Maria Falkembach, Claudio Baptista Carle, Eloisa Leite Domenice
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Abstract
Este trabalho apresenta um ensaio etnográfico sobre a experiência de um concurso público para docente efetivo em danças afro-brasileiras ocorrido em universidade federal do sul do Brasil. O texto busca narrar a singularidade do evento, que tornou evidente o choque epistemológico entre os saberes forjados em cultura afrocentrada e o conhecimento acadêmico eurocêntrico colonizador. Apresenta o modo como a banca de avaliação, constituída pelos(as) autores(as) do texto, construiu meios para manter uma postura anti-racista dentro de um sistema estruturalmente racista. O ensaio toma as perspectivas dos Estudos da Performance e da Exunêutica, para descrever as performances dos(as) candidatos(as) e as práticas em danças afro-brasileiras, cuja lógica destoa profundamente das danças acadêmicas, assentadas em modelos racionalistas de sistematização e difusão. Dentre esses princípios, identificou-se que a conexão com a ancestralidade é um dos elementos basilares da perspectiva afrocentrada. A escrita explicita o concurso como encruzilhada, na qual a banca construiu uma conduta em que os papeis de etnógrafos(as) e avaliadores(as) se sobrepunham, na medida em que o exercício de escuta e de definição de critérios se teciam. O artigo conclui que este concurso constituiu-se numa situação exemplar em que os critérios acadêmicos precisaram ser readequados para acolher a epistemodiversidade.