{"title":"Podia arredondar a boca e soprar verdades, nem por isso eu confiaria","authors":"Samla Borges Canilha","doi":"10.15448/1983-4276.2021.2.40885","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Autora de uma potente e pouco tratada obra, a portuguesa Mafalda Ivo Cruz tem uma escrita não raro considerada hermética devido à fragmentação, à não linearidade e à diversidade de vozes, muitas vezes apresentadas de forma caótica e associadas a uma ruptura espaciotemporal. Em Oz (2006), essas características estão a serviço de uma narrativa que trata da prisão de um artista – Oz – pelo abuso sexual de sua vizinha. A justiça do encarceramento é posta em questão, e a narrativa baseia-se nessa dúvida. Para tanto, Cruz recorre a um texto composto por diferentes perspectivas e vozes narrativas, de forma que as falhas de memória de uma personagem e os pontos omitidos são preenchidos por outras, formando um todo coeso. Isso, porém, não significa necessariamente clareza, mas pelo contrário: temos que tentar, sozinhos, organizar o caos em que nos colocados. Resolver o mote da narrativa, acaba, assim, ultrapassando a simples descoberta do culpado, principalmente porque somos guiados nessa investigação por vozes que não sabemos se confiáveis – incluindo, aliás, um possível criminoso. Com isso, a rede estética em que Cruz nos enreda acaba mostrando-se muito mais importante que a resolução da investigação criminosa.","PeriodicalId":52736,"journal":{"name":"Navegacoes Revista de Cultura e Literaturas de Lingua Portuguesa","volume":"1 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-16","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Navegacoes Revista de Cultura e Literaturas de Lingua Portuguesa","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.15448/1983-4276.2021.2.40885","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Autora de uma potente e pouco tratada obra, a portuguesa Mafalda Ivo Cruz tem uma escrita não raro considerada hermética devido à fragmentação, à não linearidade e à diversidade de vozes, muitas vezes apresentadas de forma caótica e associadas a uma ruptura espaciotemporal. Em Oz (2006), essas características estão a serviço de uma narrativa que trata da prisão de um artista – Oz – pelo abuso sexual de sua vizinha. A justiça do encarceramento é posta em questão, e a narrativa baseia-se nessa dúvida. Para tanto, Cruz recorre a um texto composto por diferentes perspectivas e vozes narrativas, de forma que as falhas de memória de uma personagem e os pontos omitidos são preenchidos por outras, formando um todo coeso. Isso, porém, não significa necessariamente clareza, mas pelo contrário: temos que tentar, sozinhos, organizar o caos em que nos colocados. Resolver o mote da narrativa, acaba, assim, ultrapassando a simples descoberta do culpado, principalmente porque somos guiados nessa investigação por vozes que não sabemos se confiáveis – incluindo, aliás, um possível criminoso. Com isso, a rede estética em que Cruz nos enreda acaba mostrando-se muito mais importante que a resolução da investigação criminosa.
葡萄牙人马法尔达·伊沃·克鲁兹(Mafalda Ivo Cruz)是一部强有力的、很少被处理的作品的作者,她的写作经常被认为是封闭的,因为声音的碎片化、非线性和多样性,经常以混乱的方式呈现,并与时空的破裂有关。在《奥兹》(2006)中,这些特征被用来讲述一个艺术家——奥兹——因性虐待邻居而被捕的故事。监禁的公平性受到了质疑,而叙事就是基于这种怀疑。为了做到这一点,克鲁兹使用了一个由不同视角和叙事声音组成的文本,这样一个角色的记忆缺陷和遗漏的点就会被其他角色填补,形成一个连贯的整体。然而,这并不一定意味着清晰,恰恰相反:我们必须独自努力组织我们所处的混乱。因此,解决叙述的主题最终超越了简单的罪犯发现,主要是因为我们在调查中被我们不知道是否可靠的声音引导——顺便说一下,包括一个可能的罪犯。因此,克鲁兹纠缠我们的美学网络最终显示出比刑事调查的解决更重要。