{"title":"Textos e Debates n°14","authors":"Revista Completa","doi":"10.18227/2217-1448ted.v1i14.3444","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Após 13 anos da Revista Textos & Debates ter sido lançada na UFRR eis que apresentamos ao público o primeiro número temático: o Dossiê Guianas. Estando a UFRR localizada em um estado que faz fronteira com dois países, Venezuela e República Cooperativista da Guiana, torna-se importante que o Centro de Ciências Humanas (CCH) e a revista publicada por esse Centro tenham uma preocupação com essa realidade e incentivem as pesquisas e publicações sobre esses países e suas relações. Com esse intuito foi lançada a idéia de dossiês temáticos, sendo este o primeiro de uma série que, esperamos, se consolide como espaço de divulgação dos conhecimentos sobre a região. \nEste número, especificamente, foi discutido a partir do Termo de Cooperação Técnica que estabeleceu parceria entre a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e a UFRR com vistas a criar, no Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais (NAPRI) da UFRR, o Centro de Estudos Brasil-Guiana (CEBRAG) para incentivar o desenvolvimento e elaboração de pesquisas sobre temas direcionados às relações internacionais, política comparada e à história comparada dos dois países. \nÉ importante destacar que as relações Brasil-Guiana representam matéria pouco abordada na literatura cientifica e política de língua portuguesa, tornando a história e o cotidiano guianense algo desconhecido para os brasileiros. Este desconhecimento tem resultado em posturas preconceituosas dos brasileiros em relação aos guianenses e vice-versa. Posturas que serão transcendidas pelo conhecimento resultante de estudos comprometidos com a ética e a ciência, as quais foram reconhecidas na UFRR, instituição que poderá contribuir com análises científicas e informações importantes para esclarecer elementos daquela relação e contribuir com a formulação da Política Exterior do Brasil. \nCom essa compreensão, além do Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais – NAPRI, foi criada uma linha editorial junto à Editora da UFRR, a Coleção Temas Contemporâneos, que atende, igualmente, um conjunto de obrigações dispostas no termo de cooperação técnica entre a FUNAG e a UFRR: consoante o termo, a FUNAG se compromete a doar livros com acento na Diplomacia e Política Exterior do Brasil à UFRR, de autores brasileiros, guianeses e de outras nacionalidades, compreendendo diversas áreas do conhecimento como: Ciência Política, Direito, Economia, História e Relações Internacionais; premiar professores com notório conhecimento nas relações Brasil-Guiana, os quais poderão realizar estudos in loco nesse país, além de financiamento para o desenvolvimento de pesquisas, com repasse anual de até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais). \nA linha editorial permitirá a publicação dos trabalhos acerca das relações Brasil-Guiana, apesar de não se limitar a elas. A Coleção Temas Contemporâneos propõem contemplar assuntos que tratem de problemas situados nos séculos XX e XXI nas mais diversas áreas das Ciências Humanas sobre um mundo dinâmico e com fronteiras flexíveis, desde que tenham rigor metodológico e abordem assuntos internacionais. \nO Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais – NAPRI – surge para abrigar o Centro de Estudos Brasil-Guiana – CEBRAG – e poiar projetos relativos à pesquisa no campo de estudo próprio das Ciências Humanas. O NAPRI conta com cinco linhas de pesquisa para lograr seu objetivo e três categorias de pesquisadores: o Pesquisador-adjunto – professores e pesquisadores da UFRR –, Pesquisador-associado – pesquisadores e professores de outras Instituições – e Pesquisador-colaborador – bolsistas, alunos de graduação e de pós-graduação. As linhas de pesquisa são: a) Política Internacional e Comparada; b) História das Relações Internacionais; c) Globalização, Regionalismo e o Contexto Amazônico; d) Migração, Cultura e Identidade; e) Ordenamento Territorial, Desenvolvimento Urbano e Representações. \nA primeira linha, Política Internacional e Comparada, procura compreender a fenomenologia das relações internacionais com análises da política mundial e do comportamento estatal em perspectiva comparada. História das Relações Internacionais tem por objetivo a leitura das relações internacionais a partir de uma perspectiva histórica. Globalização, Regionalismo e o Contexto Amazônico considera como objeto de estudo os impactos dos processos globais, em especial os político-econômicos, nas diferentes regiões do mundo com foco especial à região amazônica da América do Sul. Migração, Cultura e Identidade apresenta duas abordagens complementares relativas aos processos sociais e aos processos simbólicos dos movimentos migratórios. Ordenamento Territorial, Desenvolvimento Urbano e Representações procura compreender a interação de aspectos econômicos, políticos e sociais nos planos internacional, nacional e regional através da urbanização. \nImbuídos desse espírito de construção e pesquisa, a Revista Texto & Debates, junto com o NAPRI, concordaram na edição do Dossiê Guianas, o qual apresenta estudos e reflexões de estudiosos da UFRR e de outras Instituições sobre o tema. Os artigos contidos na revista apresentam os mais variados vértices de análises dentro do campo das Ciências Humanas e enriquecem a literatura especializada em língua portuguesa sobre as Guianas. \nProvavelmente pela especificidade de fronteira com Roraima, a grande maioria dos textos recebidos são referentes a República Cooperativista da Guiana, sendo que dois abordam o Suriname. Recebemos textos de pesquisadores da UFRR e de outras instituições, ampliando a área de atuação da Revista e cumprindo com seus objetivos de travar uma discussão interdisciplinar. Sobre o Suriname temos o texto de autoria de João Nackle Urt: “Relações Brasil-Suriname: construção de confiança no contexto da guerra fria (1975-1985)”, que trata da evolução dessas relações a partir de 1975, quando foi possível observar manifestações da identidade internacional Surinamesa, bem como a atuação do Brasil nesse processo. O segundo texto sobre esse país é de Carlos Federico Domínguez Ávila, que trata dessas relações no governo de Kraag, enfocando a participação de nosso país na democratização do Suriname dentro do contexto da geopolítica e dos interesses na região. \nOs demais textos apresentam várias discussões sobre a República Cooperativista da Guiana em diferentes enfoques. Assim, o professor José Teixeira Félix traz uma abordagem sobre a literatura guianense, ainda pouco conhecida deste lado da fronteira em “Aspectos da literatura guianense: por uma poética da aproximação internacional”, ampliando a discussão para outros aspectos, incluindo o caráter geopolítico. Ainda nesse campo, a professora Carine do Nascimento Pimentel, em “Roraima Interligando Nações: Brasil e Guiana”, aborda questões relacionadas ao ensino da língua inglesa relacionando-a com a situação de fronteira com um país de língua inglesa e os “mitos existentes sobre a língua inglesa da Guiana”. \nO artigo dos professores Reginaldo Gomes de Oliveira e Maria das Graças Santos Dias Magalhães, “Questão do Pirara: Roraima”, aborda uma temática ainda pouco explorada mas importante para compreensão das relações entre Brasil-Guiana. O texto faz referência ao Pirara, rio da Guiana, e denominou “o processo da disputa de terras e da proposta de definição da fronteira entre Brasil e ex-Guiana Britânica”. \nAinda nessa abordagem histórica de momentos significativos da história da Guiana e suas relações com o Brasil, a professora Mariana Cunha Pereira enfoca a Revolta do Rupununi, conflito armado cujo cenário foi à fronteira Guiana - Brasil em 1969, a partir das “narrativas e oralidade de alguns sujeitos sociais” envolvidos nesse cenário político. \nAlguns desses sujeitos sociais também são enfocados no texto “Ponte da exclusão: Brasil, Guiana e a perversa lógica da globalização” quando os autores, Linoberg Barbosa Almeida e Édio Batista Barbosa relacionam os problemas enfrentados pelos migrantes guianenses à luz de questões mais amplas como globalização, imperialismo, identidade e fronteira. \nAinda nesse enfoque de períodos mais recentes o professor Reginaldo Gomes de Oliveira apresenta uma abordagem sobre um bairro de Georgetown, Bourda, que o autor chama de “Little Brazil” devido a concentração de brasileiros nesse espaço e às relações sócio-culturais que se estabelecem e permitem situações de conflitos e de interação. \nPor fim, temos o texto do professor Felipe Kern Moreira, sobre a tutela da floresta de Iwokrama na República da Guiana. O autor busca, à luz dos discursos teóricos em Relações Internacionais, compreender o fato de que um grupo de investidores, no primeiro semestre de 2008, reunido sob a personalidade jurídica da empresa Canopy Capital, negocia diretamente com a República da Guiana para assumir a tutela e o manejo ambiental da Floresta de Iwokrama. \nEsperamos estar contribuindo para ampliar a divulgação de conhecimentos sobre essa região, ainda tão pouco explorada, pois temos clareza de que esse é o caminho para a extinção de todas as formas de preconceito e de estabelecimento de relações solidárias entre esses países.","PeriodicalId":344650,"journal":{"name":"Textos e Debates","volume":"76 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2016-05-10","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Textos e Debates","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.18227/2217-1448ted.v1i14.3444","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Após 13 anos da Revista Textos & Debates ter sido lançada na UFRR eis que apresentamos ao público o primeiro número temático: o Dossiê Guianas. Estando a UFRR localizada em um estado que faz fronteira com dois países, Venezuela e República Cooperativista da Guiana, torna-se importante que o Centro de Ciências Humanas (CCH) e a revista publicada por esse Centro tenham uma preocupação com essa realidade e incentivem as pesquisas e publicações sobre esses países e suas relações. Com esse intuito foi lançada a idéia de dossiês temáticos, sendo este o primeiro de uma série que, esperamos, se consolide como espaço de divulgação dos conhecimentos sobre a região.
Este número, especificamente, foi discutido a partir do Termo de Cooperação Técnica que estabeleceu parceria entre a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e a UFRR com vistas a criar, no Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais (NAPRI) da UFRR, o Centro de Estudos Brasil-Guiana (CEBRAG) para incentivar o desenvolvimento e elaboração de pesquisas sobre temas direcionados às relações internacionais, política comparada e à história comparada dos dois países.
É importante destacar que as relações Brasil-Guiana representam matéria pouco abordada na literatura cientifica e política de língua portuguesa, tornando a história e o cotidiano guianense algo desconhecido para os brasileiros. Este desconhecimento tem resultado em posturas preconceituosas dos brasileiros em relação aos guianenses e vice-versa. Posturas que serão transcendidas pelo conhecimento resultante de estudos comprometidos com a ética e a ciência, as quais foram reconhecidas na UFRR, instituição que poderá contribuir com análises científicas e informações importantes para esclarecer elementos daquela relação e contribuir com a formulação da Política Exterior do Brasil.
Com essa compreensão, além do Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais – NAPRI, foi criada uma linha editorial junto à Editora da UFRR, a Coleção Temas Contemporâneos, que atende, igualmente, um conjunto de obrigações dispostas no termo de cooperação técnica entre a FUNAG e a UFRR: consoante o termo, a FUNAG se compromete a doar livros com acento na Diplomacia e Política Exterior do Brasil à UFRR, de autores brasileiros, guianeses e de outras nacionalidades, compreendendo diversas áreas do conhecimento como: Ciência Política, Direito, Economia, História e Relações Internacionais; premiar professores com notório conhecimento nas relações Brasil-Guiana, os quais poderão realizar estudos in loco nesse país, além de financiamento para o desenvolvimento de pesquisas, com repasse anual de até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais).
A linha editorial permitirá a publicação dos trabalhos acerca das relações Brasil-Guiana, apesar de não se limitar a elas. A Coleção Temas Contemporâneos propõem contemplar assuntos que tratem de problemas situados nos séculos XX e XXI nas mais diversas áreas das Ciências Humanas sobre um mundo dinâmico e com fronteiras flexíveis, desde que tenham rigor metodológico e abordem assuntos internacionais.
O Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais – NAPRI – surge para abrigar o Centro de Estudos Brasil-Guiana – CEBRAG – e poiar projetos relativos à pesquisa no campo de estudo próprio das Ciências Humanas. O NAPRI conta com cinco linhas de pesquisa para lograr seu objetivo e três categorias de pesquisadores: o Pesquisador-adjunto – professores e pesquisadores da UFRR –, Pesquisador-associado – pesquisadores e professores de outras Instituições – e Pesquisador-colaborador – bolsistas, alunos de graduação e de pós-graduação. As linhas de pesquisa são: a) Política Internacional e Comparada; b) História das Relações Internacionais; c) Globalização, Regionalismo e o Contexto Amazônico; d) Migração, Cultura e Identidade; e) Ordenamento Territorial, Desenvolvimento Urbano e Representações.
A primeira linha, Política Internacional e Comparada, procura compreender a fenomenologia das relações internacionais com análises da política mundial e do comportamento estatal em perspectiva comparada. História das Relações Internacionais tem por objetivo a leitura das relações internacionais a partir de uma perspectiva histórica. Globalização, Regionalismo e o Contexto Amazônico considera como objeto de estudo os impactos dos processos globais, em especial os político-econômicos, nas diferentes regiões do mundo com foco especial à região amazônica da América do Sul. Migração, Cultura e Identidade apresenta duas abordagens complementares relativas aos processos sociais e aos processos simbólicos dos movimentos migratórios. Ordenamento Territorial, Desenvolvimento Urbano e Representações procura compreender a interação de aspectos econômicos, políticos e sociais nos planos internacional, nacional e regional através da urbanização.
Imbuídos desse espírito de construção e pesquisa, a Revista Texto & Debates, junto com o NAPRI, concordaram na edição do Dossiê Guianas, o qual apresenta estudos e reflexões de estudiosos da UFRR e de outras Instituições sobre o tema. Os artigos contidos na revista apresentam os mais variados vértices de análises dentro do campo das Ciências Humanas e enriquecem a literatura especializada em língua portuguesa sobre as Guianas.
Provavelmente pela especificidade de fronteira com Roraima, a grande maioria dos textos recebidos são referentes a República Cooperativista da Guiana, sendo que dois abordam o Suriname. Recebemos textos de pesquisadores da UFRR e de outras instituições, ampliando a área de atuação da Revista e cumprindo com seus objetivos de travar uma discussão interdisciplinar. Sobre o Suriname temos o texto de autoria de João Nackle Urt: “Relações Brasil-Suriname: construção de confiança no contexto da guerra fria (1975-1985)”, que trata da evolução dessas relações a partir de 1975, quando foi possível observar manifestações da identidade internacional Surinamesa, bem como a atuação do Brasil nesse processo. O segundo texto sobre esse país é de Carlos Federico Domínguez Ávila, que trata dessas relações no governo de Kraag, enfocando a participação de nosso país na democratização do Suriname dentro do contexto da geopolítica e dos interesses na região.
Os demais textos apresentam várias discussões sobre a República Cooperativista da Guiana em diferentes enfoques. Assim, o professor José Teixeira Félix traz uma abordagem sobre a literatura guianense, ainda pouco conhecida deste lado da fronteira em “Aspectos da literatura guianense: por uma poética da aproximação internacional”, ampliando a discussão para outros aspectos, incluindo o caráter geopolítico. Ainda nesse campo, a professora Carine do Nascimento Pimentel, em “Roraima Interligando Nações: Brasil e Guiana”, aborda questões relacionadas ao ensino da língua inglesa relacionando-a com a situação de fronteira com um país de língua inglesa e os “mitos existentes sobre a língua inglesa da Guiana”.
O artigo dos professores Reginaldo Gomes de Oliveira e Maria das Graças Santos Dias Magalhães, “Questão do Pirara: Roraima”, aborda uma temática ainda pouco explorada mas importante para compreensão das relações entre Brasil-Guiana. O texto faz referência ao Pirara, rio da Guiana, e denominou “o processo da disputa de terras e da proposta de definição da fronteira entre Brasil e ex-Guiana Britânica”.
Ainda nessa abordagem histórica de momentos significativos da história da Guiana e suas relações com o Brasil, a professora Mariana Cunha Pereira enfoca a Revolta do Rupununi, conflito armado cujo cenário foi à fronteira Guiana - Brasil em 1969, a partir das “narrativas e oralidade de alguns sujeitos sociais” envolvidos nesse cenário político.
Alguns desses sujeitos sociais também são enfocados no texto “Ponte da exclusão: Brasil, Guiana e a perversa lógica da globalização” quando os autores, Linoberg Barbosa Almeida e Édio Batista Barbosa relacionam os problemas enfrentados pelos migrantes guianenses à luz de questões mais amplas como globalização, imperialismo, identidade e fronteira.
Ainda nesse enfoque de períodos mais recentes o professor Reginaldo Gomes de Oliveira apresenta uma abordagem sobre um bairro de Georgetown, Bourda, que o autor chama de “Little Brazil” devido a concentração de brasileiros nesse espaço e às relações sócio-culturais que se estabelecem e permitem situações de conflitos e de interação.
Por fim, temos o texto do professor Felipe Kern Moreira, sobre a tutela da floresta de Iwokrama na República da Guiana. O autor busca, à luz dos discursos teóricos em Relações Internacionais, compreender o fato de que um grupo de investidores, no primeiro semestre de 2008, reunido sob a personalidade jurídica da empresa Canopy Capital, negocia diretamente com a República da Guiana para assumir a tutela e o manejo ambiental da Floresta de Iwokrama.
Esperamos estar contribuindo para ampliar a divulgação de conhecimentos sobre essa região, ainda tão pouco explorada, pois temos clareza de que esse é o caminho para a extinção de todas as formas de preconceito e de estabelecimento de relações solidárias entre esses países.