ficção como signo-cesta

Lethícia Pinheiro Angelim
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Abstract

O experimento mental como recurso filosófico não é raro ou mesmo recente – podemos pensar no gato de Schrödinger ou na alegoria platônica da caverna. Porém, é incomum que textos ancorados na Filosofia se proponham a analisar objetos ou debater propostas da literatura de ficção, e em especial, da ficção científica. Apressadamente tomada, a relação levantaria um descompasso entre a preocupação filosófica com realidade e verdade e a libertária licença poética da ficção. É como se imaginação filosófica e imaginação criativa não pudessem coexistir. Advogamos justo o oposto disso. Acreditamos que esse descompasso não se sustenta para além da aparência, de uma imposição forçosamente rígida entre realidade e ficção como campos apartados. Este artigo pretende analisar a possibilidade de a ficção científica operar como ferramenta cognitiva capaz não só de simular, mas propor novas dinâmicas para o mundo presente, informando sobre o real. Aproximando o exercício de criar histórias do exercício de pensar realidades alternativas, a ficção científica abre espaço para o questionamento crítico e transformação de nossa própria realidade da vigília, deixando de ser um mero devaneio necessariamente desprovido de agência no mundo. Para tanto, faremos uso de certos aspectos da filosofia semiótica de Charles S. Peirce e de alguns ensaios de Ursula K. Le Guin acerca da ficção científica e da habilidade narrativa. Para Peirce, signos encadeiam-se ininterruptamente em semioses que participam tanto na compreensão do mundo quanto em sua intervenção. Ainda que o exercício da ficção científica possa parecer à primeira vista contraintuitivo ou antinatural, explorar mentalmente novas possibilidades pode render insights preciosos. Peirce institui e valoriza um terceiro modo de pensamento, diferente da lógica vertical da dedução e da indução: a abdução, operação do raciocínio que busca explicar fatos por meio de hipóteses. Poderíamos pensar que a ficção científica muitas vezes se vale de abduções na busca de vislumbrar uma compreensão mais profunda. Insights não simplesmente bons para examinar como seriam situações alternativas, fictícias, mas úteis na necessária tarefa de pôr-se em crítica e transformação contínua do mundo para um lugar melhor. De Ursula Le Guin, examinamos de que modo a habilidade – até onde sabemos – humana de narração fictícia pode ser uma tecnologia de transformação do que é o caso no presente real no qual convivemos. A autora faz uma analogia entre a capacidade de narrar e a cesta: ambas seriam umas das primeiras tecnologias evolutivas de nossa espécie. Cestas e bolsas, histórias e estórias, são artefatos semióticos que armazenam, transportam, reúnem, classificam, alimentam. A ficção como uma cesta e como um signo é uma proposta que alberga e põe em relação não só humanos, mas seres diversos, conectados em semioses mais ou menos próximas, mais ou menos dependentes, mais ou menos perceptíveis; mas nunca, irreais.
小说作为一个标志篮子
思维实验作为一种哲学资源并不罕见,甚至是最近才出现的——我们可以想到schrodinger的猫或柏拉图式的洞穴寓言。然而,以哲学为基础的文本很少提出分析对象或讨论小说文学,特别是科幻小说的建议。这种关系会在对现实和真理的哲学关注与小说的自由意志主义诗意许可之间产生不匹配。就好像哲学想象力和创造性想象力不能共存一样。我们所提倡的恰恰相反。我们认为,这种不匹配不能超越表象,也不能超越现实和虚构之间作为分离领域的严格强加。本文旨在分析科幻小说作为一种认知工具的可能性,不仅能够模拟,而且能够为当前世界提出新的动态,告知真实世界。将创造故事的练习与思考替代现实的练习相结合,科幻小说为批判性的质疑和转变我们自己的清醒现实打开了空间,不再仅仅是一个在世界上必然缺乏代理的白日梦。为此,我们将利用查尔斯·s·皮尔斯的符号学哲学的某些方面和乌苏拉·k·勒奎恩关于科幻小说和叙事技巧的一些文章。对皮尔斯来说,符号在半分割中不断地联系在一起,这些半分割既参与了对世界的理解,也参与了世界的干预。虽然科幻小说的练习乍一看可能违反直觉或不自然,但在心理上探索新的可能性可以提供宝贵的见解。皮尔斯建立并重视第三种思维模式,它不同于演绎和归纳的垂直逻辑:绑架,一种试图通过假设来解释事实的推理操作。我们可能会认为,科幻小说经常利用绑架来寻求更深层次的理解。这些见解不仅可以用来检查虚构的替代情况,而且在必要的任务中也很有用,即批判性地审视自己,并不断地将世界转变为一个更美好的地方。从乌苏拉·勒奎恩(Ursula Le Guin)开始,我们研究了人类的虚构叙事能力——据我们所知——如何成为一种技术,改变我们生活的现实。作者将叙述能力和篮子进行了类比:这两种技术都是人类最早的进化技术之一。篮子和袋子,故事和故事,是储存、运输、收集、分类和喂养的符号学工艺品。小说作为一个篮子,作为一个标志,是一种提议,它不仅容纳并将人类联系在一起,而且将不同的生物联系在一起,或多或少紧密相连,或多或少依赖,或多或少可感知;但绝不是不真实的。
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