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Abstract
Ao estruturarem sua compreensão dos seres vivos enquanto máquinas autopoiéticas, Humberto Maturana e Francisco Varela reiteradamente tecem críticas à aplicação das noções de função e aptidão (fitness) então estabelecidas em teorias científicas. Tais críticas apresentam-se em duas frentes principais: por um lado, os autores afirmam que atribuições funcionais são causalmente inertes, o que as reduz a meros artifícios explicativos não operacionalizáveis; por outro, defendem que todo organismo, enquanto não for destruído em suas interações com o meio, conserva sua aptidão, sendo esta constitutiva dos seres vivos e, portanto, invariável. Contudo, como defende Gustavo Caponi, podemos compreender que atribuir funções significa nada mais do que destacar papeis causais desempenhados em determinados processos de referência, de modo que a comparação entre estruturas que desempenhem a mesma função possibilita a medição dos diferentes graus de eficiência em sua realização. No âmbito da biologia, esta estrutura conceitual traduz-se nas funções biológicas, operadas por diferentes subsistemas dos organismos e referentes à manutenção do ciclo vital, assim como na aptidão biológica, tomada como a eficiência na operação destas funções e determinante no processo evolutivo. Defendemos que a proposta de Caponi é imune a ambos os ataques dos autores chilenos, ao incorporar um conteúdo operacional e contextual para as atribuições funcionais e ao possibilitar a referência a aptidão biológica, cuja importância evolutiva pode ser aferida momento a momento. Tal abordagem mostra-se, ademais, como uma adição muito oportuna à chamada teoria da autopoiese, aparelhando-a com uma concepção bastante pertinente de atribuições funcionais.