{"title":"Poética do 'ser'-com em 'I tu', de Cecília Vicuña: provocações para a tradução do estrangeiro em 'performance'","authors":"Eleonora Frenkel-Barretto","doi":"10.22409/gragoata.v24i49.34105","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este artigo discute um problema para a tradução presente em poéticas caracterizadas pelo hibridismo entre línguas, como uma poética do ser-com, lida em textos de Cecília Vicuña. A tessitura composta pela escritora, em I tu (2004), entre espanhol, inglês, quíchua, guarani, grego e latim, provoca um questionamento sobre a possibilidade de pensar um espaço de suspensão da tradução como transcodificação linguística, dando lugar ao contato entre línguas e culturas heterogêneas, cujas relações hierárquicas e de poder são subvertidas; não se traduziria de uma língua à outra, mas se provocaria a escuta do estrangeiro como dimensão ética. A criação dessa língua “outra”, diversa de todas aquelas que a compõem, é pensada como “heterotopia” (FOUCAULT, 2013), como contraespaço de contestação da homogeneização de línguas no âmbito dos Estados nacionais. Por meio desse texto que se configura como espaço literário, o leitor se traduz em tradutor, buscando a dicção, o timbre e o ritmo das línguas estrangeiras que o compõe. A reflexão leva a pensar as relações entre texto, tradução e performance, desde um grau mínimo, como o da leitura silenciosa (ZUMTHOR, 2007), às performances poéticas de Cecília Vicuña. O texto lido em voz alta e/ou a performance de poesia oral em diversos ambientes ampliam esses espaços de “tradicção” (FLORES e GONÇALVES, 2017), de remissão da letra ao corpo e do corpo à letra, onde, por vezes, a compreensão do texto pode não ser o essencial, e sim a partilha sensível de um tempo de escuta.","PeriodicalId":40605,"journal":{"name":"Gragoata-UFF","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.2000,"publicationDate":"2019-08-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Gragoata-UFF","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.22409/gragoata.v24i49.34105","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"LANGUAGE & LINGUISTICS","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Este artigo discute um problema para a tradução presente em poéticas caracterizadas pelo hibridismo entre línguas, como uma poética do ser-com, lida em textos de Cecília Vicuña. A tessitura composta pela escritora, em I tu (2004), entre espanhol, inglês, quíchua, guarani, grego e latim, provoca um questionamento sobre a possibilidade de pensar um espaço de suspensão da tradução como transcodificação linguística, dando lugar ao contato entre línguas e culturas heterogêneas, cujas relações hierárquicas e de poder são subvertidas; não se traduziria de uma língua à outra, mas se provocaria a escuta do estrangeiro como dimensão ética. A criação dessa língua “outra”, diversa de todas aquelas que a compõem, é pensada como “heterotopia” (FOUCAULT, 2013), como contraespaço de contestação da homogeneização de línguas no âmbito dos Estados nacionais. Por meio desse texto que se configura como espaço literário, o leitor se traduz em tradutor, buscando a dicção, o timbre e o ritmo das línguas estrangeiras que o compõe. A reflexão leva a pensar as relações entre texto, tradução e performance, desde um grau mínimo, como o da leitura silenciosa (ZUMTHOR, 2007), às performances poéticas de Cecília Vicuña. O texto lido em voz alta e/ou a performance de poesia oral em diversos ambientes ampliam esses espaços de “tradicção” (FLORES e GONÇALVES, 2017), de remissão da letra ao corpo e do corpo à letra, onde, por vezes, a compreensão do texto pode não ser o essencial, e sim a partilha sensível de um tempo de escuta.