{"title":"Quando a morte encontra as línguas, elas estão vivas","authors":"V. Barzotto, Sheila Perina de Souza","doi":"10.36551/2081-1160.2022.30.177-188","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este artigo objetiva refletir sobre os atentados à vida das línguas africanas, que vivenciaram a colonização, por meio das atitudes linguísticas frente a elas no período colonial e na atualidade. Discutimos a metáfora de morte direcionada às línguas, utilizamo-nos do conceito de necropolítica aplicado à língua, discorremos sobre o direito de matar estendido às línguas africanas na sociedade colonial e, especificamente, refletimos sobre os atentados à vida das línguas, lançando um olhar para as atitudes linguísticas frente ao kimbundu, língua de Angola. Diante das análises, observamos duas atitudes linguísticas: a) Ausência de nomeação e especificação da língua a que pertence o vocabulário em kimbundu; e b) Tratamento diferenciado entre as línguas europeias e africanas. Consideramos que essas atitudes linguísticas são oriundas de discursos pertencentes à mesma formação discursiva colonial, e atentam contra a vida das línguas africanas ainda hoje. Observamos uma certa limitação do uso dessas línguas em relação às línguas de origem europeias. Consideramos que no âmbito da linguagem, a necropolítica na colônia era pautada pelo desejo de morte social das línguas africanas expresso por meio de leis que proibiam o seu uso. Hoje as ações necropolíticas também podem ser expressas pelas atitudes que buscam circunscrever as línguas africanas a espaços específicos, atribuindo menor valor social quando comparadas às línguas europeias. Apesar das diferentes ações necropolíticas vivenciadas desde o período colonial, as línguas africanas seguem vivas.","PeriodicalId":215221,"journal":{"name":"Revista del CESLA: International Latin American Studies Review","volume":"28 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-12-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista del CESLA: International Latin American Studies Review","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.36551/2081-1160.2022.30.177-188","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Este artigo objetiva refletir sobre os atentados à vida das línguas africanas, que vivenciaram a colonização, por meio das atitudes linguísticas frente a elas no período colonial e na atualidade. Discutimos a metáfora de morte direcionada às línguas, utilizamo-nos do conceito de necropolítica aplicado à língua, discorremos sobre o direito de matar estendido às línguas africanas na sociedade colonial e, especificamente, refletimos sobre os atentados à vida das línguas, lançando um olhar para as atitudes linguísticas frente ao kimbundu, língua de Angola. Diante das análises, observamos duas atitudes linguísticas: a) Ausência de nomeação e especificação da língua a que pertence o vocabulário em kimbundu; e b) Tratamento diferenciado entre as línguas europeias e africanas. Consideramos que essas atitudes linguísticas são oriundas de discursos pertencentes à mesma formação discursiva colonial, e atentam contra a vida das línguas africanas ainda hoje. Observamos uma certa limitação do uso dessas línguas em relação às línguas de origem europeias. Consideramos que no âmbito da linguagem, a necropolítica na colônia era pautada pelo desejo de morte social das línguas africanas expresso por meio de leis que proibiam o seu uso. Hoje as ações necropolíticas também podem ser expressas pelas atitudes que buscam circunscrever as línguas africanas a espaços específicos, atribuindo menor valor social quando comparadas às línguas europeias. Apesar das diferentes ações necropolíticas vivenciadas desde o período colonial, as línguas africanas seguem vivas.