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Abstract
A relação entre os homens e o meio ambiente não constitui propriamente um objeto novo na historiografia, mas sem dúvidas é um dos temas que mais tem ganhado relevância e abordagens renovadas últimas décadas. No primeiro tomo de seu célebre O mediterrâneo, publicado em 1949, Fernand Braudel recorreu ao estudo dos espaços físicos, não apenas do mar, mas também do solo, da vegetação, da fauna, do relevo e do clima para contar a história das sociedades instaladas naquela região. De uma natureza entendida como um elemento imóvel, estático, estruturante, a historiografia ulterior deslocou seu olhar às alterações e às dinâmicas ambientais para explicar crises, guerras, a escassez de alimentos, mas também para explicar períodos de desenvolvimento, abundância e paz. Foi em meados dos anos 70 que um conjunto de estudos conhecidos como “história ambiental” inverteu os elementos dessa equação, passando a interrogar não apenas como os fatores naturais definiram a dinâmica das sociedades, mas em que medida as ações humanas foram responsáveis por mudanças no meio ambiente. A forma pela qual rios, floretas, a fauna, o solo e outros recursos naturais foram explorados, todavia, não se deu da mesma maneira em tempos e lugares diferentes. As crenças, normas e tradições compartilhadas por uma sociedade são vetores que explicam como interagimos com o meio ambiente. Tendo em vista a relevâncias dessas questões, este dossiê pretende ser um espaço de discussão para que historiadores, mas também estudiosos de outras áreas que incluem elementos históricos em suas análises, examinem, a partir de diferentes objetos e temporalidades, fatores que mediaram a relação entre humanos e o meio ambiente. Serão também bem-vindos trabalhos que interroguem, de um ponto de vista metodológico, perspectivas e instrumentos adequados e aqueles a serem evitados para se apreender o papel dos processos naturais na dinâmica social e cultural de uma dada sociedade, mas sem desconsiderar que as representações da natureza e os modos de intervenção humana são eles mesmos o resultado de formas de pensar e agir historicamente constituídos.