VIAGEM AO CENTRO DA TERRA: REPRESENTAÇÃO DE CIÊNCIA NO LIVRO DE JULES VERNE

Abstract

A pesquisa que deu origem a este artigo objetivou analisar a representação de ciência disseminada pela pedagogia cultural posta em operação na obra Viagem ao centro da Terra, de Jules Verne. Essa obra aborda uma expedição, cheia de referências científicas, históricas e culturais, na qual o renomado professor Otto Lidenbrock e seu sobrinho Axel se enveredam até as entranhas do globo terrestre. Como aporte teórico-metodológico, tomamos como referência, em especial, proposições de Hall, Veiga-Neto, Andrade, Costa, Camozzato e Moura. Ademais, para analisar o material empírico, buscamos inspiração na produção foucaultiana sobre discurso e nas discussões a respeito da natureza da ciência realizadas por Peduzzi e Raicik. Os enunciados recorrentes presentes ao longo da narrativa, que propiciaram identificar como a ciência é representada na obra, foram organizados a partir de três perguntas: “O que é ciência?”, “Como se faz ciência?” e “Quem faz ciência?”. No que se refere à primeira pergunta, percebemos a existência dos enunciados a) a ciência é uma construção coletiva, b) a ciência é uma forma de se obter reconhecimento social e c) a ciência é produtora de verdades absolutas e imutáveis. No tocante à segunda pergunta, os enunciados recorrentes foram os seguintes: a) existe interesse pessoal e competição no fazer científico, b) a ciência parte de questionamentos e hipóteses e c) a ciência é posta à prova por meio da experimentação. No que concerne à terceira pergunta, identificamos os enunciados a) a ciência é executada por homens com características específicas e b) a ciência é realizada por sujeitos com personalidade egocêntrica. A partir da análise empreendida, concluímos que esses enunciados disseminam ensinamentos que nos orientam a compreender a ciência de uma determinada forma. E, partindo das discussões a respeito da natureza da ciência, ainda que exista enunciados bastante problemáticos na obra, é possível dizer que essa forma guarda algumas relações com as concepções contemporâneas a respeito do tema, mesmo que o livro tenha sido publicado pela primeira vez no ano de 1864.