{"title":"Barreiras ou pontos de inspeção? Ideologias linguísticas sobre migração e o modelo de comunicação moderno-colonial","authors":"Joana Plaza Pinto, Ana Luíza Krüger Dias","doi":"10.22409/gragoata.v28i60.53275","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Neste artigo, apresentamos uma perspectiva crítica sobre regimes metadiscursivos da “barreira linguística” em contextos de mobilidade, discutindo a persistência dos pressupostos de transparência e homogeneidade herdados da razão moderno-colonial sobre nossos modelos de língua e comunicação, em confronto com práticas linguísticas heterogêneas em nossa experiência etnográfica com estudantes migrantes numa universidade pública brasileira. O artigo está dividido em três seções. Inicialmente, discutimos os usos da expressão “barreira linguística” no debate acadêmico sobre línguas e migração, evidenciando sua posição metadiscursiva para justificar ou racionalizar “desentendimentos” ou “problemas de comunicação”. Em seguida, apresentamos como a noção de barreira é articulada enquanto elemento estruturante da comunicação no debate público sobre imigração no Brasil, em notícias e documentos governamentais. Em seguida, analisamos formas metapragmáticas que emergem em interações entre estudantes migrantes participantes da nossa experiência etnográfica, quando elas avaliam e enquadram situações que poderiam ser identificadas como “barreira linguística” nos termos pressupostos pelos debates. Os resultados indicam que formas metapragmáticas que poderiam ser identificadas como “barreira linguística” configuram-se muito mais como “pontos de inspeção linguística”, funcionando como “paradas” interacionais de “checagem”, em que elas e/ou as/os interlocutora/es fazem uso de algum tipo de desencontro do contato linguístico para realizar ações no mundo. Concluímos que as formas interacionais resistem na fronteira da violência do modelo de comunicação moderno, desafiando seus pressupostos, ao mesmo tempo em que são tensionadas pela noção de “barreira linguística” enquanto figuração da governança das línguas e das pessoas em deslocamento ao redor do globo.","PeriodicalId":40605,"journal":{"name":"Gragoata-UFF","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.2000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Gragoata-UFF","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.22409/gragoata.v28i60.53275","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"LANGUAGE & LINGUISTICS","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Neste artigo, apresentamos uma perspectiva crítica sobre regimes metadiscursivos da “barreira linguística” em contextos de mobilidade, discutindo a persistência dos pressupostos de transparência e homogeneidade herdados da razão moderno-colonial sobre nossos modelos de língua e comunicação, em confronto com práticas linguísticas heterogêneas em nossa experiência etnográfica com estudantes migrantes numa universidade pública brasileira. O artigo está dividido em três seções. Inicialmente, discutimos os usos da expressão “barreira linguística” no debate acadêmico sobre línguas e migração, evidenciando sua posição metadiscursiva para justificar ou racionalizar “desentendimentos” ou “problemas de comunicação”. Em seguida, apresentamos como a noção de barreira é articulada enquanto elemento estruturante da comunicação no debate público sobre imigração no Brasil, em notícias e documentos governamentais. Em seguida, analisamos formas metapragmáticas que emergem em interações entre estudantes migrantes participantes da nossa experiência etnográfica, quando elas avaliam e enquadram situações que poderiam ser identificadas como “barreira linguística” nos termos pressupostos pelos debates. Os resultados indicam que formas metapragmáticas que poderiam ser identificadas como “barreira linguística” configuram-se muito mais como “pontos de inspeção linguística”, funcionando como “paradas” interacionais de “checagem”, em que elas e/ou as/os interlocutora/es fazem uso de algum tipo de desencontro do contato linguístico para realizar ações no mundo. Concluímos que as formas interacionais resistem na fronteira da violência do modelo de comunicação moderno, desafiando seus pressupostos, ao mesmo tempo em que são tensionadas pela noção de “barreira linguística” enquanto figuração da governança das línguas e das pessoas em deslocamento ao redor do globo.