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Abstract
O objetivo deste ensaio fotográfico é entrever intervenções humanas em edifícios verticais, localizados na região central de São Paulo. Essas intervenções apontam em direções divergentes. Por um lado, proprietários que não utilizam seus imóveis ou, nos termos da legislação brasileira, não cumprem a função social da propriedade urbana. Nesse contexto, os edifícios permanecem ociosos, às vezes, por décadas. A ociosidade gera deterioração, que produz um problema urbano, em especial quando o abandono desses grandes volumes edificados se generaliza, como é o caso do centro paulistano, que tem dezenas de imóveis nessas condições no distrito da Sé. Por outro lado, parcelas populacionais pobres, sem renda suficiente para custear o aluguel ou o financiamento de uma unidade habitacional, não conseguem morar com dignidade. Restam poucas opções, sempre precárias, improvisadas e efêmeras, como os cortiços. Perfis populacionais abaixo da linha da pobreza, situados na miséria material, costumam sofrer muita exploração e violência no que tange ao acesso à moradia. Alguns deles se aproximam de movimentos sociais que reivindicam moradia adequada, que têm na ocupação de prédios ociosos/deteriorados uma de suas principais ações, ato de denúncia e protesto. Aqui, a arquitetura se coloca como um registro material das disputas entre a especulação imobiliária de elites econômicas rentistas e a esperança de conseguir um abrigo imediato para permanecer nas proximidades de uma concentração de postos de trabalho. Não é preciso enumerar as qualidades da região central de qualquer metrópole brasileira, cheia de história e cultura, dotada de serviços e equipamentos, de benfeitorias construídas ao longo de gerações, com vultosos investimentos. Por isso, as disputas pelo acesso e permanência ao centro ajudam a esclarecer se as políticas públicas implementadas têm natureza democrática e se a cidadania é exercida de maneira plena.