{"title":"Caribé: bebida que dá sustança ao corpo e alma cabocla","authors":"De Nazaré Brito Picanço","doi":"10.51359/2526-3781.2020.245810","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Considero que a cozinha não se reduz apenas a um lugar de produção de alimentos, mas em espaço de discussão e elaboração de sociabilidades, emoções e identidades. É nesse contexto que situo a cozinha regional cabocla como expressão da mestiçagem que é própria da sociedade brasileira, em particular no contexto amazônico e paraense. Assim, penso na cozinha regional cabocla como a paisagem que descreve e fala sobre as idiossincrasias materiais e simbólicas que compõem os territórios brasileiros amazônico e paraense, e que resulta de um conjunto de saberes, fazeres e sabores que derivam ora da pesca artesanal, ora da agricultura familiar e ora das frutas e raízes silvestres da Amazônia. Diz respeito então, a um jeito singular de coletar, produzir, preparar, comer e viver, que é próprio dos homens e das mulheres que habitam no meio rural e nas cidades do estado do Pará.Portanto, é no contexto dessa cozinha regional cabocla que situo o caribé, que é um alimento líquido, cujo ingrediente primeiro é a farinha de mandioca.Assim, o caribé constitui-se em um recurso alimentar historicamente inventado pelos caboclos da Amazônia paraense que atribuem ao alimento carga curativa, sendo capaz então, de fortificar, sustentar e restabelecer aqueles sujeitos que por ventura tenham sido acometidos por alguma enfermidade. Convém aqui registrar, que apesar da importância desse alimento para o povo caboclo, não há registros escritos sobre os modos de fazê-lo, sua receita habita apenas nas memórias das caboclas e dos caboclos. Assim, o saber fazer o caribé é oralmente ensinado e aprendido de geração a geração.Então, de acordo com os relatos de dona Maria Olinda (que é nativa da comunidade de Araí, situada no meio rural de Augusto Corrêa, e vive há 30 anos em Ananindeua, na região Metropolitana de Belém) a feitura do caribé se processa da seguinte maneira: coloca-se aproximadamente 300ml de água em uma panela ao fogo e, enquanto a água ferve, sobre uma peneira ou um crivo se côa aproximadamente 100g de farinha. O cuí da farinha, ou seja, a farinha de mandioca, fina e peneirada, deve ser colocada de molho por 10 minutos, depois disso a água precisa ser retirada e, mais ou menos, 10 minutos depois o cuí deve ser diluído na água em fervura, de modo que a bebida, ou melhor, o mingau fique o mais aguado possível. Depois disso, em cinco minutos de fervura o caribé estará pronto e deve ser consumido imediatamente, ainda quente.Dito isso, importa saber que na atualidade, particularmente, no contexto das cidades paraenses, o caribé tem se reinventado, quando a ele têm sido agregados outros ingredientes, tais como: alho, sal, margarina ou manteiga, a gosto de quem o faz. Por fim, conforme se pode observar, as imagens deste ensaio etnofotográfico “falam” e “contam” sobre os modos de saber fazer o caribé. A feitura aqui mostrada contou com as habilidades de Daniely Pereira, mediante orientações de dona Maria Olinda, conforme mostrado nas imagens que seguem.","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"74 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2020-08-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"AntHropológicas Visual","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2020.245810","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Considero que a cozinha não se reduz apenas a um lugar de produção de alimentos, mas em espaço de discussão e elaboração de sociabilidades, emoções e identidades. É nesse contexto que situo a cozinha regional cabocla como expressão da mestiçagem que é própria da sociedade brasileira, em particular no contexto amazônico e paraense. Assim, penso na cozinha regional cabocla como a paisagem que descreve e fala sobre as idiossincrasias materiais e simbólicas que compõem os territórios brasileiros amazônico e paraense, e que resulta de um conjunto de saberes, fazeres e sabores que derivam ora da pesca artesanal, ora da agricultura familiar e ora das frutas e raízes silvestres da Amazônia. Diz respeito então, a um jeito singular de coletar, produzir, preparar, comer e viver, que é próprio dos homens e das mulheres que habitam no meio rural e nas cidades do estado do Pará.Portanto, é no contexto dessa cozinha regional cabocla que situo o caribé, que é um alimento líquido, cujo ingrediente primeiro é a farinha de mandioca.Assim, o caribé constitui-se em um recurso alimentar historicamente inventado pelos caboclos da Amazônia paraense que atribuem ao alimento carga curativa, sendo capaz então, de fortificar, sustentar e restabelecer aqueles sujeitos que por ventura tenham sido acometidos por alguma enfermidade. Convém aqui registrar, que apesar da importância desse alimento para o povo caboclo, não há registros escritos sobre os modos de fazê-lo, sua receita habita apenas nas memórias das caboclas e dos caboclos. Assim, o saber fazer o caribé é oralmente ensinado e aprendido de geração a geração.Então, de acordo com os relatos de dona Maria Olinda (que é nativa da comunidade de Araí, situada no meio rural de Augusto Corrêa, e vive há 30 anos em Ananindeua, na região Metropolitana de Belém) a feitura do caribé se processa da seguinte maneira: coloca-se aproximadamente 300ml de água em uma panela ao fogo e, enquanto a água ferve, sobre uma peneira ou um crivo se côa aproximadamente 100g de farinha. O cuí da farinha, ou seja, a farinha de mandioca, fina e peneirada, deve ser colocada de molho por 10 minutos, depois disso a água precisa ser retirada e, mais ou menos, 10 minutos depois o cuí deve ser diluído na água em fervura, de modo que a bebida, ou melhor, o mingau fique o mais aguado possível. Depois disso, em cinco minutos de fervura o caribé estará pronto e deve ser consumido imediatamente, ainda quente.Dito isso, importa saber que na atualidade, particularmente, no contexto das cidades paraenses, o caribé tem se reinventado, quando a ele têm sido agregados outros ingredientes, tais como: alho, sal, margarina ou manteiga, a gosto de quem o faz. Por fim, conforme se pode observar, as imagens deste ensaio etnofotográfico “falam” e “contam” sobre os modos de saber fazer o caribé. A feitura aqui mostrada contou com as habilidades de Daniely Pereira, mediante orientações de dona Maria Olinda, conforme mostrado nas imagens que seguem.
我认为厨房不仅仅是一个生产食物的地方,而是一个讨论和发展社交、情感和身份的空间。正是在这种背景下,我将卡波克拉地区美食作为巴西社会特有的混血儿的一种表达,特别是在亚马逊和para的背景下。这样,想到厨房区域的农村风景描述和谈论人的特质和符号组成。巴西亚马逊地区和国家,和有效的一套下来告诉你,我和口味的小规模的哦,现在家庭农业和野生水果和树根流域。因此,它涉及到一种独特的收集、生产、准备、饮食和生活的方式,这是生活在para州农村地区和城市的男人和女人的特点。因此,在卡波克拉地区美食的背景下,我将caribe放在了这里,这是一种液体食物,其主要成分是木薯粉。因此,caribe是一种食物资源,历史上是由亚马逊para的caboclos发明的,他们认为食物具有治疗作用,因此能够加强、维持和恢复那些可能受到某种疾病影响的人。值得注意的是,尽管这种食物对卡波克洛人很重要,但没有关于制作方法的书面记录,它的食谱只存在于卡波克洛人和卡波克洛人的记忆中。因此,加勒比人的知识是口头传授和代代相传的。据报道的玛丽亚奥林(本地社区的Araí,位于奥古斯都的乡村俱乐部,和30年前住在伯利恒Ananindeua,东北地区的)水虎鱼的生产流程如下:有大约300毫升的水火,锅水沸腾筛子,筛子或如果葡萄牙大约100克面粉。cuí面粉,即已筛面粉,薄的木薯,必须浸泡10分钟,之后水必须赶回去,或多或少,十分钟后的cuí必须被稀释在水里煮,所以酒,或者说,可以把粥得越好。在那之后,在五分钟的煮沸后,caribe就准备好了,应该立即食用,仍然热。话虽如此,重要的是要知道,今天,特别是在para城市的背景下,caribe已经被彻底改造了,当它被添加到其他成分,如大蒜、盐、人造黄油或黄油,以满足制作它的人的口味。最后,正如我们所看到的,这篇民族摄影文章中的图像“谈论”和“讲述”了加勒比地区的知识方式。这里展示的制作依靠Daniely Pereira的技能,通过dona Maria Olinda的指导,如下图所示。