{"title":"A política das Letras na obra de Luís de Camões / The Politics of Letters in Luís de Camões’ work","authors":"Matheus De Brito","doi":"10.22456/1981-4526.110464","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Os Lusíadas é trivialmente encarado como um épico nacionalista, narrativa “colonialista” que justifica a dominação da África e da Ásia em nome da Fé e do Império. Mas essa recepção tem também suas inflexões históricas. Camões já foi acusado de paganismo, lascívia, vitupério à memória régia, impiedade, má escrita, etc., e até surpreende que já se disse que seu poema “desacredita a Nação Portuguesa”. Lendo atentamente, a montagem d’Os Lusíadas não ignora, por exemplo, a ignomínia do ataque dos marinheiros aos negros da Baía de Santa Helena, nem deixa, para além do velho do Restelo, de acusar a cobiça e ignomínia da mercancia, exprobando o Gama – que é mentiroso, inculto e covarde. O presente artigo oferece algumas coordenadas ético-retóricas para uma compreensão do enlace entre as letras e a política no século XVI, com destaque para a sua figuração na obra de Luís de Camões. Faremos uma leitura de alguns passos d’Os Lusíadas visando a entender dois fundamentais mecanismos de representação que tornam o poema, mais do que um artefato patriótico inócuo, uma particular mensagem: o louvor, como regulativo do “ideal”, e o vitupério, como aplicação a uma situação concreta.","PeriodicalId":38454,"journal":{"name":"Nau Literaria","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"2","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Nau Literaria","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.22456/1981-4526.110464","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"Q4","JCRName":"Arts and Humanities","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Os Lusíadas é trivialmente encarado como um épico nacionalista, narrativa “colonialista” que justifica a dominação da África e da Ásia em nome da Fé e do Império. Mas essa recepção tem também suas inflexões históricas. Camões já foi acusado de paganismo, lascívia, vitupério à memória régia, impiedade, má escrita, etc., e até surpreende que já se disse que seu poema “desacredita a Nação Portuguesa”. Lendo atentamente, a montagem d’Os Lusíadas não ignora, por exemplo, a ignomínia do ataque dos marinheiros aos negros da Baía de Santa Helena, nem deixa, para além do velho do Restelo, de acusar a cobiça e ignomínia da mercancia, exprobando o Gama – que é mentiroso, inculto e covarde. O presente artigo oferece algumas coordenadas ético-retóricas para uma compreensão do enlace entre as letras e a política no século XVI, com destaque para a sua figuração na obra de Luís de Camões. Faremos uma leitura de alguns passos d’Os Lusíadas visando a entender dois fundamentais mecanismos de representação que tornam o poema, mais do que um artefato patriótico inócuo, uma particular mensagem: o louvor, como regulativo do “ideal”, e o vitupério, como aplicação a uma situação concreta.