{"title":"Entre ficção e crítica: Abdellah Taïa leitor do orientalismo de André Gide","authors":"Júnior Vilarino","doi":"10.22409/gragoata.v27i59.53332","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Propõe-se, neste artigo, uma leitura do complexo entrelaçamento de ficção, história, crítica literária, filosofia política e interseccionalidade, urdido na metaficção Aquele que é digno de ser amado (2017), de Abdellah Taïa, como forma de apropriação da obra de André Gide. Debate-se a releitura culturalista, efetuada pelo romance, do orientalismo sexual efebófilo do autor francês. Discute-se a analogia política estabelecida entre suas práticas sexuais com rapazes africanos e uma trama narrativa na qual o cotidiano da relação amorosa entre dois intelectuais, um marroquino imigrante em Paris e um nativo parisiense, está imbuído de motivações orientalistas, as quais Ahmed, narrador-personagem, chamará de neocolonialistas. Espera-se demonstrar o pensamento crítico de Taïa ao expor a complacência da crítica literária em língua francesa relativa à objetificação dos corpos e das vidas dos sujeitos árabes representados na obra gideana. Para tanto, trata-se da recepção dos estudos culturais na França, de acordo com BRISSON (2018) e SMOUTS (2010). Apresentam-se sumariamente os pressupostos metodológicos de SAID (1990; 1995) sobre o orientalismo, bem como uma contextualização, na obra de Gide, de seu “turismo oriental-sexual”. Passa-se, então, à análise da “transcontextualização” (HUTCHEON, 1985) irônica empreendida pela narrativa de Abdellah Taïa. Recorre-se, igualmente, ao conceito de não-lugar da literatura de SOUZA (1999), para compreender os juízos de valor acerca do texto literário na crítica cultural e nos estudos literários. Da fortuna crítica de Abdellah Taïa e André Gide, invocam-se HEYNDELS (2020); SANSON (2013) e KOPP (2019), respectivamente. ","PeriodicalId":40605,"journal":{"name":"Gragoata-UFF","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.2000,"publicationDate":"2022-12-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Gragoata-UFF","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.22409/gragoata.v27i59.53332","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"LANGUAGE & LINGUISTICS","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Propõe-se, neste artigo, uma leitura do complexo entrelaçamento de ficção, história, crítica literária, filosofia política e interseccionalidade, urdido na metaficção Aquele que é digno de ser amado (2017), de Abdellah Taïa, como forma de apropriação da obra de André Gide. Debate-se a releitura culturalista, efetuada pelo romance, do orientalismo sexual efebófilo do autor francês. Discute-se a analogia política estabelecida entre suas práticas sexuais com rapazes africanos e uma trama narrativa na qual o cotidiano da relação amorosa entre dois intelectuais, um marroquino imigrante em Paris e um nativo parisiense, está imbuído de motivações orientalistas, as quais Ahmed, narrador-personagem, chamará de neocolonialistas. Espera-se demonstrar o pensamento crítico de Taïa ao expor a complacência da crítica literária em língua francesa relativa à objetificação dos corpos e das vidas dos sujeitos árabes representados na obra gideana. Para tanto, trata-se da recepção dos estudos culturais na França, de acordo com BRISSON (2018) e SMOUTS (2010). Apresentam-se sumariamente os pressupostos metodológicos de SAID (1990; 1995) sobre o orientalismo, bem como uma contextualização, na obra de Gide, de seu “turismo oriental-sexual”. Passa-se, então, à análise da “transcontextualização” (HUTCHEON, 1985) irônica empreendida pela narrativa de Abdellah Taïa. Recorre-se, igualmente, ao conceito de não-lugar da literatura de SOUZA (1999), para compreender os juízos de valor acerca do texto literário na crítica cultural e nos estudos literários. Da fortuna crítica de Abdellah Taïa e André Gide, invocam-se HEYNDELS (2020); SANSON (2013) e KOPP (2019), respectivamente.