Luiza Arcas Gonçalves, Alice Tung Wan Song, Viviane Mazo Favero Gimenes, Marcello Mihailenko Chaves Magri, Edson Abdala
{"title":"ESPOROTRICOSE CUTÂNEA DISSEMINADA EM RECEPTOR DE TRANSPLANTE DE FÍGADO: UMA INFECÇÃO RARA E DESAFIADORA","authors":"Luiza Arcas Gonçalves, Alice Tung Wan Song, Viviane Mazo Favero Gimenes, Marcello Mihailenko Chaves Magri, Edson Abdala","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103245","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"A esporotricose é uma micose subcutânea negligenciada, geralmente adquirida por inoculação traumática de material contaminado, podendo também ser transmitida por arranhões ou mordidas de gatos infectados. Nas últimas décadas, a transmissão zoonótica do Sporothrix brasiliensis tornou-se a principal forma de infecção no Brasil e está associada a apresentações incomuns da doença. Embora a maioria dos casos de esporotricose afete a pele e o tecido subcutâneo, formas disseminadas e extracutâneas são descritas em imunodeprimidos. Raros casos foram descritos em receptores de transplante de órgãos sólidos, a maioria de rim. O presente trabalho relata um caso de esporotricose em um receptor de transplante de fígado. Paciente, sexo feminino, 57 anos com antecedente de transplante de fígado em 2017 por cirrose alcoólica, em uso de everolimo (nível sérico 5,2 ng/mL) e e tacrolimo (nível sérico 3,2 ng/mL), busca serviço por queixa de lesões eritematosas dolorosas difusas com evolução de duas semanas. Paciente morava em uma fazenda no interior de São Paulo com sua família e animais de estimação, incluindo gatos saudáveis, quando evoluiu com placas eritematosas infiltradas, com centro descamativo, em locais não contíguos, especialmente em membros inferiores e dorso. Em investigação, foi realizada biópsia de pele que identificou infiltrado histiocitário difuso com leveduras na coloração Grocott, com posterior crescimento em cultura de Sporothrix brasiliensis, identificado por PCR. Foi iniciado itraconazol oral, porém paciente apresentou resposta insatisfatória após um mês de tratamento, com disseminação das lesões para face. Foi internada para receber anfotericina B lipossomal 3 mg/kg/dia e após 4 semanas foi de alta com isavuconazol oral. Poucos dias após, paciente necessitou de reinternação, tendo sido mantida com anfotericina B lipossomal pela indisponibilidade de isavuconazol para internados. Paciente apresentou recorrência das lesões, optada pela associação de terbinafina, com evolução satisfatória após. Na alta, a paciente permaneceu com terapia combinada de isavuconazol e terbinafina, com melhora clínica e sem toxicidade nos 6 meses posteriores. No contexto de pacientes imunodeprimidos, a esporotricose é uma condição rara associada a formas mais graves de apresentação e desafios diagnósticos e terapêuticos. Relatamos o caso de uma esporotricose cutânea disseminada em receptor de transplante hepático tardio, com resposta insatisfatória à monoterapia com itraconazol.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"24 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103245","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
A esporotricose é uma micose subcutânea negligenciada, geralmente adquirida por inoculação traumática de material contaminado, podendo também ser transmitida por arranhões ou mordidas de gatos infectados. Nas últimas décadas, a transmissão zoonótica do Sporothrix brasiliensis tornou-se a principal forma de infecção no Brasil e está associada a apresentações incomuns da doença. Embora a maioria dos casos de esporotricose afete a pele e o tecido subcutâneo, formas disseminadas e extracutâneas são descritas em imunodeprimidos. Raros casos foram descritos em receptores de transplante de órgãos sólidos, a maioria de rim. O presente trabalho relata um caso de esporotricose em um receptor de transplante de fígado. Paciente, sexo feminino, 57 anos com antecedente de transplante de fígado em 2017 por cirrose alcoólica, em uso de everolimo (nível sérico 5,2 ng/mL) e e tacrolimo (nível sérico 3,2 ng/mL), busca serviço por queixa de lesões eritematosas dolorosas difusas com evolução de duas semanas. Paciente morava em uma fazenda no interior de São Paulo com sua família e animais de estimação, incluindo gatos saudáveis, quando evoluiu com placas eritematosas infiltradas, com centro descamativo, em locais não contíguos, especialmente em membros inferiores e dorso. Em investigação, foi realizada biópsia de pele que identificou infiltrado histiocitário difuso com leveduras na coloração Grocott, com posterior crescimento em cultura de Sporothrix brasiliensis, identificado por PCR. Foi iniciado itraconazol oral, porém paciente apresentou resposta insatisfatória após um mês de tratamento, com disseminação das lesões para face. Foi internada para receber anfotericina B lipossomal 3 mg/kg/dia e após 4 semanas foi de alta com isavuconazol oral. Poucos dias após, paciente necessitou de reinternação, tendo sido mantida com anfotericina B lipossomal pela indisponibilidade de isavuconazol para internados. Paciente apresentou recorrência das lesões, optada pela associação de terbinafina, com evolução satisfatória após. Na alta, a paciente permaneceu com terapia combinada de isavuconazol e terbinafina, com melhora clínica e sem toxicidade nos 6 meses posteriores. No contexto de pacientes imunodeprimidos, a esporotricose é uma condição rara associada a formas mais graves de apresentação e desafios diagnósticos e terapêuticos. Relatamos o caso de uma esporotricose cutânea disseminada em receptor de transplante hepático tardio, com resposta insatisfatória à monoterapia com itraconazol.