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Abstract
As habilidades físicas e corporais de cães-guia são social e criativamente desenvolvidas por meio das relações entre cães e pessoas que acontecem em diferentes ambientes ao longo dos seus dois primeiros anos de vida. Durante as fases de socialização e treinamento, tanto o organismo do cão quanto a sua qualidade de guia estão se desenvolvendo juntos. O mesmo processo que forma o cão como guia também habilita seres humanos a uma nova identidade social e profissional – a de treinador e instrutor de cães-guia. No artigo apresento uma reflexão etnográfica sobre o processo de formação de cães-guia, uma tecnologia assistiva animal desenvolvida para facilitar a mobilidade da pessoa com deficiência visual. Focando especialmente na fase de treinamento, procuro compreender a trajetória das transformações, o desenrolar dos eventos e as mudanças de movimento que vão tornando certos cães aptos a se “graduarem” como guias. A técnica de guiar é aqui entendida como resultado de uma certa relação entre movimentos e coisas, abarcando ferramentas, corpos humanos e caninos e seus deslocamentos em diferentes ambientes.