{"title":"Das fontes ao anseio de justiça: Contemplação poética e mística em Sophia de Mello Breyner Andresen","authors":"Ceci Maria Costa Baptista Mariani","doi":"10.15603/2176-1078/ER.V34N3P61-85","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Em seus Escritos de Teologia, discorrendo sobre a vida crista, Rahner afirma, introduzindo um topico sobre a palavra poetica e o cristao, que so um poeta poderia falar sobre esse tema. Todavia, ele pondera, o poeta fala aos nao poetas, portanto, os nao poetas devem saber o que e a poesia. Ademais, ele acrescenta, o crente, sendo guiado pelo Espirito, pode julgar tudo. Por isso, ele conclui, enquanto reflexao do crente, a teologia nao pode estar alheia a poesia. Assumindo como justificativa a palavra do teologo, colocamo-nos, a partir da teologia, a escuta de Sophia de Mello Breyner Andresen, com o objetivo de explicitar em seus poemas a relacao entre mistica e poesia. A tarefa do teologo, ou da teologa, seguindo a reflexao de Rahner, e situar-se diante da poesia sem reduzi-la a uma licao de catequese, mas chamar atencao ao que nela aponta para um dizer da relacao com Deus que se revela na criacao sem deixar de ser Misterio Santo. A proposta deste artigo e apontar os elementos misticos presentes na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), tendo como referencias os teologos K. Rahner, J. Moltmann, E. Schillebeeckx e J. B. Metz. Mais especificamente sobre o fenomeno mistico e suas caracteristicas essenciais, recorremos a analise fenomenologica de Juan Martin Velasco e a abordagem historica de Bernard McGinn. No que diz respeito ao dialogo com a critica literaria, contamos principalmente com o estudo realizado por Carlos Ceia. Na escuta dos poemas de Sophia, tomando o cuidado de nao fazer uma identificacao ingenua entre o discurso literario e a teologia da revelacao, como recomenda Kuschel, procuramos reconhecer a presenca de elementos misticos, especialmente relacionados com o estilo despojado (gosto pela simplicidade) e a experiencia de Deus como Misterio Santo na contemplacao da natureza, elementos que se desdobram na manifestacao de um anseio de justica, possibilitando aproximar a obra da poeta de uma “Mistica de Olhos Abertos” (Metz).","PeriodicalId":41867,"journal":{"name":"Estudos de Religiao","volume":"130 1","pages":"61-85"},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2020-12-18","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Estudos de Religiao","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.15603/2176-1078/ER.V34N3P61-85","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"RELIGION","Score":null,"Total":0}
引用次数: 0
Abstract
Em seus Escritos de Teologia, discorrendo sobre a vida crista, Rahner afirma, introduzindo um topico sobre a palavra poetica e o cristao, que so um poeta poderia falar sobre esse tema. Todavia, ele pondera, o poeta fala aos nao poetas, portanto, os nao poetas devem saber o que e a poesia. Ademais, ele acrescenta, o crente, sendo guiado pelo Espirito, pode julgar tudo. Por isso, ele conclui, enquanto reflexao do crente, a teologia nao pode estar alheia a poesia. Assumindo como justificativa a palavra do teologo, colocamo-nos, a partir da teologia, a escuta de Sophia de Mello Breyner Andresen, com o objetivo de explicitar em seus poemas a relacao entre mistica e poesia. A tarefa do teologo, ou da teologa, seguindo a reflexao de Rahner, e situar-se diante da poesia sem reduzi-la a uma licao de catequese, mas chamar atencao ao que nela aponta para um dizer da relacao com Deus que se revela na criacao sem deixar de ser Misterio Santo. A proposta deste artigo e apontar os elementos misticos presentes na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), tendo como referencias os teologos K. Rahner, J. Moltmann, E. Schillebeeckx e J. B. Metz. Mais especificamente sobre o fenomeno mistico e suas caracteristicas essenciais, recorremos a analise fenomenologica de Juan Martin Velasco e a abordagem historica de Bernard McGinn. No que diz respeito ao dialogo com a critica literaria, contamos principalmente com o estudo realizado por Carlos Ceia. Na escuta dos poemas de Sophia, tomando o cuidado de nao fazer uma identificacao ingenua entre o discurso literario e a teologia da revelacao, como recomenda Kuschel, procuramos reconhecer a presenca de elementos misticos, especialmente relacionados com o estilo despojado (gosto pela simplicidade) e a experiencia de Deus como Misterio Santo na contemplacao da natureza, elementos que se desdobram na manifestacao de um anseio de justica, possibilitando aproximar a obra da poeta de uma “Mistica de Olhos Abertos” (Metz).