195/1984-249x_33_08","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"No terceiro episódio da Electra de Sófocles, a heroína, acreditando que seu irmão Orestes está morto, tenta convencer sua irmã Crisótemis a participar de um plano de matar Egisto, em um discurso que retoma as honras públicas instituídas na Atenas do século V a.C. em homenagem ao casal tiranicida, Harmódio e Aristogíton, e, portanto, aproxima as duas irmãs da imagem de campeãs da democracia (v. 947-989). Este artigo compara o tratamento dado por Comentários contemporâneos à Electra de Sófocles a este discurso com estudos recentes da cidadania ateniense que fazem uso do gênero como ferramenta metodológica, no intuito de argumentar que a ideia da pólis como um “clube de homens” depende muito mais de um estereótipo moderno sobre a política ateniense do que das evidências antigas disponíveis – um estereótipo que projeta concepções europeias do século XIX acerca do político sobre o contexto antigo e perpetua, no passado, uma dominação masculina supostamente universal. Nessa perspectiva, a atitude de Electra, certamente excepcional pela situação igualmente excepcional em que a heroína se encontra, longe de transgredir de um modo impressionante os papéis de gênero antigos, aponta para a importância da cidadania feminina na democracia ateniense.","PeriodicalId":41249,"journal":{"name":"Archai-Revista de Estudos Sobre as Origens do Pensamento Ocidental","volume":"29 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2023-04-21","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"1","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Archai-Revista de Estudos Sobre as Origens do Pensamento Ocidental","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.14195/1984-249x_33_08","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"HUMANITIES, MULTIDISCIPLINARY","Score":null,"Total":0}
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Abstract
No terceiro episódio da Electra de Sófocles, a heroína, acreditando que seu irmão Orestes está morto, tenta convencer sua irmã Crisótemis a participar de um plano de matar Egisto, em um discurso que retoma as honras públicas instituídas na Atenas do século V a.C. em homenagem ao casal tiranicida, Harmódio e Aristogíton, e, portanto, aproxima as duas irmãs da imagem de campeãs da democracia (v. 947-989). Este artigo compara o tratamento dado por Comentários contemporâneos à Electra de Sófocles a este discurso com estudos recentes da cidadania ateniense que fazem uso do gênero como ferramenta metodológica, no intuito de argumentar que a ideia da pólis como um “clube de homens” depende muito mais de um estereótipo moderno sobre a política ateniense do que das evidências antigas disponíveis – um estereótipo que projeta concepções europeias do século XIX acerca do político sobre o contexto antigo e perpetua, no passado, uma dominação masculina supostamente universal. Nessa perspectiva, a atitude de Electra, certamente excepcional pela situação igualmente excepcional em que a heroína se encontra, longe de transgredir de um modo impressionante os papéis de gênero antigos, aponta para a importância da cidadania feminina na democracia ateniense.