{"title":"A Covid-19 e as perturbações no presentismo","authors":"F. Hartog, Fernando Alvim, A. Avelar","doi":"10.14393/artc-v22-n41-2020-58640","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Como e se a pandemia do coronavírus provocou uma mudança nas temporalidades que atravessam nosso cotidiano é o que este artigo se propõe analisar. Colocada sob o signo de uma urgência, que nos levou em poucos dias até o \"estado de emergência sanitária”, a suspensão das atitudes corporais ordinárias (perigosas) e sua substituição por outras (todas, por sua vez, defensivas e protetivas) deveriam operar, como é normal no regime presentista, instantaneamente ou quase. Desde Hipócrates, cabe à medicina reconhecer que a doença tem, ela também, uma temporalidade própria. Sob a desordem aparente da doença, há de fato uma ordem que identifica o olho treinado do médico: uma ordem do tempo. O tempo da pandemia conduziu à instauração de um tempo novo, aquele do confinamento: tempo sanitário, já que o confinamento é o único instrumento à nossa disposição, diz a medicina, para retardar, frear a progressão do vírus, para que a curva exponencial cesse sua implacável ascensão. Nesse ponto, surgem inevitáveis conflitos de temporalidades que pedem arbitragens. A questão da nomeação do acontecimento é central. Epidemia, pandemia, sim, mas nós ficamos na esfera da medicina. A questão é saber se a grande crise que atravessa o mundo é uma oportunidade, um kairos, que, interrompendo as temporalidades habituais do tempo chronos, poderia abrirse sobre um novo tempo.","PeriodicalId":41127,"journal":{"name":"ArtCultura-Revista de Historia Cultura e Arte","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2020-12-26","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"2","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"ArtCultura-Revista de Historia Cultura e Arte","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.14393/artc-v22-n41-2020-58640","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"HUMANITIES, MULTIDISCIPLINARY","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Como e se a pandemia do coronavírus provocou uma mudança nas temporalidades que atravessam nosso cotidiano é o que este artigo se propõe analisar. Colocada sob o signo de uma urgência, que nos levou em poucos dias até o "estado de emergência sanitária”, a suspensão das atitudes corporais ordinárias (perigosas) e sua substituição por outras (todas, por sua vez, defensivas e protetivas) deveriam operar, como é normal no regime presentista, instantaneamente ou quase. Desde Hipócrates, cabe à medicina reconhecer que a doença tem, ela também, uma temporalidade própria. Sob a desordem aparente da doença, há de fato uma ordem que identifica o olho treinado do médico: uma ordem do tempo. O tempo da pandemia conduziu à instauração de um tempo novo, aquele do confinamento: tempo sanitário, já que o confinamento é o único instrumento à nossa disposição, diz a medicina, para retardar, frear a progressão do vírus, para que a curva exponencial cesse sua implacável ascensão. Nesse ponto, surgem inevitáveis conflitos de temporalidades que pedem arbitragens. A questão da nomeação do acontecimento é central. Epidemia, pandemia, sim, mas nós ficamos na esfera da medicina. A questão é saber se a grande crise que atravessa o mundo é uma oportunidade, um kairos, que, interrompendo as temporalidades habituais do tempo chronos, poderia abrirse sobre um novo tempo.