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Abstract
Este ensaio examina a recepção, trajetória, filosofia e as dimensões estéticas da poética do renomado escritor brasileiro Augusto de Campos dos anos 1950 até o presente. Na contramão das leituras que reduzem Campos ao concretismo, mostro como sua poesia é melhor enquadrada por seu compromisso com a radicalização permanente da linguagem. É o que chamo de abertura “pós-concreta” de Campos para outras artes, poetas e meios de comunicação de massa. Ilustro como a obra de Campos, desde a década de 1960, se caracteriza pelos seguintes motivos: sua ênfase no status liminar, antiliterário da poesia e sua não-conciliação com o campo literário; sua construção de novos protótipos poéticos; seu empenho em conduzir a poesia a um espaço intermédio, interdisciplinar, fundindo o verbal com o não-verbal; sua fidelidade à sintaxe gráfica, não-discursiva, analógica e isomórfica do concretismo; e seu esforço de recuperar e reinventar práticas poéticas e artísticas experimentais do passado, de Arnaut Daniel a Stéphane Mallarmé, Ezra Pound, Oswald de Andrade, Vladimir Mayakovsky, James Joyce, E.E. Cummings, Anton Webern, Marcel Duchamp, John Cage e Emily Dickinson. Considero quatro tensões fundamentais em jogo em Campos: entre poética e política, concretismo e outras artes, tradução e criação, e o compromisso de Campos de enfrentar o “risco” da poesia, ou seja, sua aventura nos espaços não-poéticos da era digital e tecnológica. Concluo com uma avaliação da concepção de Campos do poema como um agenciamento polifônico que combina diversos sistemas de signos –– da propaganda, pop e YouTube à música de vanguarda, poesia e pintura. Através da apropriação antiliterária da mídia, o poema renova a fala, a linguagem e a arte propriamente dita para tornar a humanidade mais consciente do ambiente sensorial e político total em que está imersa.