Intertextualidade e autodiegese feminina em Yuxin, de Ana Miranda: Ecos e inversões do epos homérico / Intertextuality and Feminine Autodiegesis in Yuxin, by Ana Miranda: Echos and Inversions of the Homeric Epos
{"title":"Intertextualidade e autodiegese feminina em Yuxin, de Ana Miranda: Ecos e inversões do epos homérico / Intertextuality and Feminine Autodiegesis in Yuxin, by Ana Miranda: Echos and Inversions of the Homeric Epos","authors":"Victor Camponez Vialeto","doi":"10.17851/2358-9787.31.3.7-21","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Resumo: O personagem ameríndio povoa as narrativas brasileiras e é uma das figuras incontornáveis da literatura nacional. Yuxin, romance de Ana Miranda publicado em 2009, revisita a indianidade, desta vez conferindo a narração literária a Yarina, uma índia caxinauá que borda enquanto aguarda o retorno de seu marido Xumani, cujo paradeiro desconhece. Ambientada no Acre, em 1919, essa Odisseia às avessas torna-se, aqui, objeto de interesse pelo modo particular como reorganiza a matéria narrativa do poema épico sobre Ulisses. O presente artigo objetiva aproximar a narrativa homérica e Yuxin, identificando, num primeiro tempo, elementos de intertextualidade em ambos os textos, apoiando-se em Kristeva (1969). Num segundo tempo, colocaremos em evidência a posição de narradora da personagem Yarina e as reflexões de ordem narratológica que decorrem do deslocamento da figura feminina da posição de personagem secundária no texto grego para, em Yuxin, ocupar o epicentro do narrar. Servindo-nos do conceito de autodiegese, de Genette (1972), buscaremos relacionar a reconfiguração do esquema narrativo presente no romance, operada por meio da escolha de uma focalização narrativa distinta daquela observada no texto homérico, ao procedimento de destituição do heroísmo que estrutura o gênero épico. Tal deslocamento resultaria num apequenamento do masculino que decorre não apenas da focalização na personagem feminina que ignora o destino do elemento masculino, mas também retratando, por meio de Xumani, uma espécie de Ulisses pouco virtuoso. Desse modo, tentaremos compreender de que maneira esses dois textos, com semelhanças flagrantes na fábula que os estrutura, encontram caminhos particulares de colocar em cena questões ligadas aos gêneros masculino e feminino.Palavras-chave: Yuxin; Odisseia; intertextualidade; feminino; masculino.Abstract: The Amerindian character populates Brazilian narratives and is one of the unavoidable figures in national literature. Yuxin, a novel by Ana Miranda published in 2009, revisits Indianness, this time giving the literary narration to Yarina, a Caxinauá Indian who embroiders while waiting for the return of her husband Xumani, whose whereabouts she doesn’t know. Set in Acre, in 1919, this Odyssey in reverse becomes, here, an object of interest for the particular way in which it reorganizes the narrative material of the epic poem about Ulysses. This article aims to bring the Homeric narrative closer to Yuxin, identifying, at first, elements of intertextuality in both texts, based on Kristeva (1969). In a second step, we will highlight the position of narrator of the character Yarina and the reflections of a narratological nature that result from the displacement of the female figure from the position of secondary character in the Greek text to occupy the epicenter of narration in Yuxin. Using the concept of autodiegesis, by Genette (1972), we will seek to relate the reconfiguration of the narrative scheme present in the novel, operated through the choice of a narrative focus different from that observed in the Homeric text, to the procedure of dismissing the heroism that structures the epic genre. Such displacement would result in a belittling of the masculine that results not only from the focus on the female character who ignores the destiny of the masculine element, but also portraying, through Xumani, a kind of less virtuous Ulysses. In this way, we will try to understand how these two texts, with striking similarities in the fable that structures them, find particular ways of putting on stage issues related to male and female gender.Keywords: Yuxin; Odyssey; intertextuality; feminine; masculine.","PeriodicalId":40902,"journal":{"name":"Eixo e a Roda-Revista de Literatura Brasileira","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Eixo e a Roda-Revista de Literatura Brasileira","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.17851/2358-9787.31.3.7-21","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"LITERATURE, ROMANCE","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Resumo: O personagem ameríndio povoa as narrativas brasileiras e é uma das figuras incontornáveis da literatura nacional. Yuxin, romance de Ana Miranda publicado em 2009, revisita a indianidade, desta vez conferindo a narração literária a Yarina, uma índia caxinauá que borda enquanto aguarda o retorno de seu marido Xumani, cujo paradeiro desconhece. Ambientada no Acre, em 1919, essa Odisseia às avessas torna-se, aqui, objeto de interesse pelo modo particular como reorganiza a matéria narrativa do poema épico sobre Ulisses. O presente artigo objetiva aproximar a narrativa homérica e Yuxin, identificando, num primeiro tempo, elementos de intertextualidade em ambos os textos, apoiando-se em Kristeva (1969). Num segundo tempo, colocaremos em evidência a posição de narradora da personagem Yarina e as reflexões de ordem narratológica que decorrem do deslocamento da figura feminina da posição de personagem secundária no texto grego para, em Yuxin, ocupar o epicentro do narrar. Servindo-nos do conceito de autodiegese, de Genette (1972), buscaremos relacionar a reconfiguração do esquema narrativo presente no romance, operada por meio da escolha de uma focalização narrativa distinta daquela observada no texto homérico, ao procedimento de destituição do heroísmo que estrutura o gênero épico. Tal deslocamento resultaria num apequenamento do masculino que decorre não apenas da focalização na personagem feminina que ignora o destino do elemento masculino, mas também retratando, por meio de Xumani, uma espécie de Ulisses pouco virtuoso. Desse modo, tentaremos compreender de que maneira esses dois textos, com semelhanças flagrantes na fábula que os estrutura, encontram caminhos particulares de colocar em cena questões ligadas aos gêneros masculino e feminino.Palavras-chave: Yuxin; Odisseia; intertextualidade; feminino; masculino.Abstract: The Amerindian character populates Brazilian narratives and is one of the unavoidable figures in national literature. Yuxin, a novel by Ana Miranda published in 2009, revisits Indianness, this time giving the literary narration to Yarina, a Caxinauá Indian who embroiders while waiting for the return of her husband Xumani, whose whereabouts she doesn’t know. Set in Acre, in 1919, this Odyssey in reverse becomes, here, an object of interest for the particular way in which it reorganizes the narrative material of the epic poem about Ulysses. This article aims to bring the Homeric narrative closer to Yuxin, identifying, at first, elements of intertextuality in both texts, based on Kristeva (1969). In a second step, we will highlight the position of narrator of the character Yarina and the reflections of a narratological nature that result from the displacement of the female figure from the position of secondary character in the Greek text to occupy the epicenter of narration in Yuxin. Using the concept of autodiegesis, by Genette (1972), we will seek to relate the reconfiguration of the narrative scheme present in the novel, operated through the choice of a narrative focus different from that observed in the Homeric text, to the procedure of dismissing the heroism that structures the epic genre. Such displacement would result in a belittling of the masculine that results not only from the focus on the female character who ignores the destiny of the masculine element, but also portraying, through Xumani, a kind of less virtuous Ulysses. In this way, we will try to understand how these two texts, with striking similarities in the fable that structures them, find particular ways of putting on stage issues related to male and female gender.Keywords: Yuxin; Odyssey; intertextuality; feminine; masculine.