Lido depois, para ser repensado hoje: O nexo profundo entre Lima Barreto e Osman Lins

Abstract

Os cem anos da morte de Lima Barreto (1922-2022) e os quarenta da escrita de Lima Barreto e o ensaio romanesco, de Osman Lins (1973-2023), é um bom momento para repensar a relação entre esses dois autores e, especificamente, a conexão entre os romances Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá e A rainha dos cárceres da Grécia. Textos críticos existem de muitas naturezas, mas não abundam os que, pensados por romancistas, se detenham a refletir por extenso na arquitetura ficcional da obra de algum grande nome literário do passado (também não é comum na atualidade). Redigido em um tempo breve (em torno de oito meses, segundo noticia Sandra Nitrini), o trabalho de doutoramento de Lins foi publicado em 1976 e por muito tempo ficou de lado. Contabilizado entre os primeiros aportes acadêmicos brasileiros a respeito do tema do espaço literário, e visto o progressivo crescimento da fortuna crítica do escritor pernambucano, era hora de dar sustento a essas relações. Este trabalho tenta estabelecer uma ponte teórica entre o romance de Lima Barreto, o capítulo VII do ensaio de Lins e alguns fragmentos de seu último romance publicado em 1976. São histórias com personagens isoladas; delirantes (a loucura incipiente em um deles, mais radical no do autor mais recente); que se relacionam de um modo particular com o seu espaço; que se desenvolvem em meio a fortes oposições temáticas (vida e morte; juventude e velhice; luta e capitulação; espiritualidade e materialidade; barbárie e beleza); que se veem diante de superposições (figuras e incidentes sobre cenários) e animizações; e também diante de tensões temporais. O tema é longo, mas em desdobramentos futuros será possível ampliar algumas destas notas.