Nota técnica: O caráter estratégico do Agente Comunitário de Saúde na APS integral

Angélica Ferreira Fonseca, M. V. Morosini
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No Brasil, a institucionalização do agente comunitário de saúde (ACS) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) está também relacionada ao processo de ampliação do acesso e à promoção da qualidade na Atenção Primária à Saúde (APS). Transitou de um momento de maior seletividade e focalização, com ações especificamente dirigidas à melhoria de alguns indicadores de saúde e a grupos em situação de pobreza, para um momento posterior, de estruturação de um novo modelo de atenção que se articula incorporando a concepção de determinação social do processo saúde-doença e se organiza e difunde com base na Estratégia Saúde da Família (ESF). \nSua profissionalização tem características pouco consolidadas – propostas de formação e atribuições sujeitas a constantes alterações – o que contribui para que o ACS seja um marcador sensível do sentido que as políticas de saúde assumem no contexto nacional. Em outras palavras, é possível dizer que os ACS expressam mais intensa e rapidamente as tendências que se imprimem ao SUS. É portador das expectativas de um SUS democrático, participativo, integral e universal e de uma grande identificação com a população que atende. Talvez por isso, mesmo em uma conjuntura de poucos recursos e bastante sobrecarga de trabalho, como a pandemia de Covid-19, tem conseguido sustentar práticas de criatividade e resistência produzidas no cotidiano e a partir das relações que mantém no território em que vive e atua. \nA partir de dados de pesquisa e depoimentos disponibilizados no contexto da pandemia, foi possível identificar ações dos ACS, tanto em resposta aos novos desafios enfrentados como para dar continuidade à atenção à saúde das pessoas assistidas. Nós as agrupamos em linhas de atuação que se apresentam no Quadro 1. São elas o acolhimento aos usuários nas unidades de saúde; vigilância comunitária ativa – monitoramento de casos, contatos e suspeitos de COVID-19; apoio à campanha de vacinação contra COVID-19; continuidade do cuidado aos usuários; e articulação e apoio aos movimentos sociais comunitários. Essas ações mobilizam saberes e modos de atuação que os ACS têm desenvolvido e abrangem atividades artísticas, comunicativas com base na educação popular, de mobilização social e integração com movimentos solidários nas comunidades (Rede APS, 2021). \n  \n  \nQuadro 1 - Linhas de ação e atividades dos ACS durante a pandemia \n \n \n \n \nLinhas de ação \n \n \nAtividades \n \n \n \n \nAcolhimento aos usuários nas unidades de saúde \n \n \nOrientação sobre os fluxos de sintomáticos respiratórios e não-sintomáticos. Orientação aos usuários sobre meios de prevenção à COVID-19 e sobre as formas de realização de isolamento nas moradias. \n \n \n \n \nVigilância comunitária ativa - monitoramento de casos, contatos e suspeitos de COVID-19 \n \n \nVisitas peridomiciliares, ligações telefônicas e trocas de mensagens por aplicativo com os usuários. \n  \n \n \n \n \nApoio à campanha de vacinação contra COVID-19 \n \n \nRegistro dos dados das pessoas vacinadas nos postos de vacinação \n \n \n \n \nIdentificação de pessoas com dificuldade de locomoção, idosos e acamados e articulação de estratégias de vacinação em domicílio. \n \n \n \n \nAções para mobilização dos usuários para comparecer à 1ª e 2ª dose vacinação – ligações telefônicas, envio de mensagens por aplicativo, visitas peridomiciliares, inserções em programas das rádios comunitárias etc. \n \n \n \n \nContinuidade do cuidado aos usuários \n \n \nVisitas peridomiciliares, ligações telefônicas e trocas e mensagem por aplicativo com os usuários, inserções em programas de rádio comunitária, elaboração de cartazes afixados nas unidades etc \n \n \n \n \nArticulação e apoio aos movimentos sociais comunitários \n  \n  \n \n \nParticipação na elaboração de ações comunitárias; \nIdentificação de sujeitos em maior risco social e definição de formas de comunicação. \nEngajamento e atuação na realização de ações de apoio social por meio da distribuição de alimentos, materiais de higiene, máscaras \n \n \n \n \n  \nAo mesmo tempo, sua realidade expõe as contradições de um sistema que ampliou acesso à custa da precarização do trabalho. Ainda hoje são praticadas formas de contratação sem os devidos direitos ou com direitos insuficientes, às quais se somam a sobrecarga de atividades, o significativo aumento de tarefas administrativas, o sofrimento psíquico e o desgaste físico. (Santos, Souza e Freitas, 2019; Morosini, 2018; Riquinho et al, 2018) \nNum contexto de crescentes desafios trazidos pelas mudanças nas políticas voltadas para a Atenção Básica (AB)[1] e pelos efeitos da pandemia de Covid-19, faz-se especialmente importante refletir sobre as questões que se apresentam para o trabalho do ACS. Essa reflexão se coloca tanto pela importância estratégica dos ACS para a consolidação da ESF, na perspectiva da APS integral, como pela possibilidade de se compreender melhor como esses desafios se materializam na prática do trabalho na AB. \n  \n[1] As expressões Atenção Primária à Saúde e Atenção Básica à Saúde são utilizadas aqui de modo diferenciado. A primeira refere-se ao campo teórico-metodológico ou à nomenclatura internacional. A segunda designa o desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde no contexto do SUS, em especial às políticas que organizam este âmbito de atenção no Brasil.","PeriodicalId":194411,"journal":{"name":"APS EM REVISTA","volume":"7 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"14","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"APS EM REVISTA","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.14295/aps.v3i3.218","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract

Sumário Executivo Em diferentes países, o trabalhador comunitário de saúde se institui tendo como principal papel viabilizar o acesso a ações de saúde. Outra ideia bastante associada a esse trabalhador é a de tradutor, atuando no duplo sentido do conhecimento técnico e das práticas sanitárias para grupos específicos ou às chamadas comunidades, das quais ele mesmo é um membro; e das particularidades culturais e sociais desses mesmos grupos para os serviços e outros profissionais de saúde. Seu trabalho é dimensionado em função das concepções de saúde, do modelo de atenção e do projeto de sistema de saúde que efetivamente se implantam em cada realidade nacional, em cada conjuntura. No Brasil, a institucionalização do agente comunitário de saúde (ACS) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) está também relacionada ao processo de ampliação do acesso e à promoção da qualidade na Atenção Primária à Saúde (APS). Transitou de um momento de maior seletividade e focalização, com ações especificamente dirigidas à melhoria de alguns indicadores de saúde e a grupos em situação de pobreza, para um momento posterior, de estruturação de um novo modelo de atenção que se articula incorporando a concepção de determinação social do processo saúde-doença e se organiza e difunde com base na Estratégia Saúde da Família (ESF). Sua profissionalização tem características pouco consolidadas – propostas de formação e atribuições sujeitas a constantes alterações – o que contribui para que o ACS seja um marcador sensível do sentido que as políticas de saúde assumem no contexto nacional. Em outras palavras, é possível dizer que os ACS expressam mais intensa e rapidamente as tendências que se imprimem ao SUS. É portador das expectativas de um SUS democrático, participativo, integral e universal e de uma grande identificação com a população que atende. Talvez por isso, mesmo em uma conjuntura de poucos recursos e bastante sobrecarga de trabalho, como a pandemia de Covid-19, tem conseguido sustentar práticas de criatividade e resistência produzidas no cotidiano e a partir das relações que mantém no território em que vive e atua. A partir de dados de pesquisa e depoimentos disponibilizados no contexto da pandemia, foi possível identificar ações dos ACS, tanto em resposta aos novos desafios enfrentados como para dar continuidade à atenção à saúde das pessoas assistidas. Nós as agrupamos em linhas de atuação que se apresentam no Quadro 1. São elas o acolhimento aos usuários nas unidades de saúde; vigilância comunitária ativa – monitoramento de casos, contatos e suspeitos de COVID-19; apoio à campanha de vacinação contra COVID-19; continuidade do cuidado aos usuários; e articulação e apoio aos movimentos sociais comunitários. Essas ações mobilizam saberes e modos de atuação que os ACS têm desenvolvido e abrangem atividades artísticas, comunicativas com base na educação popular, de mobilização social e integração com movimentos solidários nas comunidades (Rede APS, 2021).     Quadro 1 - Linhas de ação e atividades dos ACS durante a pandemia Linhas de ação Atividades Acolhimento aos usuários nas unidades de saúde Orientação sobre os fluxos de sintomáticos respiratórios e não-sintomáticos. Orientação aos usuários sobre meios de prevenção à COVID-19 e sobre as formas de realização de isolamento nas moradias. Vigilância comunitária ativa - monitoramento de casos, contatos e suspeitos de COVID-19 Visitas peridomiciliares, ligações telefônicas e trocas de mensagens por aplicativo com os usuários.   Apoio à campanha de vacinação contra COVID-19 Registro dos dados das pessoas vacinadas nos postos de vacinação Identificação de pessoas com dificuldade de locomoção, idosos e acamados e articulação de estratégias de vacinação em domicílio. Ações para mobilização dos usuários para comparecer à 1ª e 2ª dose vacinação – ligações telefônicas, envio de mensagens por aplicativo, visitas peridomiciliares, inserções em programas das rádios comunitárias etc. Continuidade do cuidado aos usuários Visitas peridomiciliares, ligações telefônicas e trocas e mensagem por aplicativo com os usuários, inserções em programas de rádio comunitária, elaboração de cartazes afixados nas unidades etc Articulação e apoio aos movimentos sociais comunitários     Participação na elaboração de ações comunitárias; Identificação de sujeitos em maior risco social e definição de formas de comunicação. Engajamento e atuação na realização de ações de apoio social por meio da distribuição de alimentos, materiais de higiene, máscaras   Ao mesmo tempo, sua realidade expõe as contradições de um sistema que ampliou acesso à custa da precarização do trabalho. Ainda hoje são praticadas formas de contratação sem os devidos direitos ou com direitos insuficientes, às quais se somam a sobrecarga de atividades, o significativo aumento de tarefas administrativas, o sofrimento psíquico e o desgaste físico. (Santos, Souza e Freitas, 2019; Morosini, 2018; Riquinho et al, 2018) Num contexto de crescentes desafios trazidos pelas mudanças nas políticas voltadas para a Atenção Básica (AB)[1] e pelos efeitos da pandemia de Covid-19, faz-se especialmente importante refletir sobre as questões que se apresentam para o trabalho do ACS. Essa reflexão se coloca tanto pela importância estratégica dos ACS para a consolidação da ESF, na perspectiva da APS integral, como pela possibilidade de se compreender melhor como esses desafios se materializam na prática do trabalho na AB.   [1] As expressões Atenção Primária à Saúde e Atenção Básica à Saúde são utilizadas aqui de modo diferenciado. A primeira refere-se ao campo teórico-metodológico ou à nomenclatura internacional. A segunda designa o desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde no contexto do SUS, em especial às políticas que organizam este âmbito de atenção no Brasil.
技术说明:综合初级保健中社区卫生代理的战略性质
在不同的国家,社区卫生工作者的主要作用是促进获得卫生行动。另一个与这名工人密切相关的想法是翻译,为特定群体或他自己就是其中一员的所谓社区提供技术知识和卫生做法的双重意义;以及这些群体的文化和社会特点,以供服务和其他保健专业人员使用。他们的工作是根据卫生概念、护理模式和卫生系统项目进行调整的,这些概念在每个国家的现实中、在每个情况下有效地实施。在巴西,统一卫生系统内社区卫生代理机构的制度化也与扩大初级卫生保健的获取和提高质量的进程有关。跑到一个更大的选择性和专注度和行为目标,改善健康的一些指标和贫困群体,在稍后的时间,被忽略的一个新模式,注意如果阐明如设计确定的过程是健康和社会组织和传播的基础上健康的家庭策略(槽。它的专业化具有松散的特点——培训建议和任务不断变化——这有助于ACS成为国家范围内卫生政策意义的敏感标志。换句话说,可以说cha更强烈、更快地表达了影响SUS的趋势。它承载着对一个民主、参与、全面和普遍的单一卫生系统的期望,并对它所服务的人口有很大的认同。也许这就是为什么,即使在资源很少和工作超负荷的情况下,如Covid-19大流行,它也能够维持在日常生活中产生的创造力和抵抗实践,以及在它生活和行动的领土上保持的关系。根据在大流行背景下提供的研究数据和证词,有可能确定cha的行动,既应对面临的新挑战,又继续关注被援助人员的健康。我们将它们按行动线分组,如表1所示。它们是卫生单位对使用者的欢迎;积极的社区监测——监测COVID-19病例、接触者和嫌疑人;支持COVID-19疫苗接种运动;对使用者的持续护理;协调和支持社区社会运动。这些行动调动了ACS开发的知识和行动模式,包括基于大众教育、社会动员和社区团结运动融合的艺术和交流活动(APS网络,2021年)。表1 -大流行期间ACS的行动路线和活动行动路线活动欢迎卫生单位用户关于呼吸道症状和非症状流动的指导。向用户介绍预防COVID-19的方法和在住宅中进行隔离的方法。积极的社区监测——监测COVID-19病例、接触者和疑似病例,通过应用程序与用户进行家访、电话和信息交流。支持COVID-19疫苗接种运动在疫苗接种点登记接种者的数据,识别行动不便的人、老年人和卧床病人,并在家中阐明疫苗接种战略。动员用户参加第一次和第二次疫苗接种的行动——电话、通过应用程序发送信息、家访、插入社区广播节目等。对用户的持续护理:家访、电话、与用户的交流和应用信息、插入社区广播节目、在各单位张贴海报等。协调和支持社区社会运动参与社区行动的发展;识别社会风险较高的主体,定义沟通方式。通过分发食物、卫生材料和口罩来开展社会支持行动的参与和行动,同时,他们的现实暴露了一个以工作不稳定为代价扩大获取机会的系统的矛盾。即使在今天,也有一些合同形式没有适当的权利或权利不足,除此之外,还有活动超负荷、行政任务的显著增加、精神痛苦和身体疲惫。 (Santos, Souza和Freitas, 2019;摩罗西尼,2018;Riquinho等人,2018)在初级保健政策变化[1]和Covid-19大流行影响带来日益严峻挑战的背景下,反思ACS工作中出现的问题尤为重要。ACS的战略重要性都是一个优秀的整合,在不完全的可能性,如果更好地理解如何在实践中实现这些挑战的工作在AB。[1]、初级保健健康卫生和基本注意使用这里的不同。第一个是理论方法领域或国际命名法。第二个是在单一卫生系统范围内发展初级卫生保健,特别是在巴西组织这一保健领域的政策。
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