TRANSMISSÃO VETORIAL-ORAL DE DOENÇA DE CHAGAS EM LACTENTE DE ÁREA URBANA EM BELÉM, AMAZÔNIA: RELATO DE CASO E DISCUSSÃO DE INOVAÇÕES PARA ESTRATÉGIA PITS EM POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
Ana Yecê das Neves Pinto, Jessica Cristina T. Vasques dos Santos, Marcus Dimitri Pontes de Oliveira, Alan Diego Moura de Farias, Aguinaldo Moura de Freitas
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Abstract
A doença de Chagas aguda no Pará representa um desafio aos órgãos de vigilância e controle se apresentando com uma epidemiologia inusitada e padrões repetitivos de ocorrências acidentais de transmissão predominantemente por via oral quase sempre envolvendo vetores silvestres. Estes, a despeito de não estarem domiciliados, constituem um elo forte da cadeia de transmissão a humanos, seja de forma direta por sua dispersão facilitada por alterações climáticas e ação antrópica ou indireta, e cada vez mais têm se aproximado de populações vulneráveis. Neste relato apresentamos o caso de lactente, residente na capital que entrou em contato com triatomíneo na sacada do apartamento residencial e desenvolveu infecção aguda. No dia 23 de maio/2023, um lactente do sexo masculino de nove meses, residente de área urbana em Belém, foi encontrado pela mãe com um inseto suspeito parcialmente mastigado na boca. No dia 24, a família levou o inseto ao Posto de Informações de Triatomíneos (PIT) do Instituto Evandro Chagas (IEC) e o mesmo foi identificado como um triatomíneo do gênero Rhodnius, porém sem condições para exame de infectividade. A criança estava assintomática e foi submetida ao protocolo de vigilância com coleta de sorologias iniciais, sendo os resultados desta primeira coleta todos negativos. A mãe foi instruída a procurar o serviço caso o lactente apresentasse febre. Em 15 de junho, antes de sua 2ª visita protocolar, o lactente retornou ao IEC apresentando episódios febris há três dias, registrando temperaturas de 38,3°C e 37,5°, sem outros sintomas. Foi submetido a exame parasitológico (gota espessa), confirmando a presença de Trypanosoma cruzi quantificando-se 15 parasitas em 200 campos examinados. O caso foi notificado como Doença de Chagas Aguda e o tratamento específico iniciado imediatamente, com acompanhamento clínico no IEC. Exame ecocardiográfico normal e sorologias sequenciais negativas (sem viragem). Foram desencadeadas ações de busca ativa entomológica em esforço conjunto com a vigilância epidemiológica municipal e não foram encontrados outros insetos. Exames realizados nos contatos familiares todos assintomáticos, tiveram resultados negativos, descartando outras possíveis formas de transmissão. Os autores discutem a aproximação dos insetos às populações vulneráveis e comparam à situações similares de áreas clássicas de transmissão vetorial e, mais recentemente, também na Amazônia em regiões ribeirinhas.