{"title":"Os regressos da guerra: espaço público, mundo digital e (re)produções mnemónicas","authors":"André Caiado, V. Ferreira, Miguel Cardina","doi":"10.4000/lerhistoria.9489","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"EN) at the end of the article. Résumé (FR) en fin d’article. A guerra colonial foi sendo marcada, nas últimas décadas, por um conjunto de memorializações seletivas e por estratégias de esquecimento ativo. Em Portugal, o relativo silêncio sobre a guerra, particularmente das suas dimensões mais violentas e do seu carácter colonial, repousou num conjunto multifacetado de fatores. Entre eles deverá constar a própria natureza do Estado Novo, que bloqueou as possibilidades de uma discussão aberta sobre o conflito, o papel dos militares na rutura política do 25 de Abril, bem como a permanência de representações benevolentes sobre 216 A. Caiado, V. Ferreira, M. Cardina | Regressos da guerra o colonialismo na sociedade portuguesa. A esses fatores se poderia ainda associar a dificuldade genérica em verbalizar publicamente fenómenos de violência bélica, de sofrimento e de trauma individuais ou, adicionalmente, o próprio facto de a guerra, essencialmente, se ter realizado em território africano, expurgando o território português das marcas físicas de uma guerra feita “noutro lugar” (Cardina e Martins 2018, 11-16; Cardina 2020). Há cerca de duas décadas, Luís Quintais (2000, 1003-1004) notou como a referência ao trauma abriu caminho para articular a “nossa história recente” com a experiência dos ex-combatentes, permitindo “narrativizar uma história nocturna [sic]”. No final da década de 1990, o estado português reconheceu legalmente o stress pós-traumático de guerra, estendendo o conceito de “deficiente das Forças Armadas” aos portadores de “perturbação psicológica crónica resultante da exposição a fatores traumáticos de stress durante a vida militar” (lei no 46/99, 16 de junho). Pela mesma altura intensificam-se os convívios de antigos combatentes,1 realizados de forma dispersa pelo país, agregando antigos camaradas de armas geralmente do mesmo batalhão ou companhia. No espaço público dá-se, em 1994, a inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar, um imponente monumento instalado em Belém, Lisboa. O monumento tem sido palco de cerimónias evocativas da guerra e de celebração patriótica, com destaque para o Encontro Nacional de Combatentes, que aí se tem realizado anualmente por ocasião do dia nacional, comemorado a 10 de junho. A década de 1990 correspondeu assim a um período de relativo aumento de visibilidade da guerra, marcado sobretudo pela definição da ideia do soldado-vítima – alicerçada na tentativa de os antigos combatentes granjearem maior reconhecimento social e reivindicarem mais apoios sociais ao estado – e pela manutenção da subalternização da natureza colonial da guerra (Loff 2015; Cardina 2016). Mais recentemente, sobretudo a partir dos anos 2000, tem emergido uma maior e mais plural visibilidade do tema, acentuada no campo historiográfico e académico, nas artes performativas, nos documentários (desde logo pelo impacto da série A Guerra, de Joaquim Furtado), na produção testemunhal em suporte escrito ou digital e na contínua proliferação de monumentos, cerimónias e convívios, um pouco por todo o país. Estas 1 Os encontros anuais são quase sempre organizados ao nível da companhia ou do batalhão e reforçam a sociabilidade e a partilha de memórias conjuntas. A título meramente ilustrativo, o número de eventos atingiu em 2014 o recorde de 360, de acordo com dados do Portal dos Veteranos da Guerra do Ultramar (UTW), embora estes números possam pecar por defeito. De acordo com os eventos publicitados neste portal, entre 2006 e 2018 terão sido organizados em média 260 eventos anuais. Ler História | 79 | 2021 217 dimensões configuram modalidades de inscrição memorial predominantemente articuladas com a autoridade do vivido, pulverizadas em termos geográficos e dinamizadas por coletivos de antigos combatentes, por estruturas associativas e pelo poder local. Através destes mecanismos, os antigos combatentes tornam-se também eles agentes do processo de memorialização da guerra, necessariamente dinâmico e moldado pela importância que passou a ser atribuída às narrativas individuais de guerra. As sessões de psicoterapia foram um relevante e primordial contexto de narrativização das experiências de guerra (Quintais 2000), mas não o único. A publicação ficcional e não ficcional, a par da utilização das novas tecnologias de informação e comunicação para narrar estas experiências, abriu novas portas à expressão mnemónica dos antigos combatentes. Apesar de serem promovidos e valorizados sobretudo pelas comunidades de antigos combatentes, às quais se destinam afinal, argumentaremos que não são de todo isentos à institucionalização, à articulação com dinâmicas provenientes do estado ou à capacidade de influir no debate público sobre o tema. A partir de dinâmicas de rememoração individual e de grupo introduzem outras ressignificações e (re)produções mnemónicas do evento que ditou o epílogo do império colonial português. Este artigo procura assim analisar dois dos processos de memorialização desencadeados por esta mudança: os monumentos evocativos da guerra e as representações mnemónicas da guerra no maior blogue de veteranos do país, Luís Graça e Camaradas da Guiné (LGCG). O objetivo passa por compreender as dinâmicas e processos que explicam este “regresso da guerra” e os legados deste passado. Na primeira parte será apresentada a análise diacrónica da evolução do processo de monumentalização. Serão identificadas as principais dinâmicas de construção e tendências de representação, assinalando-se a mudança das propostas escultóricas e iconográficas ao longo do tempo. Este trabalho é baseado na análise semiótica e da epigrafia de monumentos, representações feitas nos media, entrevistas a agentes promotores e análise de um conjunto de fontes que incluem discursos proferidos nas cerimónias de inauguração, memórias descritivas, projetos de arquitetura e notícias. Na segunda parte, a análise estende-se ao impacto e às dinâmicas de produção mnemónica que se desenvolvem no espaço digital da internet em língua portuguesa e às narrativas e representações do passado daí resultantes. Em particular, a evocação de experiências por antigos combatentes e a formação de uma comunidade de memória a partir de blogues. Com esse objetivo, produziu-se uma análise crítica de discurso às publicações do maior blogue coletivo de veteranos da guerra colonial (LGCG). A análise incidiu sobre os conteúdos criados por quem participa diariamente na edição da página, em entrevistas 218 A. Caiado, V. Ferreira, M. Cardina | Regressos da guerra semiestruturadas realizadas aos principais editores do blogue e foi complementada pela consulta de outras fontes relevantes, nomeadamente notícias e testemunhos publicados em livro. Como este artigo procurará demonstrar, os discursos dos blogues – especificamente aqueles produzidos no âmbito do blogue LGCG – são influenciados pelas representações públicas dominantes sobre a guerra, mas também fazem parte de um processo comunitário de criação de narrativas individuais partilhadas e reconfiguradas em grupo. São memórias que se desenvolvem nos interstícios das memórias individuais e da memória pública, alavancando uma narrativa difusa sobre o que foi a guerra a partir de episódios (re)contados, discussões, recensões, poemas, evocações biográficas, fotografias de convívios e historiografia amadora. Também a monumentalização da memória de guerra constitui um processo de representação de experiências de guerra, coletivas ou individuais, que são partilhadas e reconfiguradas em grupo. É um processo essencialmente promovido pelas comunidades de antigos combatentes, com o apoio da administração local. As principais leituras e dinâmicas de representação dos monumentos alimentam o culto da figura do combatente como herói e várias representações recentes ainda manifestam a permanência de um imaginário imperial. 1. A monumentalização da guerra em Portugal A construção de monumentos evocativos da guerra colonial estende-se ao longo de quase seis décadas, desde o início do conflito até à atualidade. Este fenómeno não é específico do caso português, na medida em que na mesma cronologia se assistiu à construção, noutras antigas potências colonizadoras, de monumentos que evocam guerras de descolonização – travadas por países europeus para impedir a independência das suas colónias –, nomeadamente aqueles relativos às guerras da Argélia (Buettner 2016; Brazzoduro 2019) e da Indochina, em França, mas também nos Países Baixos, relativos à guerra de independência da Indonésia (Buettner 2016). No caso português salienta-se a escala do processo, a agência e capacidade empreendedora dos promotores e o conjunto de representações, discursos memoriais e narrativas visuais sobre a guerra, o império português e os antigos combatentes que os monumentos evocativos da guerra colonial projetam no espaço público. No dealbar do século XXI, o advento de novas tecnologias, equipamentos e técnicas de comunicação e informação, que possibilitaram e catapultaram novas formas de memorialização e comemoração, não só não abrandou o ritmo de construção de monumentos, como, pelo contrário, contribuiu Ler História | 79 | 2021 219 para o seu expressivo crescimento. Fê-lo, ao permitir criar novos espaços de recordação e socialização e o reforço destas comunidades de memória (Pickering e Keightley 2013), onde as sementes dos projetos de edificação destes marcadores de memória são germinadas.2 Até ao final de 2020, detetou-se a existência, em Portugal, de cerca de 415 monumentos,3 a grande maioria deles – cerca de 357 – construídos após o virar do milénio.4 A somar ao número e à velocidade com que estes monumentos foram sendo erguidos, impressiona também a sua dispersão geográfica. Com o objetivo de facilitar a análise e a compreensão das particularidades do fenómeno, distinguem-se três diferentes fases de monumentalização (ver quadro 1), relacionadas com as dinâmicas sociais do processo, as mudanças no ritmo de construção dos monumentos e a diversidade das propostas ","PeriodicalId":38201,"journal":{"name":"Ler Historia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-20","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"1","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Ler Historia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.4000/lerhistoria.9489","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
EN) at the end of the article. Résumé (FR) en fin d’article. A guerra colonial foi sendo marcada, nas últimas décadas, por um conjunto de memorializações seletivas e por estratégias de esquecimento ativo. Em Portugal, o relativo silêncio sobre a guerra, particularmente das suas dimensões mais violentas e do seu carácter colonial, repousou num conjunto multifacetado de fatores. Entre eles deverá constar a própria natureza do Estado Novo, que bloqueou as possibilidades de uma discussão aberta sobre o conflito, o papel dos militares na rutura política do 25 de Abril, bem como a permanência de representações benevolentes sobre 216 A. Caiado, V. Ferreira, M. Cardina | Regressos da guerra o colonialismo na sociedade portuguesa. A esses fatores se poderia ainda associar a dificuldade genérica em verbalizar publicamente fenómenos de violência bélica, de sofrimento e de trauma individuais ou, adicionalmente, o próprio facto de a guerra, essencialmente, se ter realizado em território africano, expurgando o território português das marcas físicas de uma guerra feita “noutro lugar” (Cardina e Martins 2018, 11-16; Cardina 2020). Há cerca de duas décadas, Luís Quintais (2000, 1003-1004) notou como a referência ao trauma abriu caminho para articular a “nossa história recente” com a experiência dos ex-combatentes, permitindo “narrativizar uma história nocturna [sic]”. No final da década de 1990, o estado português reconheceu legalmente o stress pós-traumático de guerra, estendendo o conceito de “deficiente das Forças Armadas” aos portadores de “perturbação psicológica crónica resultante da exposição a fatores traumáticos de stress durante a vida militar” (lei no 46/99, 16 de junho). Pela mesma altura intensificam-se os convívios de antigos combatentes,1 realizados de forma dispersa pelo país, agregando antigos camaradas de armas geralmente do mesmo batalhão ou companhia. No espaço público dá-se, em 1994, a inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar, um imponente monumento instalado em Belém, Lisboa. O monumento tem sido palco de cerimónias evocativas da guerra e de celebração patriótica, com destaque para o Encontro Nacional de Combatentes, que aí se tem realizado anualmente por ocasião do dia nacional, comemorado a 10 de junho. A década de 1990 correspondeu assim a um período de relativo aumento de visibilidade da guerra, marcado sobretudo pela definição da ideia do soldado-vítima – alicerçada na tentativa de os antigos combatentes granjearem maior reconhecimento social e reivindicarem mais apoios sociais ao estado – e pela manutenção da subalternização da natureza colonial da guerra (Loff 2015; Cardina 2016). Mais recentemente, sobretudo a partir dos anos 2000, tem emergido uma maior e mais plural visibilidade do tema, acentuada no campo historiográfico e académico, nas artes performativas, nos documentários (desde logo pelo impacto da série A Guerra, de Joaquim Furtado), na produção testemunhal em suporte escrito ou digital e na contínua proliferação de monumentos, cerimónias e convívios, um pouco por todo o país. Estas 1 Os encontros anuais são quase sempre organizados ao nível da companhia ou do batalhão e reforçam a sociabilidade e a partilha de memórias conjuntas. A título meramente ilustrativo, o número de eventos atingiu em 2014 o recorde de 360, de acordo com dados do Portal dos Veteranos da Guerra do Ultramar (UTW), embora estes números possam pecar por defeito. De acordo com os eventos publicitados neste portal, entre 2006 e 2018 terão sido organizados em média 260 eventos anuais. Ler História | 79 | 2021 217 dimensões configuram modalidades de inscrição memorial predominantemente articuladas com a autoridade do vivido, pulverizadas em termos geográficos e dinamizadas por coletivos de antigos combatentes, por estruturas associativas e pelo poder local. Através destes mecanismos, os antigos combatentes tornam-se também eles agentes do processo de memorialização da guerra, necessariamente dinâmico e moldado pela importância que passou a ser atribuída às narrativas individuais de guerra. As sessões de psicoterapia foram um relevante e primordial contexto de narrativização das experiências de guerra (Quintais 2000), mas não o único. A publicação ficcional e não ficcional, a par da utilização das novas tecnologias de informação e comunicação para narrar estas experiências, abriu novas portas à expressão mnemónica dos antigos combatentes. Apesar de serem promovidos e valorizados sobretudo pelas comunidades de antigos combatentes, às quais se destinam afinal, argumentaremos que não são de todo isentos à institucionalização, à articulação com dinâmicas provenientes do estado ou à capacidade de influir no debate público sobre o tema. A partir de dinâmicas de rememoração individual e de grupo introduzem outras ressignificações e (re)produções mnemónicas do evento que ditou o epílogo do império colonial português. Este artigo procura assim analisar dois dos processos de memorialização desencadeados por esta mudança: os monumentos evocativos da guerra e as representações mnemónicas da guerra no maior blogue de veteranos do país, Luís Graça e Camaradas da Guiné (LGCG). O objetivo passa por compreender as dinâmicas e processos que explicam este “regresso da guerra” e os legados deste passado. Na primeira parte será apresentada a análise diacrónica da evolução do processo de monumentalização. Serão identificadas as principais dinâmicas de construção e tendências de representação, assinalando-se a mudança das propostas escultóricas e iconográficas ao longo do tempo. Este trabalho é baseado na análise semiótica e da epigrafia de monumentos, representações feitas nos media, entrevistas a agentes promotores e análise de um conjunto de fontes que incluem discursos proferidos nas cerimónias de inauguração, memórias descritivas, projetos de arquitetura e notícias. Na segunda parte, a análise estende-se ao impacto e às dinâmicas de produção mnemónica que se desenvolvem no espaço digital da internet em língua portuguesa e às narrativas e representações do passado daí resultantes. Em particular, a evocação de experiências por antigos combatentes e a formação de uma comunidade de memória a partir de blogues. Com esse objetivo, produziu-se uma análise crítica de discurso às publicações do maior blogue coletivo de veteranos da guerra colonial (LGCG). A análise incidiu sobre os conteúdos criados por quem participa diariamente na edição da página, em entrevistas 218 A. Caiado, V. Ferreira, M. Cardina | Regressos da guerra semiestruturadas realizadas aos principais editores do blogue e foi complementada pela consulta de outras fontes relevantes, nomeadamente notícias e testemunhos publicados em livro. Como este artigo procurará demonstrar, os discursos dos blogues – especificamente aqueles produzidos no âmbito do blogue LGCG – são influenciados pelas representações públicas dominantes sobre a guerra, mas também fazem parte de um processo comunitário de criação de narrativas individuais partilhadas e reconfiguradas em grupo. São memórias que se desenvolvem nos interstícios das memórias individuais e da memória pública, alavancando uma narrativa difusa sobre o que foi a guerra a partir de episódios (re)contados, discussões, recensões, poemas, evocações biográficas, fotografias de convívios e historiografia amadora. Também a monumentalização da memória de guerra constitui um processo de representação de experiências de guerra, coletivas ou individuais, que são partilhadas e reconfiguradas em grupo. É um processo essencialmente promovido pelas comunidades de antigos combatentes, com o apoio da administração local. As principais leituras e dinâmicas de representação dos monumentos alimentam o culto da figura do combatente como herói e várias representações recentes ainda manifestam a permanência de um imaginário imperial. 1. A monumentalização da guerra em Portugal A construção de monumentos evocativos da guerra colonial estende-se ao longo de quase seis décadas, desde o início do conflito até à atualidade. Este fenómeno não é específico do caso português, na medida em que na mesma cronologia se assistiu à construção, noutras antigas potências colonizadoras, de monumentos que evocam guerras de descolonização – travadas por países europeus para impedir a independência das suas colónias –, nomeadamente aqueles relativos às guerras da Argélia (Buettner 2016; Brazzoduro 2019) e da Indochina, em França, mas também nos Países Baixos, relativos à guerra de independência da Indonésia (Buettner 2016). No caso português salienta-se a escala do processo, a agência e capacidade empreendedora dos promotores e o conjunto de representações, discursos memoriais e narrativas visuais sobre a guerra, o império português e os antigos combatentes que os monumentos evocativos da guerra colonial projetam no espaço público. No dealbar do século XXI, o advento de novas tecnologias, equipamentos e técnicas de comunicação e informação, que possibilitaram e catapultaram novas formas de memorialização e comemoração, não só não abrandou o ritmo de construção de monumentos, como, pelo contrário, contribuiu Ler História | 79 | 2021 219 para o seu expressivo crescimento. Fê-lo, ao permitir criar novos espaços de recordação e socialização e o reforço destas comunidades de memória (Pickering e Keightley 2013), onde as sementes dos projetos de edificação destes marcadores de memória são germinadas.2 Até ao final de 2020, detetou-se a existência, em Portugal, de cerca de 415 monumentos,3 a grande maioria deles – cerca de 357 – construídos após o virar do milénio.4 A somar ao número e à velocidade com que estes monumentos foram sendo erguidos, impressiona também a sua dispersão geográfica. Com o objetivo de facilitar a análise e a compreensão das particularidades do fenómeno, distinguem-se três diferentes fases de monumentalização (ver quadro 1), relacionadas com as dinâmicas sociais do processo, as mudanças no ritmo de construção dos monumentos e a diversidade das propostas