{"title":"«Quero saber se isto é verdade». Romance e crise do comunismo em José Saramago","authors":"Jordi Cerdà Subirachs","doi":"10.7238/dd.v0i10.409828","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O colapso do comunismo na Europa Oriental teve o efeito de um regresso à realidade, um desencanto perante a democracia (Patrick Michel 1999). A obra de José Saramago, militante do PCP, deve ser lida num contexto muito específico em que a euforia revolucionária e patriótica portuguesa foi rapidamente desencantada por um capitalismo triunfante e uma globalização imparável. As lutas pelo reconhecimento das minorias e/ ou periferias culturais são explicitadas no seu romance, bem como na sua intervenção política. Na História do cerco de Lisboa, elementos como o valor da história e da memória, a identidade e a alteridade, ou a verosimilhança poética e a sua componente moral (e de justiça) entram em jogo, tornando-se um revelador ideológico das mudanças que aconteceram no final do século xx. A esquerda defendida por Saramago está comprometida com um princípio de esperança: a sua narrativa mostra-nos que já não é o real que funda o credível, mas o credível que funda o real. Este artigo pretende analisar a narrativa de Saramago sobre este período, dentro da perspetiva da antropologia do crer. \n","PeriodicalId":108848,"journal":{"name":"Dictatorships and Democracies","volume":"23 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-12-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Dictatorships and Democracies","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.7238/dd.v0i10.409828","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
O colapso do comunismo na Europa Oriental teve o efeito de um regresso à realidade, um desencanto perante a democracia (Patrick Michel 1999). A obra de José Saramago, militante do PCP, deve ser lida num contexto muito específico em que a euforia revolucionária e patriótica portuguesa foi rapidamente desencantada por um capitalismo triunfante e uma globalização imparável. As lutas pelo reconhecimento das minorias e/ ou periferias culturais são explicitadas no seu romance, bem como na sua intervenção política. Na História do cerco de Lisboa, elementos como o valor da história e da memória, a identidade e a alteridade, ou a verosimilhança poética e a sua componente moral (e de justiça) entram em jogo, tornando-se um revelador ideológico das mudanças que aconteceram no final do século xx. A esquerda defendida por Saramago está comprometida com um princípio de esperança: a sua narrativa mostra-nos que já não é o real que funda o credível, mas o credível que funda o real. Este artigo pretende analisar a narrativa de Saramago sobre este período, dentro da perspetiva da antropologia do crer.