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Abstract
Discorrer sobre a recepção da poesia dramática de William Shakespeare em tradução no Brasil requer um panorama que abranja literatura, cinema e televisão – além do teatro, é claro. E qualquer avaliação, por mais breve que seja, da chegada de Shakespeare entre nós não pode prescindir de referência à história de rebatimentos culturais europeus desde o início do nosso processo de colonização. Embora os portugueses tenham iniciado a colonização já em 1500, teatros e outros tipos de espaços formais para as artes só se tornaram disponíveis nos centros políticos do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Manaus no século XVIII. O domínio e o prestígio dos modelos europeus, principalmente franceses, continuaram após a independência do país, em 1822, quando a aristocracia colonial e proprietários de terras enviavam sua prole para ser educada no exterior, sobretudo na França e na Inglaterra. Desnecessário frisar que a influência das companhias teatrais francesas, italianas e portuguesas que viajavam pelo Brasil foi marcante no século XIX. O estudo seminal de Eugênio Gomes – Shakespeare no Brasil, publicado no Rio de Janeiro pelo Ministério da Educação e Cultura em 1961 – indica que a primeira recepção e transmissão das obras de Shakespeare no país foi teatral e aconteceu no Real Theatro de São João, construído em 1813 por Dom João VI, no Rio de Janeiro, onde o ator-empresário João Caetano dos Santos (1808-1863) se celebrizou encenando Hamlet (primeira apresentação em 1835), Otelo (1837) e Macbeth (1843) e fundando uma companhia teatral inteiramente brasileira. Essas primeiras montagens utilizavam traduções feitas por artistas portugueses, por exemplo Ludovina Soares da Costa (1802-1868), e eram invariavelmente baseadas em adaptações francesas de autoria do poeta, dramaturgo e membro da Academia Francesa de Letras, Jean-François Ducis (1733-1816). Trabalhando com traduções em prosa das peças de Shakespeare, Ducis, que não falava inglês, criou versões adaptadas ao gosto do teatro neoclássico francês, ou seja, observando as unidades de tempo, lugar e ação, bem como a regra da bienséance (decoro, decência, compostura), alterando as peças e modificando seu final.