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Abstract
A relação intrínseca entre a explosão das dívidas externas latino-americanas nos anos 1980 e a generalização do receituário neoliberal no continente é sobejamente conhecida, embora tenha ainda alguns aspectos pouco explorados. Geralmente, atores internacionais de faceta pública como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm seu papel ressaltado. Talvez menos observados, entretanto, estão aparelhos privados de hegemonia que não apenas disseminaram determinadas leituras da crise latino-americana como também propuseram e elaboraram planos de contrarreformas neoliberais junto ao governo estadunidense e ao BM/FMI, organizaram uma ação política de classe voltada para os grandes empresários, principalmente os credores privados norte-americanos e europeus das dívidas, sem excluir parte importante das elites proprietárias latino-americanas. Neste artigo, pretendemos demonstrar de que maneira o Council of the Americas, entidade privada criada por David Rockefeller e associados ainda em 1965, foi um importante lócus de elaboração e difusão ideológica do programa neoliberal para a América Latina. Pretende-se, para isso, analisar detalhadamente relatórios e documentos produzidos por esse aparelho privado de hegemonia, cotejando-os com outras fontes primárias como a imprensa brasileira e estadunidense, documentos de órgãos públicos dos Estados Unidos, como a House of Representatives e os Presidential Archives, entre outros. Nossa conclusão central é a de que a atuação do Council of the Americas, enquanto entidade privada, foi fundamental para o aprofundamento do neoliberalismo na América Latina nesse período essencialmente em seu papel de alinhavar o programa neoliberal de ajustes estruturais junto com setores significativos das classes dominantes latino-americanas.