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Abstract
Desde Poemas da Iara (2008), Eucanaã Ferraz nega-se ao rótulo de poeta para crianças. Sua poesia “censura livre” não demarca temporalmente a infância, pondo entre parênteses a linguagem, a escrita e as palavras. Seu não didatismo intencional requer do adulto, escritor e leitor, a superação das reservas imagéticas da forma escolar, que domesticam o imaginário. Eucanaã afirma que toda a poesia é exigente e que ele não facilita para as crianças, pois facilitar na criação é um equívoco dos sentidos. Autor de Bicho de sete cabeças e outros seres fantásticos (2009), Palhaço macaco passarinho (2010), Água sim (2011) e Em cima daquela serra (2013), Eucanaã explora recursos que despertam o interesse infantil, mesmo quando a voz poética não é a da criança e se volta a temáticas mais exigentes. No artigo, reconhecemos a “pedagogia do olhar”, referida pelo autor acerca de Cada coisa (2016) e a investigamos na sua exclusiva concretização verbal com o intuito de dar a ver uma poética que singulariza o valor da escuta compartilhada para o adensamento da imaginação. Escuta aberta e atenta que exige tanto do olhar quanto do ouvido.