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Abstract
O presente estudo observa Dora Bruder, de Patrick Modiano, na sua condição de literatura de testemunho, entendendo-se que se trata de um romance que faz uso tanto da memória individual como da coletiva para que ele possa configurar a verdade daquilo que narra e assumir-se como testemunho com valor de arquivo. Para tanto, recorre-se a teorias sobre os tipos de testemunhas, sobretudo a de Agamben. As convenções que Searle estabelece para distinguir a ficção do documento, assim como sua ideia de que a obra literária é produzida por uma intencionalidade, são atreladas ao percurso que Iser define para a recepção pelo leitor-ideal, que parte do gênero para chegar a especificidades de obras. As noções de sedimentação e inovação, de Ricoeur explicam a maneira como o romance assume modos menos convencionados de configuração, que mimetizam o real sem negar sua natureza de gênero ficcional. Assim, o gênero romance pode inovar-se em um subgênero como o romance-de-testemunho, servir à fixação da memória coletiva e ter a intencionalidade que o define reconhecida pelo leitor-ideal, sem recair em categorizações que deixam de observá-lo como arte literária para ver nele apenas o documental.