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Abstract
Nas últimas décadas, escritas das margens da sociedade moderna organizada e do cânone literário erudito começaram a circular entre os leitores, apresentando novos escritores desconhecidos até então. Este artigo comenta algumas narrativas coletadas na floresta tropical por índios que falam tanto sua língua nativa quanto português. Em paralelo, estuda estórias construídas na periferia das grandes cidades cujo tema é o modo de vida nas favelas. O fundo mítico destas vem principalmente da cultura ioruba herdada por muitos afrodescendentes. A leitura comparativa de tal seleção de textos traz argumentos para discutir conceitos e valores ocidentais, como antropocentrismo, preconceitos machistas e premissas centrais do racionalismo moderno. Outros aspectos observados são as marcas da tradição oral no estilo narrativo e a presença de personagens fantásticas como meio de explicar fenômenos naturais. Alguns textos buscaram publicação apenas para preservar saberes arcaicos, outros construíram-se com o intuito de produzir efeito artístico. Esses últimos usam o português como se fosse uma língua estrangeira misteriosa.