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Abstract
Não se pretende caracterizar literariamente o ano do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, que foi também o do seu amigo Jorge de Sena, personalidade ímpar e cimeira da cultura portuguesa. O objectivo é — além da obrigatória pintura académica de uma cor local que faça sentir o clima artístico da época, pleno de contradições e aporias — equacionar algumas ideias fundamentais que nascem nesse mesmo ano além-fronteiras com o pensamento crítico de T. S. Eliot e se aprofundam com a teoria poética de Roman Jakobson e dos formalistas russos, influenciados pela fenomenologia intencional de Edmund Husserl. Em particular, a despeito do fundo historicista reinante, a inaudita articulação entre a trans-historicidade do fenómeno literário e a sua especificidade intrínseca, que a geração dos Cadernos de Poesia — a que pertencerão estes dois vultos quando atingirem a idade adulta, durante a II Grande Guerra e no pós-guerra — irá integrar dialecticamente numa concepção ética de compromisso da palavra com a dignidade humana sem sacrifício da sua dignidade estética. Esta integração é a marca distintiva de um Terceiro Modernismo, ainda mal compreendido enquanto tal, cujo embrião doutrinário e teórico data de 1919 e que prossegue os caminhos abertos pelos modernistas de Orpheu, The Egoist e Presença.