(Des)governança climática no Estado de Roraima

Marcelo Bedoni
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Não há, ainda, qualquer fórum estadual ou municipal para discutir as mudanças climáticas com a sociedade civil organizada e a academia (ABEMA, 2020a). Mesmo diante da ausência de uma política climática e de fóruns institucionais, o governo do Estado de Roraima aprovou, recentemente, normativas que tangenciam o tema das mudanças climáticas, revelando, no mínimo, que o Estado não é completamente omisso (Decreto nº 29.710-E, 2020; ABEMA, 2020b). O fato, porém, é que o Estado, considerado como um importante ator na governança climática (Giddens, 2010), mostra sinais poucos efetivos no contexto político e geográfico de Roraima. \n            No entanto, a discussão em torno das mudanças climáticas encontra-se presente no Estado, merecendo destaques a atuação dos povos indígenas e as pesquisas elaboradas pela academia. Com relação ao primeiro grupo, é preciso lembrar que o movimento indígena de Roraima é uma das referências no contexto nacional e internacional (Macuxi, 2021). Esse protagonismo ocorre pelo nível organizacional dos povos indígenas, onde pode-se ressaltar o Conselho Indígena de Roraima (CIR), que conta com um departamento ambiental, liderado pela Sinéia Wapichana, que já desenvolve um conjunto de ações pelo clima nas comunidades indígenas (Wapichana, 2020). A academia, por seu turno, vem contribuindo com pesquisas de alto impacto, elaboradas principalmente por pesquisadores da área das ciências ambientais, no entanto, já existe um início de transversalidade em torno das discussões, podendo ser mencionada, como exemplo, uma monografia apresentada no Curso de Direito da Universidade Federal de Roraima (UFRR), sobre a litigância climática (Bedoni, 2021). \n            Diante desse atual cenário em Roraima, surgem discussões necessárias em torno da governança climática, já que de um lado, há um Poder Público pouco interessado no tema, e do outro, existem dois grupos que assumem o protagonismo pela sociedade civil. Porém, ainda existem poucos estudos sobre a governança climática nos entes subnacionais no Brasil, fato que chamou atenção de um grupo de renomados pesquisadores, quais sejam, Marcio Astrini, Gabriela di Giulio, Débora Sotto, Ana Maria Nusdeo e Wagner Costa Ribeiro (Instituto de Estudos Avançados da USP, 2021). Essa constatação se aplica perfeitamente no caso do Estado de Roraima, pois não existe nenhum estudo acerca da governança climática local. \n            Nesse sentido, a presente entrevista é o primeiro trabalho acadêmico que trata da governança climática no Estado de Roraima. Diante da ausência de informações disponibilizadas nos sites oficiais do governo estadual e dos governos municipais, uma pesquisa bibliográfica revela-se como um profundo desafio. Com isso, para inaugurar as pesquisas da governança climática, a entrevista mostrou-se um método efetivo para a colheita de dados, principalmente porque o entrevistado é um dos expoentes da academia, tendo uma vasta experiência local. Reinaldo Imbrozio Barbosa é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e professor no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima (PRONAT/UFRR). 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Abstract

O tema das mudanças climáticas parece que ainda não desembarcou completamente no Estado de Roraima, que fica situado na Região Norte do Brasil, mesmo já sendo possível constatar impactos locais nos ecossistemas, nas cidades e na sociedade. Essa afirmação inicial pode ser sustentada, principalmente, pela ausência de uma política pública para combater as mudanças climáticas, tanto pelo âmbito estadual, como pelos âmbitos municipais. No contexto das políticas estaduais, não existe qualquer insegurança em afirmar que o Estado de Roraima está caminhando em uma direção contrária aos demais Estados brasileiros, já que dos vinte e seis Estados, vinte já instituíram um arcabouço jurídico capaz de iniciar a implementação de uma política climática (Amorim, 2019; Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente [ABEMA], 2020a). Não há, ainda, qualquer fórum estadual ou municipal para discutir as mudanças climáticas com a sociedade civil organizada e a academia (ABEMA, 2020a). Mesmo diante da ausência de uma política climática e de fóruns institucionais, o governo do Estado de Roraima aprovou, recentemente, normativas que tangenciam o tema das mudanças climáticas, revelando, no mínimo, que o Estado não é completamente omisso (Decreto nº 29.710-E, 2020; ABEMA, 2020b). O fato, porém, é que o Estado, considerado como um importante ator na governança climática (Giddens, 2010), mostra sinais poucos efetivos no contexto político e geográfico de Roraima.             No entanto, a discussão em torno das mudanças climáticas encontra-se presente no Estado, merecendo destaques a atuação dos povos indígenas e as pesquisas elaboradas pela academia. Com relação ao primeiro grupo, é preciso lembrar que o movimento indígena de Roraima é uma das referências no contexto nacional e internacional (Macuxi, 2021). Esse protagonismo ocorre pelo nível organizacional dos povos indígenas, onde pode-se ressaltar o Conselho Indígena de Roraima (CIR), que conta com um departamento ambiental, liderado pela Sinéia Wapichana, que já desenvolve um conjunto de ações pelo clima nas comunidades indígenas (Wapichana, 2020). A academia, por seu turno, vem contribuindo com pesquisas de alto impacto, elaboradas principalmente por pesquisadores da área das ciências ambientais, no entanto, já existe um início de transversalidade em torno das discussões, podendo ser mencionada, como exemplo, uma monografia apresentada no Curso de Direito da Universidade Federal de Roraima (UFRR), sobre a litigância climática (Bedoni, 2021).             Diante desse atual cenário em Roraima, surgem discussões necessárias em torno da governança climática, já que de um lado, há um Poder Público pouco interessado no tema, e do outro, existem dois grupos que assumem o protagonismo pela sociedade civil. Porém, ainda existem poucos estudos sobre a governança climática nos entes subnacionais no Brasil, fato que chamou atenção de um grupo de renomados pesquisadores, quais sejam, Marcio Astrini, Gabriela di Giulio, Débora Sotto, Ana Maria Nusdeo e Wagner Costa Ribeiro (Instituto de Estudos Avançados da USP, 2021). Essa constatação se aplica perfeitamente no caso do Estado de Roraima, pois não existe nenhum estudo acerca da governança climática local.             Nesse sentido, a presente entrevista é o primeiro trabalho acadêmico que trata da governança climática no Estado de Roraima. Diante da ausência de informações disponibilizadas nos sites oficiais do governo estadual e dos governos municipais, uma pesquisa bibliográfica revela-se como um profundo desafio. Com isso, para inaugurar as pesquisas da governança climática, a entrevista mostrou-se um método efetivo para a colheita de dados, principalmente porque o entrevistado é um dos expoentes da academia, tendo uma vasta experiência local. Reinaldo Imbrozio Barbosa é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e professor no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima (PRONAT/UFRR). A entrevista foi realizada no dia 31 de julho de 2021, por meio da plataforma meet, sendo logo em seguida transcrita e resumida, tendo o seguinte teor:
气候变化的主题似乎还没有完全落在巴西北部的罗赖马州,尽管已经有可能观察到当地对生态系统、城市和社会的影响。这一初步声明可以得到支持,主要是因为在州和市层面都缺乏应对气候变化的公共政策。在州政策的背景下,罗赖马州正朝着与巴西其他州相反的方向前进,这并不存在不确定性,因为在26个州中,20个州已经建立了能够开始实施气候政策的法律框架(阿莫里姆,2019;巴西国家环境实体协会[ABEMA], 2020a)。目前还没有州或市论坛与有组织的公民社会和学术界讨论气候变化问题(ABEMA, 2020a)。即使在缺乏气候政策和机构论坛的情况下,罗赖马州政府最近也批准了与气候变化问题相关的法规,至少表明该州并没有完全沉默(法令nº29.710-E, 2020;ABEMA, 2020 b)。然而,事实是,国家被认为是气候治理的重要参与者(Giddens, 2010),在罗赖马的政治和地理背景下几乎没有有效的迹象。然而,关于气候变化的讨论在该州存在,值得强调土著人民的行动和学术界准备的研究。关于第一组,我们必须记住,罗赖马土著运动是国家和国际背景下的参考之一(Macuxi, 2021)。这一角色发生在土著人民的组织层面,罗赖马土著委员会(CIR)有一个环境部门,由sineia Wapichana领导,该部门已经在土著社区制定了一系列气候行动(Wapichana, 2020)。,反过来,到学院提供高影响,主要阐述了研究环境科学领域的研究,但是,已经存在一个早期横切的讨论,可能是被提及,例如,一个保守的联邦大学法学院罗(UFRR),关于气候变化(Bedoni诉讼,2021 ).            鉴于罗赖马目前的情况,围绕气候治理的讨论是必要的,因为一方面,政府对这个问题不感兴趣,另一方面,有两个团体在公民社会中发挥主导作用。然而,关于巴西地方实体气候治理的研究仍然很少,这一事实引起了一群著名研究人员的注意,如Marcio Astrini, Gabriela di Giulio, debora Sotto, Ana Maria Nusdeo和Wagner Costa Ribeiro (USP高级研究所,2021)。这一发现完全适用于罗赖马州,因为没有关于当地气候治理的研究。从这个意义上说,这次采访是关于罗赖马州气候治理的第一部学术著作。在州政府和市政府官方网站上缺乏可用信息的情况下,文献研究被证明是一个深刻的挑战。因此,为了开启气候治理研究,访谈被证明是一种有效的数据收集方法,主要是因为受访者是学术界的代表之一,具有丰富的当地经验。雷纳尔多·英布罗齐奥·巴博萨(Reinaldo Imbrozio Barbosa)是亚马逊国家研究所(INPA)的研究员,也是罗赖马联邦大学(PRONAT/UFRR)自然资源研究生项目的教授。访谈于2021年7月31日通过meet平台进行,随后进行转录和总结,内容如下:
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