Graziela Morgana Tavares Da Silva, Rafael De Tílio
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Abstract
Os diagnósticos de transtorno do espectro autista aumentaram consideravelmente nos últimos anos e, não raro, sujeitos autistas são considerados por seus familiares como sexualmente infantilizados ou descontrolados – fato este questionado pela psicanálise. O objetivo deste estudo foi investigar discursos de familiares sobre a sexualidade de sujeitos autistas. Participaram desta pesquisa dezesseis entrevistados (dois sujeitos autistas, oito mães, três pais, dois irmãos e um avô de sujeitos autistas) todos inseridos em formatos familiares nucleares cujos relatos foram organizados a partir de uma análise de conteúdo temática e analisados a partir da teoria dos quatro discursos de Lacan. Os principais temas e discursos produzidos pelos participantes foram organizados em eixos temáticos que destacaram: as dúvidas e questionamentos justificados pelos descompassos entre o desenvolvimento psicológico, físico e sexual dos sujeitos autistas; a suposição da imaturidade biológica e das inadequações atitudinais dos sujeitos autistas nas questões sexuais; o reforço dos papéis tradicionais de gênero, delegando às mães os cuidados íntimos dos filhos autistas e delegando aos pais o estímulo pela virilidade dos sujeitos autistas do sexo masculino; mas também – principalmente por parte dos irmãos – a possibilidade de os sujeitos autistas vivenciarem suas sexualidades de maneira autônoma, mesmo que referenciados nos esquemas neurotípicos e heterossexuais. Neste sentido, as tensões entre os discursos do mestre e discurso universitário (que pretendem o controle) e o discurso da psicanálise (que aposta na autonomia/singularidade dos sujeitos autistas no campo da sexualidade) se mostraram os mais evidentes nas entrevistas. Por fim, a teoria lacaniana dos quatro discursos se mostrou propicia para compreender a constituição dos laços sociais que organizam as vivências sexuais dos sujeitos autistas.