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Abstract
A partir de exemplos etnográficos retirados de minha pesquisa de campo, realizada entre fandangueiros de Cananéia-SP, na entrada do complexo estuarino Lagamar, no extremo sul do litoral paulista, pretendo demonstrar como o fandango caiçara é ele mesmo criador de determinados territórios, seguindo uma mesma lógica territorial caiçara. Neste trabalho, o foco recairá sobre como o fandango caiçara, “manifestação” cultural tida como um dos principais marcadores identitários diacríticos caiçaras do Vale do Ribeira é, mais do que um “produto” das relações sociais, culturais e territoriais caiçaras, um produtor dessas mesmas relações. Tal afirmação, embora não seja exatamente uma novidade em termos antropológicos, não encontra respaldo no corpo de estudos relativos tanto às territorialidades caiçaras, bem como no que diz respeito aos estudos sobre o próprio fandango. No mais das vezes, o fandango – como pode ser visto nas definições e explicações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que declarou o fandango como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro em 2012 – é tido como “expressão”, “manifestação” de uma Cultura mais abrangente, que por sua vez englobaria estas ditas relações sociais, culturais e territoriais. A intenção, aqui, é avançar com os prolegômenos de uma teoria caiçara que reflita este princípio antropotécnico, o da Cultura como uma Forma de Vida, recusando assim o fluxo de causalidades com o qual o fandango geralmente é compreendido como fenômeno estético-político.