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Abstract
Trata-se de um ensaio que busca refletir sobre algumas dimensões do entrelaçamento entre pertencimento social, gênero, geração, raça e sexualidade nos domínios da contracepção e da reprodução. Propomos, a partir do exame da biografia de uma jovem de camadas populares, uma mirada dos contextos/cenários, atores, enredos, representações, valores sobre parentalidade que antecedem o engravidamento em si, e que acabam por constituir um conjunto de possibilidades e constrangimentos para a gestão da potencialidade reprodutiva. Esse deslocamento ilumina de forma exemplar a interdependência entre sexualidade/dimensão afetivo-sexual e contracepção, rompendo, portanto, com a perspectiva individualista de “escolha contraceptiva” comumente presente nas políticas públicas. Sublinha-se a dimensão relacional que preside as dinâmicas contraceptivas e as decisões reprodutivas (gravidez e aborto). Argumenta-se sobre a importância do desenvolvimento de políticas públicas, sobretudo de educação e de saúde, que tornem possível um processo de socialização contraceptiva - dimensão fundamental para ampliação do campo de possibilidades das trajetórias juvenis, ao menos no que tange a sua dimensão da gestão reprodutiva.